terça-feira, 14 de março de 2017

António da Conceição, o ainda ministro que quer ser Presidente

Díli, 14 mar (Lusa) - António da Conceição explica que só suspendeu a sua atividade como ministro da Educação timorense "até ao dia 18", quando termina a campanha para as presidenciais, mas mostra-se convicto de que vai ser o próximo chefe de Estado.

Uma convicção, explicou em entrevista à Lusa, que advém do facto de se ver como representante de uma nova geração "preparada para dar continuidade aos sonhos" dos "fundadores da nação que estão a entrar na idade da velhice".

"É importante demonstrar também à geração antiga que a nova geração está preparada para dar continuidade aos sonhos que eles sonharam para este país", sublinhou.

Mostra-se convicto na passagem à segunda volta e afirma que o seu sucesso vai ser o dos líderes históricos, de quem foi seguidor e com quem participou, depois, individualmente e através do Partido Democrático (PD), "na construção da nação" e na viabilização e formação do Governo".

O seu partido, insiste, tem sempre estado empenhado na promoção do diálogo e esta é uma oportunidade de dar continuidade a isso e, assim, "com o apoio de uma nova geração emergente, poder ganhar esta eleição".

Considerado o segundo candidato mais forte - atrás de Francisco Guterres Lu-Olo, que é apoiado pelos dois maiores partidos timorenses, Fretilin e CNRT - António da Conceição apresenta-se como mais do que uma alternativa ao favorito.

Na prática representa uma transição no próprio partido em que, desde o congresso do mês passado, é secretário-geral assumindo formalmente o fim da era do fundador e figura história do PD, Fernando La Sama de Araújo, que morreu em meados de 2015.

António da Conceição, 52 anos, substituiu La Sama como ministro da Educação depois da sua morte e esta ligação especial evidencia-se nos cartazes da campanha com uma imagem de La Sama - ligeiramente ténue a flutuar sobre um nuvem por cima do ombro esquerdo do seu sucessor - a marcar todos os cartazes da campanha.

Num país onde estas questões ainda são importantes e La Sama é o "saudoso" líder da Renetil (a ala juvenil da resistência), acaba por ser igualmente simbólico que António da Conceição tenha tido no sorteio do boletim de voto o mesmo número, o 8, que calhou a La Sama quando este se candidatou à Presidência em 2007.

Natural de Bazartete, mas filho de gentes da ponta leste do país, António da Conceição insiste que é salutar que a sua candidatura seja apoiada por um ou mais partidos, mostrando "a importância e a força do multipartidarismo".

Compromete-se a ser um Presidente, se for eleito, empenhado "na consolidação das instituições do Estado e na promoção do diálogo entre estas instituições", considerando que a separação de poderes não implica que os órgãos de soberania não cooperem.

Considera ser essencial olhar para o passado, recordando os laços com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a comunidade internacional, apoiando o fortalecimento das relações externas, a aposta na adesão à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e uma agenda de contactos externos ampla.

A nível nacional quer fomentar uma agenda de "desenvolvimento equilibrado" que "não pode beneficiar apenas as pessoas das cidades" mas tem que olhar as zonas mais remotas onde a maioria da população vive.

"O Presidente não terá funções executivas diretas mas tem função de advocacia, e pode apelar ao governo para olhar para essas prioridades, porque temos de ver as condições de hoje para preparar o futuro. Se não prepararmos o hoje como poderemos ter futuro melhor", disse.

Sobre os três chefes de Estado desde a independência, Conceição diz que todos o inspiram e que é obrigação do seguinte dar continuidade ao trabalho que já foi feito. Xanana Gusmão "teve que consolidar a independência e apostar na reconciliação, trazendo os timorenses de volta e normalizar as relações com a Indonésia.

Ramos-Horta apostou em "manter a estabilidade do país" e o fortalecimento dos laços com a comunidade internacional e Taur Matan Ruak olho muito para o desenvolvimento do país e como o povo, "que sofreu está a participar nesse desenvolvimento".

Explica que a tensão que possa haver entre as instituições é positiva, mas se não passar a ser "cada uma apostada em manter a sua posição" e se for feito no clima de diálogo "em defesa do interesse nacional".

"Não são apostas de cada instituição. São objetivos comuns para que todos temos de contribuir para melhorar a situação", afirmou.

As eleições presidenciais decorrem a 20 de março e a campanha termina com um debate a oito no dia 17 de março.

ASP // EL - Foto@ António Dasiparu /EPA

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