Díli,
09 jun (Lusa) - Timor-Leste deve "duplicar ou triplicar" o número de
professores dos países lusófonos para a formação dos seus docentes, disse hoje
o presidente do Parlamento Nacional timorense.
Adérito
Hugo da Costa disse ainda que, em paralelo, é essencial promover os
"interesses e vantagens" económicas de aprender português, alargar o
seu ensino a todo o país e complementar a formação com o uso da língua em todos
os domínios da sociedade.
"O
cidadão comum tem de ver interesse e vantagem na aprendizagem da língua
portuguesa. Tem de ser interessante porque proporciona um trabalho melhor,
porque permite estudar noutro país lusófono, porque permite progredir na
administração pública. A aprendizagem da língua tem de ter um significado
material", disse.
Adérito
Hugo da Costa falava num colóquio em Díli no âmbito da segunda semana da língua
portuguesa no Parlamento Nacional timorense, onde defendeu uma aposta num
sistema de educação "eficiente e forte em todo o país".
Medidas
"estruturantes" para o setor educativo devem incluir ainda a
reabilitação e equipamento das escolas, generalizar a merenda escolar, os
manuais, as bibliotecas escolares, o desporto e os cuidados básicos de saúde
pública, acrescentou.
Incentivar
o setor privado a disseminar a língua portuguesa por todo o país, garantir o
seu uso nas novas estruturas descentralizadas da administração, criar
bibliotecas municipais ou itinerantes são outras das medidas que defendeu.
Por
outro lado, propôs "proibir publicidade em língua estrangeira e programas
de rádio ou de televisão que não tenham tradução para as línguas
oficiais", devendo "estimular-se, apoiar-se iniciativas que visem aumentar
e melhorar a produção audiovisual em língua portuguesa, bem como a importação
de conteúdos audiovisuais" dos países lusófonos.
"Portugal
e o Brasil, principalmente, têm programas de televisão para crianças e jovens
que poderiam facilmente cativar a nossa população, que hoje vê televisão quase
só em indonésio e em inglês", disse.
Na
sua intervenção recordou que quando a Indonésia invadiu Timor-Leste enviou
milhares de professores para introduzir a sua língua, algo que não foi possível
para a reintrodução do português.
Apesar
disso, os 5% de falantes de português em 1999 passaram para "valores na
ordem dos 30% a 40%", deixando de ser apenas os mais velhos a usar a
língua, que é agora falada por muitas crianças e jovens, afirmou.
Filho
da geração formada na fase final da ocupação indonésia, país em cuja língua
concluiu os estudos, o presidente do Parlamento Nacional recordou que ele
próprio foi "direta e pessoalmente" afetado pela decisão do país de
adotar uma língua oficial que a sua geração não dominava.
"No
entanto, eu próprio, bem como a grande maioria dos timorenses, preferimos olhar
para esta escolha como um elemento fundamental e essencial para a nossa
diferenciação e inserção no mundo", afirmou.
Com
a língua portuguesa, disse, os timorenses têm "acesso generalizado ao
conhecimento universal" e, ao mesmo tempo, ganham um "instrumento
essencial para a consolidação do tétum", com as duas línguas a serem
"meio privilegiado para a coesão e unidade nacionais".
Adérito
Hugo da Costa disse que Timor-Leste é um país de grande diversidade linguística
e cultural, marcada pelas "cicatrizes deixadas pela ocupação"
indonésia onde, em termos linguísticos, a "diferença e originalidade"
permite ao país afirmar-se na sua região.
O
deputado referiu ainda que desde os primeiros momentos das aspirações
independentistas, em 1975, "foi unânime o reconhecimento da necessidade de
valorizar a língua portuguesa como elemento unificador integrado na cultura
nacional" timorense.
Uma
opção apoiada até pelos partidos integracionistas, que "defendiam a
continuação do português como língua de ensino e de administração" e
contra a qual os ocupantes indonésios tentaram lutar, "sem sucesso".
Hoje
é essencial "garantir que não haja qualquer rutura nessa relação de
complementaridade" entre o tétum e o português já que, "sem a língua
portuguesa, o tétum, virando-se para as línguas oficiais dos países vizinhos,
tornar-se-ia historicamente irreconhecível", afirmou.
ASP
// MP
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