segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Ramos-Horta fala com líderes, confiante que tensão política em Timor-Leste se vai ultrapassar


Díli, 29 fev (Lusa) - José Ramos-Horta mostrou-se hoje convicto, depois de conversar com os principais líderes do país, de que o atual momento de tensão política será ultrapassado e que haverá uma solução acordada para o comando das forças de defesa.

"Estou confiante que vamos ultrapassar isto. Não há crise. Há diferenças e tensão mas as instituições continuam a funcionar em pleno", disse à Lusa o ex-presidente da República timorense.

Ramos-Horta falava à Lusa depois de um encontro com o Presidente da República no Palácio do Governo, o terceiro entre os dois nos últimos dias, no intuito de procurar acalmar a tensão política que se vive no país.

Desde que chegou a Díli no sábado, de uma viagem a Cuba, Ramos-Horta tinha-se encontrado já, por duas vezes, com Taur Matan Ruak e também uma vez com o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, com quem comeu "seis pastéis de nata".

Reuniu-se ainda com o ministro da Defesa, Cirilo Cristóvão e com o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri - que "mostrou grande sentido de Estado" - conversando ao telefone com o comandante das forças de defesa, Lere Anan Timur.

"Há diferenças de interpretação sobre os poderes que a constituição concede no tocante à nomeação do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). Essa é uma questão séria, obviamente, mas que lado a lado, quer o Governo quer o PR estão dispostos a encontrar uma solução", afirmou.

"Não de compromisso para ser apenas de compromisso e satisfazer todas as partes, mas que seja a melhor para a estabilidade nas forças armadas e no país", disse.

Timor-Leste vive um momento de crise política em torno da decisão do Presidente da República sobre o comando das forças de Defesa (F-FDTL), que não seguiu a proposta do Governo, que defendia uma renovação dos mandatos em curso.

O chefe de Estado decidiu exonerar o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), o major-general Lere Anan Timur, e nomear como seu sucessor o brigadeiro-general Filomeno da Paixão de Jesus.

"O Presidente vai receber hoje o primeiro-ministro e o ministro da Defesa e o presidente disse-me que está disposto a ouvir", disse Ramos-Horta.

"Para o Presidente da República a posição é clara. Acha que é necessário fazer já a transição que ele começou por ele próprio, em 2012, para que não a façamos depois às pressas. Mas temos eleições em 2017 então porque não esperar até final das eleições para se mudar as coisas", explicou.

A tensão aumentou depois de um polémico discurso de Taur Matan Ruak no Parlamento, na quinta-feira em que o chefe de Estado comparou os benefícios que dirigentes do país como Xanana Gusmão, Mari Alkatiri e Lu-Olo têm dado a "familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.

Em resposta na sexta-feira Xanana Gusmão devolveu hoje a condecoração com que foi agraciado a 20 de maio do ano passado pelo chefe de Estado.

Em conferência de imprensa o presidente da Fretilin, Francisco Guterres, leu hoje um comunicado do Comité Central da Fretilin, segundo partido timorense, que acusa Taur Matan Ruak, de criar "instabilidade política" e querer "dividir para reinar" com a declaração que fez no Parlamento Nacional.

"O Presidente disse perentoriamente que foi mal interpretado, apenas transmitiu o que se diz no país ou na cidade. Agora, se um PR deve fazer eco ou não do que as pessoas dizem ou não é outra coisa", disse Ramos-Horta.

Ramos-Horta teceu grandes elogios sobre Xanana Gusmão - "um grande herói deste país" - e sobre Mari Alkatiri - que o deixou "muito comovido e impressionado com a grandeza que mostrou, dizendo que quer falar com o presidente porque o país precisa de estabilidade".

Sobre as acusações de benefícios que ambos teriam obtido, Ramos-Horta disse sobre Xanana Gusmão que "não há um único herói no mundo, um único chefe de Estado que viva tão modestamente como ele vive" e que Mari Alkatiri "não tem casa pessoal nem tantas facilidades económicas e financeiras como as pessoas pensam".

"E só porque alguém é Presidente ou primeiro-ministro, todos os seus familiares têm que deixar as atividades que tinham antes? Não faz sentido", afirmou.

ASP // DM

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