Díli,
20 dez (Lusa) - A ex-vice-ministra da Saúde timorense Madalena Hanjam,
condenada hoje a quatro anos de prisão efetiva por participação económica em
negócio, disse que vai recorrer e que sempre atuou sob instruções do
ex-primeiro-ministro Xanana Gusmão.
"Não
estou satisfeita. Vou recorrer. Nada disto foi minha responsabilidade",
disse Hanjam, em declarações à Lusa depois de ser lida a sentença no processo
em que era coarguida com a ex-ministra das Finanças Emília Pires, condenada a
sete anos de prisão pelo mesmo crime.
"Não
foi feita justiça e vou avançar com recurso. Se [me] absolvem do crime de
administração danosa, essa era a minha única responsabilidade. Mas não de
participação económica. Como posso ser condenada por isso se não sou dona da
companhia nem tive qualquer benefício económico? A companhia é do marido da
Emília", afirmou.
Emília
Pires, ex-ministra das Finanças, e Madalena Hanjam, ex-vice-ministra da Saúde,
foram condenadas por supostas irregularidades na compra de centenas de camas
hospitalares em dois contratos (A e B) adjudicados à empresa do marido da
primeira, com um suposto conluio entre os três para a concretização do negócio,
no valor de 800 mil dólares.
"O
primeiro-ministro tem de se responsabilizar, ele aprovou o dinheiro, a
execução, o ajuste direto, quem aprovou tudo foi o primeiro-ministro",
disse à Lusa, no Tribunal de Díli, referindo-se ao chefe de Governo na altura,
Xanana Gusmão.
"Eu
só cumpri as ordens porque as camas são boas para o povo, para beneficiar o
povo, não a mim. O dinheiro não vem para mim, é da companhia que eles
recomendaram e cujo uso foi bem recomendada pelos técnicos. Que culpa tenho eu
nisso?", questionou.
A
sentença do processo, o mais mediático da história do sistema judicial
timorense, foi dada hoje a conhecer no Tribunal de Díli pelo presidente do
coletivo de juízes, José Maria Araújo, e sem a presença de Emília Pires, que
está, segundo a defesa, a receber cuidados médicos em Portugal.
O
tribunal absolveu as duas arguidas do crime de administração danosa e rejeitou
o argumento do Ministério Público de que tinham causado danos económicos ao
Estado.
Madalena
Hanjam disse que a sua responsabilidade se limitou a processos administrativos
e que, sobre esse aspeto, o tribunal a absolveu, insistindo que não teve
benefícios económicos e só cumpriu ordens do então chefe do Governo.
"Não
veio nenhum dinheiro para mim. O dinheiro foi para a conta dele e eles é que
transferiram, não veio nada para mim", afirmou.
"E
quem aprovou tudo foi o primeiro-ministro Xanana Gusmão. Quem recomendou foi o
ministro que visitou a fábrica, eu só executei, cumpri as ordens. Quem geriu o
movimento do dinheiro foi a Emília. Eu só assinei o contrato depois de ter
instruções do primeiro-ministro. Isto não é justo", afirmou.
ASP
// MP
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