A
Fretilin, que lidera a coligação do Governo em Timor-Leste, acusou hoje a
oposição de estar a criar instabilidade no país, afetando diretamente a economia,
atuando "cegamente" por "ambição de poder" e sem sentido de
Estado.
"A
oposição está a contribuir para a instabilidade do país. A economia do país
depende quase unicamente do Orçamento do Estado e isto influencia a situação
económica e as condições de vida da população", disse à Lusa Francisco
Branco, chefe da bancada da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin).
"A
oposição está cegamente a tomar decisões que mostram um golpe ao Governo e um
assalto ao poder. Não tem outro nome porque não é racional. É uma tomada de
decisões sem sentido nenhum, com ambição de poder", afirmou.
Francisco
Branco rejeitou que o uso da palavra "golpe" seja exagerado e afirmou
que isso ficou demonstrado "pela prática" das últimas semanas.
O
chumbo "sem ler" do programa do Governo, a moção de censura ao
executivo, o pedido de destituição do presidente do Parlamento Nacional mostram
que a oposição, liderada pelo anterior partido do Governo, o Congresso Nacional
da Reconstrução Timorense (CNRT), "não quer ver" as contas públicas
debatidas, disse Branco.
"Estão
com receio de quê? Que o Orçamento do Estado seja debatido e fique claro para o
povo o que fizeram nos últimos 10 anos? Estão cegos de atingir o poder",
afirmou.
Ainda
que não tenha formalmente integrado o VI Governo, a Fretilin 'emprestou' alguns
militantes para ocupar cargos no executivo, entre eles o próprio
primeiro-ministro, Rui Araújo, e apoiou, por incidência parlamentar, os últimos
dois Governos.
"Construímos
um ambiente que deveria ser considerado e mantido. A Fretilin mostrou uma
postura cooperativa para manter a estabilidade do Governo até ao fim do
mandato. A oposição deveria fazer o mesmo neste momento, contribuindo para a
paz e estabilidade, criando uma boa cultura para deixar para as novas
gerações", afirmou.
Branco
considerou que é preciso uma solução "rápida" e sublinhou caber ao
Presidente timorense "analisar a situação do país e tomar decisões",
havendo "alternativas" em que o chefe de Estado pode usar "a sua
influência de magistratura" para juntar os líderes históricos.
"A
mim preocupa-me quando estamos numa transição geracional, em que os líderes
mais antigos deviam dar exemplo de cultura política, de ética, não estamos a
ver nada. E isto preocupa-nos a nós e à sociedade e à geração mais nova do
país", considerou.
O
político questionou em particular a ausência do presidente do segundo partido
(CNRT), Xanana Gusmão, que está fora de Timor-Leste há quase três meses.
"Está
na diáspora e isto não tem razão de ser. Nós temos que mostrar ao povo, que tem
a soberania na mão e nos deu o poder, que um partido ganhou, que devemos saber
perder", afirmou.
"Não
é só saber ganhar, mas também saber perder. Isto é a característica de uma
liderança que o país precisa agora e para o futuro. Com sentido de Estado e
curvado perante os resultados das eleições", disse.
Sobre
as críticas da oposição à ação do presidente do Parlamento Nacional - era o
antigo chefe da bancada -, Branco sustentou que as suas ações respeitam as
"normas e práticas do passado", enquanto se paralisavam as outras
atividades parlamentares quando se debate o orçamento do Estado.
"Foi
com base nessas normas que o presidente tomou a decisão de não agendar os
pedidos da oposição. Só depois no fim quando tudo estiver resolvido quanto ao
orçamento retificativo, então o presidente terá oportunidade de convocar os
líderes das bancadas e agendar esses pedidos todos", afirmou.
"Esta
casa do povo está a ser bloqueada pela oposição. Uma tentativa de paralisar o
funcionamento normal dos serviços da casa", reiterou.
A
situação política foi o tema de uma reunião alargada do Comité Central da
Fretilin, no fim de semana, em que participaram cerca de 300 pessoas, incluindo
as estruturas nacionais e regionais, deputados, membros do Governo e
representantes das organizações do partido.
O
partido considerou que a oposição está a tentar criar "uma crise
institucional para permitir um assalto ao poder e um golpe ao Governo eleito
pelo povo", como referiu em comunicado.
"Os
partidos da oposição encontram-se desde o primeiro momento no Parlamento
Nacional apenas focados em rejeitar todas as iniciativas, a negar qualquer
discussão construtiva, e disposta somente a erguer o voto contra todas as
sugestões ou propostas mesmo antes delas serem apresentadas para
discussão", de acordo com o texto.
"Demonstram
assim, não terem o bom senso de distinguir as necessidades urgentes e
inadiáveis do país e das populações", sublinhou.
No
mesmo comunicado, Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin e
primeiro-ministro, criticou o voto da oposição "contra o programa pró-povo
do Governo (...), contra o pedido para debater o orçamento retificativo com
urgência" e de "boicotar o funcionamento das comissões
parlamentares".
"Apresentam
moções sem argumentação forte e fundamentada. Tudo isto apenas porque querem
fazer o assalto ao poder. Tudo isto porque querem golpear o Governo eleito pela
maioria", acrescentou.
Por
isso, como explicou o secretário-geral adjunto, José Reis, "estão criadas
todas as condições para que o Presidente da República tome uma decisão em
conformidade com a Constituição da República Democrática de Timor-Leste e a
situação política vigente".
Lusa
em SAPO TL
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