domingo, 5 de maio de 2019

Pouca presença portuguesa no vasto arquipélago indonésio apesar das potencialidades


Jacarta, 05 mai 2019 (Lusa) -- A mais recente marca cultural portuguesa na Indonésia, um rosto gigante de um orangotango, foi esculpida pelo artista português Vhils, no ano passado, nas paredes de um edifício no centro da cidade de Medan, no norte da Sumatra.

Nono artista a juntar-se à campanha "Splash & Burn", para a proteção dos orangotangos da Sumatra, Alexandre Faro é dos poucos portugueses que hoje tem uma marca no vasto arquipélago indonésio.

Apesar da dimensão do país -- o quarto mais populoso do mundo e a 16.ª economia global -- as presenças portuguesas contemporâneas na Indonésia, tanto em termos culturais como económicos, são particularmente reduzidas.

Destacam-se os trabalhos de Alexandra Champalimaud, designer de interiores radicada em Nova Iorque, que estão em dois hotéis de luxo em Jacarta, ou para o equipamento da Vision-Box no terminal 3 do aeroporto da capital.

Alguns produtos já muito internacionalizados -- como o azeite Galo, os sumos da Compal ou vinho do Porto -, começam a aparecer no mercado indonésio, com sinais de outras marcas - Sogrape, Symington, Vicente Faria Vinhos, FIUZA, Casa Santos Lima -- a entrarem no país.

Iluminação orgânica da Serip, alguns negócios da empresa tecnológica Aptoide e pequenas incursões em setores de máquinas e equipamentos, mármores, moda e casa, estão entre os projetos, segundo o AICEP.

Destaque ainda para investimentos de empresas como os grupo de engenharia PCG Profrabil -- no mercado desde 2016 -- e Ferbeck International (no mercado desde 2010), ou a EID, que produz equipamentos e sistemas de comunicações tecnologicamente avançados com contratos no valor de vários milhões de dólares na Indonésia.

Rui Carmo, o quinto embaixador de Portugal em Jacarta, explicou à Lusa que apesar da normalização das relações entre os dois países, o desconhecimento mútuo e as complexidades da própria Indonésia não ajudam, apesar de destacar as oportunidades.

"Há um potencial grande neste país. Basta lembrar que a Indonésia é uma das economias pujantes do Sudeste Asiático, tem um crescimento sustentado ao longo dos anos e há de facto um conjunto de oportunidades que julgo que poderão ser exploradas pelos nossos empresários", disse.

"Não obstante, e há que dizê-lo com toda a franqueza, as condições para concretização de negócio nem sempre são fáceis, há um conjunto de procedimentos que são complexos e que muitas vezes representam algum desconforto para os empresários", explica.

A complexidade, dimensão e competitividade do país obrigam, explica, a que haja um esforço para o conhecimento do mercado, até porque "a realidade é muito mais complexa e dinâmica do que se pode pensar".

"Isto é um mercado muito grande com muitos agentes económicos de diferentes proveniências, com potencialidades diversas, alguns são da zona, outros são de paragens mais distantes, todos num universo bastante competitivo e que obriga a uma atenção permanente quanto às reais potencialidades do mercado indonésio", explica.

Escrevendo numa publicação sobre a Indonésia, Mariana Oom, delegada do AICEP em Jacarta, diz que o afastamento entre os dois países deixou Portugal "atrás de outras economias que têm vindo a consolidar a sua presença no mercado", com uma recuperação que "tem sido aquém do potencial que o país apresenta".

"Está na altura de olhar para este gigante como um mercado de diversificação, sobretudo as empresas mais audazes, capazes de sustentar uma estratégia de penetração no mercado com visão de médio e longo prazo", escreve.

Depois do solavanco da crise financeira asiática de 1997 -- no ano seguinte sairia do poder o ditador Suharto -, a Indonésia viveu nas últimas décadas uma forte expansão, juntando-se às economias com um PIB acima de um bilião de dólares.

Nas últimas duas décadas desde o restabelecimento dos laços diplomáticos com Portugal -- cortados durante 24 anos depois da invasão indonésia de Timor-Leste -, a Indonésia cortou o índice de pobreza em mais de metade e mais que quadruplicou o seu PIB per capita.

Sendo o 27º maior exportador do planeta, a Indonésia alcançou o excedente comercial em 2005, mantendo-se como uma potência em recursos naturais -- incluindo petróleo e gás natural, madeira, borracha e têxteis.

Um poderio económico a que se associa um investimento significativo do Estado que, por exemplo, nos últimos quatro anos avançou com um plano de investimento de mais de 460 mil milhões de dólares.

Só o reforço da geração elétrica, incluindo com energias renováveis, tinha um orçamento geral de 150 mil milhões de dólares até ao final deste ano.

No que toca às relações comerciais com Portugal, e segundo dados do INE a Indonésia tem maior importância como fornecedor do que como cliente, com as exportações portuguesas a somarem apenas 18,3 milhões de euros em 2016, contra 143,4 milhões de euros de importações.

ASP // JH

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