terça-feira, 1 de setembro de 2020

Militares destacados perto de sede de movimento que organiza protesto em Timor-Leste


Díli, 01 set 2020 (Lusa) - O comando das forças armadas timorenses destacou hoje um pequeno contigente de militares para a rua da sede de um movimento que esta semana se quer manifestar contra o Presidente da República, por alegadas violações à Constituição.

Os militares armados foram destacados em três pontos da rua Água da Fonte, nas imediações do palácio do Governo, onde fica a sede do Partido Trabalhista (PT), liderada por Ângela Freitas.

Ângela Freitas é uma das porta-vozes de um recém-criado movimento político que foi ameaçada de prisão pelo comandante das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), o major general Lere Anan Timur, por promover a ação de protesto.

Em declarações à Lusa, Ângela Freitas disse que não iria para já à sede do partido, por estar em diálogo com a polícia nacional e o Ministério Público pelo que considera ser "uma ação de intimidação" do comandante militar.

"Ouvimos as declarações do comandante Lere. Estas ameaças a um civil são um crime. Estamos num país democrático e tenho todo o direito de expressar a minha insatisfação pelo que considero serem violações à Constituição", disse à Lusa.

"Não tenho medo, mas tenho de esperar para falar com as outras autoridades, antes de voltar à sede", acrescentou.

Ângela Freitas considerou que o destacamento de militares em torno da sede do seu partido configura "um comportamento de ditadura com forças militares, que é muito perigoso num país democrático".


O chefe das F-FDTL ameaçou hoje capturar os dirigentes do recém-criado movimento, que pretende manifestar-se esta semana contra o Presidente da República.

Em declarações a jornalistas, horas antes do destacamento de militares para perto da sede do partido, Lere Anan Timur reagiu assim ao protesto que está a ser planeado por um novo grupo timorense que defende a resignação do Presidente da República, considerando que o chefe de Estado não respeitou a Constituição e tem atuado em defesa dos interesses da sua própria força política.

O grupo "Resistência Nacional de Defesa da Justiça e Constituição de Timor-Leste", liderado por Ângela Freitas e Antonio Aitan-Matak, tem a circular uma petição nesse sentido e tem prevista uma "marcha pacífica", já autorizada pela polícia, na próxima sexta-feira.

"O Presidente violou a constituição e deve resignar", disse à Lusa Ângela Freitas, porta-voz do movimento.

O grupo acusa Francisco Guterres Lu-Olo de atuar mais em defesa do seu partido, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), do que em defesa de toda a população, não tendo dado posse a vários membros do maior partido da coligação vencedora das eleições de 2018, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão.

"O Presidente deveria comportar-se como chefe de Estado para todo o povo. Mas em vez disso atuou mais em defesa do partido que lidera", acusou.

"O Presidente da República violou as regras da democracia. Não aceitou a tomada de posse dos principais quadros da CNRT, que era o maior partido da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), que venceu as eleições de 2018", referiu.

Lere Anan Timur considera inaceitáveis as exigências de destituição do Presidente.

"Enquanto veterano de 24 anos da resistência e comandante das F-FDTL, não permito que qualquer grupo ou organização faça uma ação de golpe contra os líderes da resistência", disse Lere Anan Timur, referindo alguns dos nomes históricos como Xanana Gusmão, Taur Matan Ruak (atual primeiro-ministro) ou Francisco Guterres Lu-Olo (Presidente).

Lere Anan Timur disse que o "Governo não deveria receber uma pessoa" como Ângela Freitas, recordando os problemas que o país viveu em 2006.

"Não vou deixar que qualquer pessoa faça a destituição dos meus irmãos que comandaram a guerrilha", disse.

"Se nesta ação pacífica do grupo surgir algum crime, eu próprio vou levar as forças para prender toda a liderança máxima que organizou esta ação. Eu vou mandar prender a Ângela e o Aitahan Matak. Se eles querem destituir os 'katuas' [mais velhos] através de uma manifestação, eu mando as forças atuarem e responsabilizo-me por responder em tribunal e pelos direitos humanos", ameaçou.

Lere Anan Timur acrescentou que o Presidente da República foi eleito pelo voto e que qualquer destituição deve seguir os parâmetros definidos na lei.

Os comentários do líder militar suscitaram comentários críticos nas redes sociais, com várias pessoas a defenderem o direito à manifestação e insistindo que a entidade responsável por controlar este tipo de ações é a polícia, e não as forças armadas.

ASP // VM

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