sexta-feira, 19 de maio de 2017

Lu-Olo, o ex-guerrilheiro que vai ser Presidente da República

Díli, 18 mai (Lusa) - Francisco Guterres Lu-Olo, um dos últimos guerrilheiros a descer das montanhas de Timor-Leste, toma posse sábado como Presidente de República timorense, exatamente 15 anos depois de ele próprio ter proclamado a restauração da República Democrática de Timor-Leste.

Há 15 anos, no mesmo espaço em Tasi Tolu, nos arredores da capital timorense, Lu-Olo, então presidente do Parlamento Nacional teve a honra de declarar o nascimento da primeira Nação do novo milénio.

Presidiu à subida da bandeira do novo Estado e momentos depois, deu posse ao primeiro Presidente pós-restauração, Xanana Gusmão.

Esse foi, porventura, o fim do maior capítulo da vida de Lu-Olo, que nasceu a 07 de setembro de 1954 em Ossú, zona remota de Timor-Leste, no subdistrito de Viqueque, a sudeste de Díli.

Para um homem que passou grande parte da vida a combater soldados indonésios nas montanhas de Timor-Leste - fugiu para o mato pouco depois da invasão indonésia em 1975 e só entregou as armas em 2000 - esta semana parece ter-se fechado um ciclo.

Em primeiro lugar porque foi à terceira vez que conseguiu finalmente ser eleito para a Presidência - perdeu na primeira volta em 2007 e 2012 - mas também porque com a sua tomada de posse é o terceiro líder da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) a assumir o cargo.

Francisco Xavier do Amaral e Nicolau Lobato foram os primeiros presidentes depois da proclamação unilateral da independência, a 07 de dezembro de 1975, com o cargo a ficar vazio até que Lu-Olo deu posse a Xanana Gusmão, em 2002.

Presidente da Assembleia Constituinte entre 15 de setembro de 2001 e 20 de maio de 2002 - quando passa a presidente do Parlamento Nacional - Lu-Olo conclui em 2011 o curso de Direito na Universidade Nacional de Timor Lorosa'e, que começou ainda quando liderava o parlamento.

Quando deixa o cargo de presidente do Parlamento, em junho de 2007, Lu-Olo fica alguns anos afastado de cargos públicos, dedicando-se mais ao partido, até fevereiro de 2014 quando é nomeado presidente da Comissão Preparatória da Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa.

Lu-Olo começou os estudos no Colégio Sta. Teresinha de Ossú, onde completou a 4.ª classe em 1969, ano em que viaja para a capital, onde ingressa no Liceu de Díli, que frequentou até 1973, regressando depois para o Colégio St. Teresinha como monitor escolar, funções que ocupa até 1974 quando a vontade de continuar os estudos o trazem de volta à capital.

Em 1975 aderiu à Fretilin, tornando-se simpatizante deste partido político por ter gostado, diz, do seu programa político, onde se defendia a independência de Timor-Leste e mudanças na vida sociopolítica e económica da população, através de reformas estruturais à herança do sistema colonial português.

Quando se deu a invasão indonésia de Timor-Leste, a 07 dezembro de 1975, Lu-Olo foge para o mato com a população da sua zona, em especial com a juventude de quem desfrutava confiança e amizades profundas.

Une-se ao pelotão comandado por Lino Olkasa e inicia assim a sua vida como combatente pela Fretilin.

Em junho de 1976 é nomeado vice-secretário de Ossú, depois passa a secretário, substituindo outro conterrâneo capturado pelo inimigo durante uma incursão militar.

Após uma primeira reunião do Comité Central da Fretilin (CCF), foi destacado como vice-secretário da Região Leste, ficando mais próximo de Xanana Gusmão.

Um ano depois é nomeado vice-secretário do partido, e em 1978 delegado do Comissariado do Setor na Ponta Leste, entre muitos outros cargos dos quadros médios da Fretilin.

Em 1982 é nomeado adjunto e colocado na Região Centro Leste, onde integra o Comando da 3.ª Companhia da guerrilha, sendo ainda responsável político, um cargo para que é nomeado formalmente em 1984.

Foi em 1987, já com esta dupla função executiva, que Lu-Olo é transferido para a Região Cruzeiro (Same, Manatuto Oeste, Aileu e parte oriental de Dili).

Em 1997 assume a função de secretário da Comissão Diretiva da Fretilin, após a morte por acidente de Konis Santana, assim preenchendo o vazio político da Fretilin na resistência armada.

Como a criação do Conselho Nacional da Resistência Timorense, em 1998, Lu-Olo acumula os cargos de membro do CPN/CNRT, de secretário da Frente Política Interna, membro do Conselho Político Militar na resistência armada e ainda as funções que ocupava no Conselho Presidencial da Fretilin.

O fim da guerra, depois de um quarto de século, permite que Lu-Olo desça das montanhas com as Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (Falintil) para a vila de Aileu, a sul de Díli.

A 26 de novembro de 2000 entrega a sua arma e munições ao Comando das Falintil, desce para Díli onde incentiva a criação da Conferência Nacional da Fretilin, e depois a reorganização das estruturas de base do partido a pensar no Congresso de julho de 2001 em que é eleito presidente.

Após as eleições de 30 de agosto de 2001, que culminou com a vitória da Fretilin, Lu-Olo toma posse como membro da Assembleia Constituinte de Timor-Leste, sendo eleito presidente do órgão.

No sábado passa a ser o sexto Presidente timorense desde a proclamação e o quarto desde a restauração da independência.

ASP // EL

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