Díli,
24 jul (Lusa) - A aparente maior tranquilidade que se sente hoje nas ruas de
Díli contrasta com a intensidade das conversas políticas, agora que se começam
a dar passos para transformar o resultado das legislativas de sábado no VII
Governo constitucional.
Para
todos os partidos, mas especialmente para os mais votados - Fretilin e CNRT,
separados por mil votos -, os próximos dias são essenciais para determinar o futuro
imediato e o ambiente político que vai marcar os próximos cinco anos.
Na
imprensa local este é o único tema em debate, num país que está praticamente
parado há mais de um mês - o Governo e o Parlamento funcionaram, mas a muito
menos que meio gás - e que ainda vai ter de esperar algumas semanas até ter
novos "timoneiros".
Não
há maiorias absolutas e qualquer dos dois mais votados (a Fretilin com 23
lugares e o CNRT com 22) tem condições - se somar pelo menos duas das restantes
três forças que estão também no Parlamento - para poder assumir as rédeas do
VII Governo constitucional.
No
caso da Fretilin, a festa começou cedo - 12 horas antes da contagem fechar -,
com o partido a confiar nos próprios números para garantir que tinha a vitória.
Ao início da noite, o CNRT começou a passar a ideia de que os seus números
contavam o contrário.
Uma
confiança que soava a falso e que não se via nos dirigentes e militantes na
sede onde, ao contrário da música e das luzes na sede da Fretilin, o ambiente
era sombrio e de algum descrédito.
Sabendo
que a margem ia ser curta, a Fretilin manteve a festa até de madrugada.
Celebrações que contrastavam com o nervosismo que Cipriana Pereira, secretária
adjunta da Fretilin, mostrava, na sede do Secretariado Técnico da Administração
Eleitoral (STAE) onde acompanhou, com os jornalistas, o "pingar" da
contagem de Díli.
"Vamos
esperar até ao fim", dizia, cada vez que, com cada centro de votação
completado, se reduzia a vantagem de votos que o partido trazia dos restantes
municípios.
Depois,
já passava das 04:00 da madrugada quando o final total provisório confirmou a
vitória da Fretilin, Cipriana Pereira deixou uma curta mensagem, dizendo à Lusa
que depois de 10 anos na oposição, o partido "assume esta grande
responsabilidade", abrindo "as portas a que todos possam trabalhar
juntos".
"O
mais importante é a estabilidade e a paz", afirmou.
Já
hoje de manhã o ambiente do CNRT mantinha-se de incredulidade. Ninguém queria
assumir ou sequer falar de cenários, explicando que há que ouvir o presidente,
Xanana Gusmão, e depois tomar uma deliberação interna.
Fontes
do partido admitiram à Lusa o mal-estar que se sente e a incredulidade com o
resultado para quem estava tão confiante numa ampla vitória: dirigentes do
partido, incluindo o próprio Xanana Gusmão, prometiam na reta final da campanha
uma maioria absoluta clara. A derrota não fazia sequer parte dos seus planos.
Há
quem diga que tudo depende da conversa "dos velhotes" - Xanana e
Alkatiri. Até ao momento, e segundo confirmaram à Lusa dirigentes dos dois
partidos, Alkatiri e Gusmão ainda não falaram, eventualmente porque há primeiro
que ter diálogos internos.
Mas
há quem faça referências a outro cenário. Uma reedição do que ocorreu há 10
anos quando à vitória por maioria relativa da Fretilin, o CNRT respondeu com
uma coligação com as restantes forças políticas, a Aliança de Maioria
Parlamentar (AMP).
Na
Fretilin tudo indicava que "amanhã [terça-feira] ou quarta-feira" se
reunirá o Comité Central para debater os resultados e ver os passos a seguir,
incluindo as decisões bicudas sobre quem será primeiro-ministro e com quem o
partido pretende negociar apoios.
Alkatiri
disse, no domingo, que estava de braços abertos para todos e em especial para
Xanana Gusmão, pelo que o primeiro cenário poderá ser uma parceria a dois.
Juntos
a Fretilin e o CNRT controlam 45 lugares no Parlamento, mais que suficientes
para aprovar tudo, podendo em muitos casos ter ainda o apoio, pelo menos, do
Partido Democrático (PD) cujo líder, Mariano Sabino, defendeu durante a campanha
um Governo de inclusão.
Depois
de uma intensa campanha de um mês, de um renhido e prolongado processo de
contagem, as próximas 48 horas serão de muitas conversas de bastidores. Delas
sairá o destino imediato da governação de Timor-Leste.
ASP
// EJ
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