Macau,
China, 28 fev (Lusa) - Um estudo com 60 portugueses que emigraram para Macau
antes e depois da transferência para a China, em 1999, identificou padrões de
comportamento e discurso, como a ideia de que estadia tem carácter
"temporário".
Vanessa
Amaro, que defendeu, na sexta-feira, na Universidade de Macau, a tese de
doutoramento "Identidade e questões do estatuto sociocultural na
comunidade portuguesa na Macau pós-colonial" (tradução livre do inglês),
dividiu a amostra entre os que chegaram antes de 1999 e os que vieram na onda
de um novo fluxo migratório, principalmente desde 2005.
"Uma
coisa comum é que todos pensam Macau como uma coisa muito temporária",
disse à Lusa Vanessa Amaro, recordando que muitos dos que chegaram antes da
transição nunca compraram casa, não aprenderam chinês nem criaram relações
profundas com a comunidade chinesa porque sempre tiveram a intenção de "um
dia ir embora".
Os
mais recentes têm o mesmo discurso e olham o território como "um trampolim
profissional, como uma forma de ganhar experiência profissional, de fazer
poupanças, para depois se mudarem para um destino que não necessariamente
Portugal".
Outro
denominador comum é a recusa do termo "emigrante" para definir um
português que vive em Macau, por ser "pejorativo".
Agarram-se,
por um lado, ao "peso da história", considerando ter um "papel
importante" a desempenhar e "uma posição privilegiada", soando
como "uma ofensa" colocá-los em pé de igualdade como outras
comunidades, como os filipinos. Por outro lado, "querem distanciar-se da
figura do típico português dos anos 60/70, pouco qualificado", vendo-se
"diferentes" de outros portugueses espalhados pelo mundo, explicou
Vanessa Amaro, com a ressalva de que não se pode generalizar.
"Encontrei
muita gente a tentar encontrar outro termo", contou a investigadora,
considerando que "tem muito a ver com a necessidade de a comunidade se
tentar posicionar como elite".
Neste
âmbito, destaca a "bolha" em que vivem alguns portugueses, que
adotaram a ideia de que podem fazer a sua vida sem precisar de aprender chinês
porque "têm as suas rotinas, os seus amigos, fecham-se nos seus grupos e
fazem toda a sua vida no circuito português". Sintomaticamente, só seis
dos entrevistados falavam fluentemente cantonense.
"Entrevistei
pessoas que tinham chegado há muito pouco tempo e eram muito contaminadas pelo
discurso daqueles que estavam cá há mais tempo (...) e também lembraram ou
enfatizaram diferenças culturais ou de comportamento dos chineses como um fator
para não querer ter grandes relações com o lado de lá", realçou.
A
barreira cultural da língua pesa e "essa cortina de vidro sempre existiu e
sempre houve intermediários (...), mas a questão é que não há interesse da
comunidade portuguesa em aprender de forma generalizada", considerou.
Internamente,
consideram-se parte da comunidade portuguesa, mas questionam-na "como um
todo, o seu papel, os seus comportamentos, tal como por que é as pessoas não se
ajudam ou não são mais solidárias".
"Porém,
em termos mais abstratos, o papel dos portugueses merece unanimidade",
disse Vanessa Amaro.
"Todos
concordam que são muito importantes para o futuro, não só pela história, mas
também pelo próprio desenvolvimento, para manter a identidade única de Macau,
para evitar que a cultura portuguesa seja modificada, vendida, embrulhada para
os chineses como uma coisa de Macau. Acham que é importante também manter o que
é português como português e não como uma coisa de Macau", como é o caso
do simples pastel de nata, ilustrou.
O
estudo também identificou padrões nas razões que trouxeram os portugueses a
Macau antes e depois de 1999 e nos motivos que os levam a permanecer, como as
questões financeiras.
Aqueles
que chegaram mais recentemente são "pessoas à procura do primeiro emprego,
estagnadas na carreira ou desempregados de longa duração".
Os
que chegaram antes de 1999 ficaram porque "apesar de lhes terem sido
oferecidas posições similares em Portugal (...), acreditavam que as condições
não seriam tão benéficas", porque criaram raízes e família no território
ou pela "curiosidade de ver como seria a nova Macau".
Outros
(quatro em 60), com ligações político-partidárias, quando regressaram a
Portugal, "sentiram que não podiam ser tão importantes como eram [em
Macau]".
DM
// MP
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