Mais
de três milhões de pessoas votam hoje nas eleições para o Conselho Legislativo
de Hong Kong, sob forte dispositivo de segurança, com pelo menos cinco mil
polícias mobilizados, incluindo junto às assembleias de voto.
No
início da semana, mais de mil polícias participaram num exercício de dois dias,
que incluiu a simulação de motim, com recurso a gás pimenta e gás lacrimogéneo,
segundo imagens difundidas pelas televisões locais.
A
imprensa local noticiou também a vigilância pelas autoridades das páginas de
Facebook e fóruns online de grupos 'localists' (localistas), formados após o
movimento pró-democracia 'Occupy' em 2014, e que advogam uma maior autonomia de
Hong Kong em relação à China e mesmo a independência.
Analistas
veem nas medidas de segurança uma forma de o governo "jogar pelo
seguro", após a desqualificação de candidaturas nestas eleições, e da
radicalização dos protestos em fevereiro, nos primeiros confrontos com a
polícia desde o movimento 'Occupy', em que um agente efetuou dois disparos com
balas reais para o ar.
O
elevado número de candidatos a lugares eleitos pelo voto da população é também
visto por analistas como motivo para o reforço da segurança junto às
assembleias de voto, para evitar altercações.
O
Conselho Legislativo (LegCo) da Região Administrativa Especial chinesa é
composto por 70 lugares, mas apenas 35 resultam de candidaturas apresentadas
individualmente por cidadãos e do voto direto de 3,77 milhões de eleitores, em
cinco círculos eleitorais definidos por áreas geográficas. Estes círculos
eleitorais vão ser disputados por um recorde de 213 candidatos, distribuídos em
84 listas.
Outros
30 lugares são reservados a círculos eleitorais definidos com base em setores
profissionais e corporativos - que vão desde áreas como a agricultura e pescas,
à saúde e direito - que estão divididos em 28 categorias, das quais 18 vão ser
votadas, por apenas 233 mil eleitores.
Há
ainda cinco lugares que são um híbrido dos dois sistemas, com os candidatos a
serem previamente eleitos nas eleições distritais, tendo depois de obter o
apoio de pelo menos 15 conselheiros distritais, antes de finalmente serem
submetidos ao voto de quase todos os eleitores, menos os que votam nos círculos
profissionais e corporativos.
As
eleições de hoje deverão manter a maioria das forças pró-Pequim no parlamento,
mas também o poder de veto da ala pró-democracia, sendo marcadas pela renovação
geracional dos dois blocos políticos, e pela disputa de lugares por novos
grupos -- os 'localists'--, apesar da desqualificação dos candidatos
considerados mais radicais.
Estas
são as primeiras eleições depois de revelados os desaparecimentos de cinco
livreiros no final de 2015, um caso que gerou forte contestação popular, com
acusações a Pequim de desrespeito do princípio "Um país, dois
sistemas", ao abrigo do qual Hong Kong e Macau gozam de ampla autonomia.
Além
disso, decorrem numa altura em que permanecem as dúvidas sobre a eventual
recandidatura do chefe do Executivo, Leung Chun-ying, bastante impopular desde
o início do mandato em 2012.
Pequim
chegou a concordar com a eleição do líder de Hong Kong por sufrágio universal,
mas impunha que os "dois ou três" únicos candidatos fossem
previamente aprovados, uma proposta que levou à ocupação das ruas em 2014, e
que acabou chumbada, em junho do ano passado, pelos deputados de Hong Kong.
As
próximas eleições para o cargo de chefe do Executivo são a 26 de março de 2017
e vão decorrer segundo a mesma metodologia. O líder da região administrativa
especial vai continuar a ser escolhido por um comité com 1.200 elementos. Em
2012, Leung Chun-ying foi eleito com apenas 689 votos a favor dos membros deste
comité.
FV
// JMR // LUSA
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