segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Oposição timorense insiste em ser alternativa a Governo e rejeita eleições antecipadas

Díli, 09 out (Lusa) - Os partidos da oposição timorense reiteraram hoje que podem ser alternativa de Governo, se o Programa do Executivo for chumbado, preferindo uma solução de aliança parlamentar (com o quinto mais votado) em vez de eleições antecipadas.

Arão Noé, chefe da bancada do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), Dionísio Babo, deputado e presidente da Comissão Diretiva Nacional do mesmo partido e Fidelis Magalhães, líder da bancada do Partido Libertação Popular (PLP) confirmaram à Lusa que não querem eleições antecipadas.

"Nós não queremos eleições antecipadas. Se o Governo cai, temos outra opção. Temos 35 deputados que garantem um bloco e a governação até ao fim do mandato da quarta legislatura", disse Arão Noé, referindo-se aos 22 deputados do CNRT, oito do PLP e mais cinco do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).


"O PLP disse - tem dito várias vezes - que não queremos eleições antecipadas. Mas como partido estamos prontos a enfrentar qualquer eventualidade, incluindo eleições antecipadas", disse à Lusa Magalhães.

Na semana passada as bancadas do CNRT, do PLP e do KHUNTO escreveram ao Presidente da República a anunciar a sua constituição num bloco de aliança parlamentar como alternativa de Governo se o Programa do Executivo for chumbado.

O atual executivo, que tomou posse a 15 de setembro, é liderado por uma coligação do primeiro e do quarto partidos mais votados, a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) - 23 deputados - e o Partido Democrático (PD) - sete.

Arão Noé, chefe de bancada do CNRT, afirma que a carta - em papel timbrado do Parlamento Nacional - está "baseada na orientação dos três partidos", confirmando que os líderes máximos do CNRT e do PLP, Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak, "ainda não" falaram.

Dionísio Babo também refere que os dois líderes - cuja relação está deteriorada há vários meses -- não conversaram, ficando pouco clara a posição de Xanana Gusmão, atualmente fora de Timor-Leste.

"Este bloco que foi formado tem a bênção da Comissão Política Nacional do partido, mas no diz respeito ao presidente [Xanana] ainda está fora e até hoje ainda não tivemos um contacto formal", disse.

Apesar de contestarem a forma como o executivo foi formado, quer o PLP quer o CNRT dizem que é "prematuro" avaliar se vão ou não apresentar uma moção de rejeição do Programa do Governo, preferindo esperar até receber e analisar o texto.

Porém, rejeitam que possa ser especulação a carta em que se oferecem como alternativa caso o programa chumbe, enviada ainda antes de o texto do executivo ser conhecido.

"A oposição faz o seu papel que é propor um programa e até governação alternativa. Isto não é especular. Especular é dizer que o Governo vem ao PN trazer um programa de que os partidos da oposição podem gostar", afirmou Magalhães.

Babo deixou antever, no entanto, que a posição da oposição sobre o programa pode vir a ser tomada em bloco e não em termos partidários.

"Depois da formação do bloco, claro que essa questão tem que ser discutida dentro do contexto do bloco. O CNRT não vai agir como partido singular, mas irá agir conjuntamente com os outros partidos da oposição. Temos que ver como podemos participar de forma construtiva e crítica neste ato parlamentar", afirmou.

Sobre as amplas criticas que o PLP fez no passado ao CNRT, ao seu Governo e aos deputados do partido e ao seu líder, Xanana Gusmão, Magalhães disse que o "CNRT não é o inimigo do povo" e que é possível, pela "dinâmica política", que "uma decisão politica possa mudar de um dia para o outro ou dependendo de novas ideias".

"Apesar de haver diferenças entre o PLP e o CNRT no passado, com conversas sérias e baseadas no programa pode haver eventualmente um entendimento programático entre todos os partidos. Isto é muito normal. É assim que se faz em democracia", disse.

Também Arão Noé referiu que "a política é assim" e que "não há inimigo permanente, não há amigo permanente", mas apenas "consenso nos programas" permitindo em caso de entendimento avançar.

Adérito Hugo da Costa, que foi presidente do Parlamento Nacional e se mantém como deputado do CNRT, inverteu a pergunta da Lusa, dirigindo-se à própria Fretilin.
"Temos que fazer a mesma pergunta ao contrário. Como é que depois das críticas a Fretilin e o PD encontraram uma plataforma?", questionou.

O debate do Programa de Governo, aprovado na sexta-feira pelo executivo, decorre na próxima semana no Parlamento Nacional.

ASP // ROC | Foto em Independente

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