Díli, 07 mai (Lusa) - A coligação
da oposição timorense pediu hoje aos órgãos eleitorais que anulem 200 boletins
de voto que deviam ser usados nas eleições legislativas do próximo sábado
porque têm marcas de tinta que podem suscitar a invalidez do voto.
Arão Noé, responsável da comissão
de jurisdição da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), disse aos
jornalistas que a coligação tinha já levado o assunto à atenção da Comissão
Nacional de Eleições (CNE).
"Detetámos que há umas
marcas em alguns boletins de voto, no espaço correspondente ao número 4 [da
Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin)]", disse hoje
em conferência de imprensa.
"A nossa preocupação prende-se
com o facto de que, se esses boletins de voto forem usados no dia 12, e se o
eleitor escolher outro partido ou coligação, o voto pode acabar invalidado
porque tem duas marcas", afirmou.
O responsável da AMP disse que há
informações de outros boletins com problemas idênticos detetados em Baucau.
"Sabemos que isto é marca de
tinta e não de lapiseira e não dizemos que houve qualquer intenção, não temos
provas disso. Só reclamamos porque não queremos que tenha impacto nos
votantes", disse.
A descrição do caso na
conferência de imprensa da AMP foi diferente das acusações que a coligação fez
na sua página no Facebook, em que tenta afirmar que as marcas são intencionais
e pretendem beneficiar a Fretilin.
A formulação na página do
Facebook levou hoje o ministro da Administração Estatal, Valentim Ximenes, a
exigir "respeito" pelos órgãos eleitorais por parte dos partidos
políticos.
Num encontro com observadores
eleitorais, o ministro lamentou a publicação na página oficial da AMP,
afirmando que são acusações graves que têm de ser provadas.
"Este é um estado
democrático e de direito. Digo aos partidos para que colaborem com a CNE e STAE
para verificar tudo isto. E a nível político, como responsável máximo deste
processo, estou disponível para responder a qualquer questão", afirmou.
"Mas não se pode usar a rede
do Facebook para atacar as pessoas e desacreditar o processo. Isto não pode ser
e não é bom deixar passar em branco", disse.
Num briefing para observadores
nacionais e internacionais, Alcino Baris, presidente da Comissão Nacional de
Eleições (CNE) admitiu hoje a dificuldade em controlar o que diz ser
"propaganda falsa" nas redes sociais.
Referindo-se em concreto a este
caso, disse que as acusações pretendem apenas "desacreditar a CNE e o
STAE", explicando que a situação foi resolvida, sem problemas, de acordo
com a lei.
Segundo explicou, quando os
livros foram verificados por responsáveis municipais dos órgãos eleitorais, no
caso em Covalima, foi detetado, em conjunto com fiscais partidários e
observadores que havia marcas de tinta em pelo menos dois livros, de 50
boletins de voto cada.
"Isso foi comprovado no
local. Os boletins foram de imediato carimbados e cancelados. No entanto saiu no
Facebook que aquelas marcas foram feitas para beneficiar o partido
Fretilin", afirmou Baris.
"Não passa de uma tentativa
de desacreditação", disse.
Questionado pela Lusa sobre se a
AMP mantinha a confiança nos órgãos eleitorais, Francisco Kalbuadi Lay o
secretário-geral do CNRT (maior partido da AMP), disse que se trata apenas de
"alertar" para eventuais erros.
"A festa da democracia é
para nos respeitarmos uns aos outros. Mas temos de lembrar uns aos outros se
sentimos que alguma coisa falha", afirmou.
"Isso não quer dizer que não
damos a nossa confiança a CNE ou ao STAE. São órgãos independentes, mas, seja
como for, somos todos humanos e podemos falhar qualquer coisa. E é bom que
antes do dia 12 se lembre a CNE só disto", considerou.
A campanha termina na
quarta-feira e as urnas abrem às 07:00 de sábado (hora local, 23:00 de
sexta-feira em Lisboa).
ASP // FPA
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