segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

PR DE TIMOR-LESTE ASSUMIU DEVER DE DAR A PEDRADA NO CHARCO



Porque Taur Matan Ruak tem em perspetiva assumir-se como dirigente de um novo partido timorense não foi difícil considerar que estava a fazer oposição ao governo por fins meramente político-partidários. Dispensando a atenção devida ao discurso integral que Taur proferiu no Parlamento timorense e aliando-o à realidade timorense, mudamos de perspetiva e vimos o certo naquilo que julgávamos errado, que seriam só tricas políticas em antecipadissima verborreia eleitoralista. Afinal, após a devida atenção nas palavras do PR de Timor-Leste e a constatação de factos, muito poucos encontrarão modo de desmentir a realidade timorense apontada por Taur Matan Ruak no Parlamento na passada quinta-feira, 25 de Fevereiro. Foi uma pedrada no charco.

A situação política em Timor-Leste anda agitada apesar de a oposição ao governo não existir por parte de partidos não governamentais com representação parlamentar. E não existe porque esses são partidos ínfimos na representatividade que lhes foi entregue eleitoralmente. A grande maioria dos deputados pertence aos partidos no governo após a aliança de Xanana Gusmão com Mari Alkatiri, ou, se quisermos, a aliança entre o CNRT e a Fretilin.

Podemos afirmar com toda a propriedade que no parlamento de Timor-Leste não existe oposição. Xanana e Alkatiri transformaram a casa da democracia numa arrojada associação de compadres e comadres. Acordaram reformular um governo “novo” após Xanana demitir-se com o seu governo. Não se realizaram eleições.

Atualmente Xanana não é primeiro-ministro de facto mas primeiro-ministro sombra. Rui Araújo, da Fretilin, dá a cara como primeiro-ministro. Xanana é ministro do Planeamento Estratégico e Investimento com um orçamento ultra milionário de 67.5 milhões de dólares. Mari Alkatiri, no dizer de muitos timorenses, passou a ser o “dono do Oecussi”. Oficialmente Alkatiri é o presidente da Autoridade da Região Administrativa Especial de Oé-Cusse Ambeno (RAEOA) e das Zonas Especiais de Economia Social de Mercado.

O projeto Zona Especial de Economia Social de Mercado de Timor-Leste (ZEESM) já em curso é dantesco e consome de supetão avultados recursos financeiros ao orçamento timorense, provocando o alienamento de carências prementes no resto do país. Principalmente no interior de Timor-Leste, nas infraestruturas, na educação, na saúde, agricultura, pescas, criação de emprego, apoio social, etc. É isso que “dói” à maioria dos timorenses da totalidade do território.

Sendo facto que a população discorda maioritariamente do projeto Oe-cusse pelo enorme volume de recursos financeiros que está a consumir num curto espaço de tempo, levando à alienação de outras regiões e carências do país, tal não se reflete de modo perentório no parlamento de Timor-Leste. Não existe oposição às decisões do governo. Nada a fazer. A aliança de comadres e compadres CNRT-Fretilin demonstra que os deputados, supostos representantes da transmissão e defesa das vontades dos eleitores que deviam representar, ocupam os cargos com função de encarnarem os “yes man” característicos dos parlamentos de regimes ditatoriais. Ao estilo da Assembleia Nacional de Portugal do tempo colonialista, o tempo colonial-fascista. O unaninismo partidário entre a maioria dos deputados no Parlamento Nacional de Timor-Leste tem vindo a pôr em grave risco a democracia e o que em Timor resta da transparência.

Xanana Gusmão, o contestado, aliou-se ao seu principal contestatário, Alkatiri, e calou-o, fazendo dele seu associado no pôr e dispor em Timor-Leste. Não se compreende como é que alguém pode mudar tanto de um dia para o outro sem que para isso não vislumbre contrapartidas. Falta saber – se é que falta – que contrapartidas. Facto é que aquela aliança está a matar o resto de alguma democracia que existia em Timor-Leste. Antes, para Alkatiri e para a Fretilin, Xanana e o seu governo eram os veículos da corrupção, do conluio, do nepotismo. E agora, já não são? Não. A partir do momento em que Xanana se aliou a Alkatiri e o CNRT à Fretilin. A realidade é essa? É essa a realidade?

O DISCURSO DO PRESIDENTE TAUR

Ler na integra ou escutar o discurso de Taur Matan Ruak na passada quinta-feira (25) no Parlamento de Timor-Leste ajuda-nos a compreender muito do que é a atualidade governativa e parlamentar do país. Não havendo oposição construtiva às decisões unanimistas do governo (leia-se Xanana-Alkatiri), o PR teve de dar um passo em frente em defesa da democracia, em defesa dos interesses dos timorenses. Taur disse isso mesmo, assumiu-se como a oposição à grave situação para que Xanana e Alkatiri conduzem o país. Taur Matan Ruak teve e tem coragem. Está a colocar muito à frente dos seus interesses pessoais e políticos os interesses da democracia, da transparência, da resolução das carências de Timor e dos timorenses. Taur, no Parlamento, foi a voz contra a corrupção, o conluio e o nepotismo que o regime Xanana-Alkatiri estão a fazer florescer ainda mais em Timor-Leste.

Taur Matan Ruak deu a pedrada que urgia dar no charco em que se está a transformar Timor-Leste. Um homem de coragem que está novamente a demonstrá-lo. Primeiro Timor e os timorenses, defende Taur. O PR chegou ao Parlamento e disse o que foi e é preciso dizer e apontar. Deviam agradecer-lhe. Ele cumpriu a função de um despertador de consciências. Acordem.

Deu a pedrada no charco, nas águas estagnadas que urge remover e renovar. É uma boa oportunidade para Timor-Leste dar um passo em frente na democracia vacilante. Falam em destituir o Presidente, que está em marcha o processo. Na verdade Taur falhou ao não cumprir os preceitos constitucionais na substituição do Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, mas isso são cartas de outro baralho, não pode ser o pretexto para despoletar uma “guerra” mas sim a formação de um consenso entre governo e PR para corrigirem o que tem de ser corrigido. Governo e PR, não Xanana-Alkatiri e PR. Ou, senão, ficaremos a saber de uma vez por todas quem de facto é o primeiro-ministro e que Rui Araújo é somente um fantoche nas mãos dos “compadres”. Oxalá que não. E que tudo acabe em bem, com justiça e paz.

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