sábado, 25 de junho de 2016

Presidente do parlamento timorense quer reformar instituição para acelerar trabalho


Díli, 25 jun (Lusa) - O presidente do parlamento timorense, Adérito Hugo da Costa, defende que a reforma daquele órgão, que está a ser estudada, quer acelerar o processo legislativo, promover mais iniciativas legislativas parlamentares e fortalecer as capacidades da instituição.

Em entrevista à Lusa, a primeira alargada desde que foi eleito para o cargo no mês passado, Hugo da Costa, ex-jornalista, diz que essa reforma pretende responder aos desafios que a instituição enfrenta no cumprimento do seu papel de reforço da "política do Estado".

Desafios que atrasam a aprovação de diplomas e limitam a capacidade de iniciativa legislativa própria, deixando 'pendurados' diplomas importantes para a arquitetura do Estado ou o desenvolvimento do país, disse.

"Estamos a avaliar o que se pode mudar e está em curso uma análise para a reforma do parlamento, incluindo alterações à lei orgânica e regimento do Parlamento Nacional. Outra iniciativa é a criação de uma nova unidade jurídica", explicou.

"A ideia é envolver os assessores e os juristas e criar um plano estratégico do PN, procurando projetar o curto, médio e longo prazo da instituição", disse.

Um dos objetivos, acrescentou, é conseguir que o Parlamento Nacional cumpra o seu papel "provocando debates importantes na sociedade" sobre temas que são cruciais para a sociedade timorense, como lei de terras, anticorrupção ou de pensão vitalícia.

Os deputados acabam de aprovar na generalidade um pacote de três leis para terras e propriedades, estão a estudar alterações à lei da pensão vitalícia e de regalias a ex-titulares de cargos públicos e aprovaram um calendário legislativo até final do ano.

"A ideia é dinamizar este trabalho do parlamento focando no processo legislação e não apenas no volume de atividades de fiscalização que são mais vastas", referiu.

Apesar de ter poucas iniciativas legislativas próprias, explicou, o parlamento tem feito o seu trabalho de forma ativa alterando em debates plenários diplomas do Governo, como é o caso da eleição de sucos ou da Comissão Nacional de Eleições.

Falta, sublinhou, concretizar os debates e declarações políticas em "propostas e avanços" legislativos, transformando os debates em diplomas ou outras iniciativas.

Um dos maiores desafios é o uso do português, a base de toda a legislação, mas uma língua que praticamente não é usada nas sessões plenárias e debates políticos.

"Temos que reforçar as capacidades dos técnicos timorenses, que já estão a trabalhar ao lado dos assessores internacionais, capacitando-os no português e no seu uso" explicou, sublinhando que, por isso, continua a ser necessário a assistência técnica de peritos lusófonos, como os que atualmente trabalham no Parlamento Nacional.

Adérito Hugo da Costa defendeu, aliás, que a questão do ensino português tem que ser "verdadeiramente uma política de Estado", solidificando projetos como as escolas de referência, que já existem em todos os municípios e que devem ser alargadas a postos administrativos.

Por isso, admitiu preocupação com aspetos como atrasos nos pagamentos de salários a professores portugueses e timorenses ou a queixas de ameaças, pressões e falta de condições para os professores.

A nível mais amplo, defendeu, deve passar-se de "discussão política, teorias, seminários e debates" a um "verdadeiro movimento nacional" para "o desenvolvimento da língua portuguesa".

"Chegam aqui muitas teorias para adotar aqui nesta nova nação. Vamos ver como correm os resultados desses projetos-piloto, como as línguas maternas. Vamos ver o que se faz depois", disse.

Fonte de preocupação é também o setor judicial, em que a carência de recursos humanos "é muito problemática", sendo necessário reforçar as capacidades e continuar a investir alargadamente.

"Temos que resolver estas questões como Estado, dialogar e procurar soluções que ajudem a reforçar as instituições do Estado", afirmou.

ASP // VM

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