quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Angola "desapontada" com pouco empenho brasileiro na agenda económica da CPLP


Díli, 24 fev (Lusa) - A ministra do Comércio angolana manifestou-se hoje desapontada por o Brasil ter mostrado pouco empenho nos encontros da reunião ministerial da CPLP de hoje, em Díli, onde só participou a nível de embaixador e sem assinar a declaração final.

"Talvez falte um pouco mais de empenho. Houve duas reuniões de pontos focais, uma em Lisboa e outra em Luanda e o Brasil também não participou", disse à Lusa Rosa Pacavira, depois da conclusão da 2.ª reunião dos ministros do Comércio da CPLP, em Díli.

"Ficámos um pouco defraudados porque hoje estava o embaixador (do Brasil) mas não veio mandatado para assinar a declaração e mais uma vez o país não se vinculou às decisões que foram tomadas aqui", afirmou.

Rosa Pacavira insistiu que a CPLP tem relações cultuais e linguísticas fortes, mas que deve ser "um bloco económico muito forte, com união e solidariedade" entre todos.

"Mas sentimos que falta alguma coisa. Vamos trabalhar com a equipa brasileira para saber de facto o que se passa. Já na nossa presidência sentimos um afastamento do Brasil", afirmou, considerando que "quando um país que é uma potência se afasta das questões comunitárias não é salutar" para a comunidade.

E ao mesmo tempo recordou que há questões a nível comercial pendentes e que devem ser resolvidas entre todos.

"O Brasil exporta para todos os nossos países. Nós também queremos exportar para o Brasil, Estamos a verificar muitas barreiras comerciais, queremos que haja facilidades de comércio e que estejamos todos em sintonia e harmonia", disse.

Rosa Pacavira disse que o Brasil é dentro da comunidade lusófona o país "com mais potencialidade económica e que poderia ser a força motriz de toda esta comunidade" e que apesar de eventualmente assinar a declaração final de hoje, "deveria ter estado mais fortemente empenhado" neste processo.

A declaração final assume particular importância porque os ministros recomendaram hoje a adoção de um novo pilar económico e empresarial da CPLP, como elemento central para fomentar o desenvolvimento dos Estados membros.

Essa vertente não é apoiada pelo Brasil, que pretende insistir nos objetivos fundadores da organização, nomeadamente a língua e a cultura, como disse á Lusa em Díli, em julho do ano passado o chefe da diplomacia brasileiro, à margem da reunião como os seus congéneres lusófonos.

Mauro Vieira, que esteve na XX reunião do Conselho de Ministros da CPLP, foi praticamente o único ministro brasileiro a participar nas reuniões setoriais organizadas pela presidência timorense nos últimos 18 meses.

O ministro disse na altura que o envolvimento do setor empresarial e do resto da sociedade civil deve ser sempre "como consultivo", sem que essas contribuições condicionem o propósito da organização.

"O objetivo não é transformar a CPLP numa instituição, numa organização que seja comercial e económica. Ao contrário. Eu acho que é um espaço de concertação, um espaço de criação de consensos políticos e de cooperação", disse.

Questionado sobre este aspeto hoje pela Lusa, o secretário-executivo da CPLP, Murade Murargy, mostrou-se confiante de que o Brasil assinará o texto e de que a presidência brasileira "dará continuidade aos trabalhos feitos pela presidência timorense", incluindo no âmbito deste pilar económico.

Murargy escusou-se porém a comentar se a agenda timorense de tentar incentivar a componente económica e empresarial da CPLP pode vir a ser travada ou bloqueada durante a presidência brasileira que começa em julho.

ASP // VM

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