Macau,
China, 07 mai (Lusa) -- O antigo superior da Companhia de Jesus, padre Luís
Sequeira, considera que a procissão de Nossa Senhora de Fátima em Macau é a que
atrai mais pessoas e constitui a maior manifestação pública católica no
território.
"Sem
dúvida nenhuma que a expressão religiosa [católica] de maior envergadura é a de
Nossa Senhora de Fátima. A procissão é a que tem maior número de gente, não só da
terra como de Hong Kong, do próprio continente (China), de alguns países aqui à
volta, como a Malásia e a Indonésia, há grupos que vêm, até das
Filipinas", diz à agência Lusa, salientando que há também macaenses que
vivem fora e que, "por esta altura, até dão cá um salto".
Macau
tem quase 645 mil pessoas, com a comunidade católica está estimada em cerca de
30 mil. A primeira procissão de Nossa Senhora de Fátima aconteceu em 1929.
O
centenário das aparições será assinalado este ano com "alguma
solenidade", "mais do que é habitual" em Macau, diz o jesuíta,
que é também assistente eclesiástico da congregação de Nossa Senhora de Fátima.
A
principal novidade é a missa e a novena serem rezadas na Sé Catedral de Macau,
e não na Igreja de São Domingos, como habitual -- a procissão depois segue até
à Ermida da Penha. É na Sé que está uma das mais imponentes imagens de Nossa
Senhora de Fátima em Macau, com a inscrição "Rainha do Mundo, Mãe de
Portugal, Amparai Macau".
A
expectativa é que a procissão, que a par da do Senhor Bom Jesus dos Passos é
das mais participadas, atraia ainda mais gente, dado que, ao longo do último
ano realizaram-se atividades para assinalar o centenário.
Durante
12 meses a imagem peregrina da Nossa Senhora visitou 12 igrejas da cidade,
ficando um mês em cada uma.
"Correu
muito bem, com muito respeito e veneração, para expressar e ajudar a comunidade
a sentir esta devoção a Nossa Senhora de Fátima", explica Sequeira. Esta
atividade foi acompanhada de "algumas publicações" e produção de
"medalhões próprios" para "ajudar as pessoas a perceber por
dentro o sentido do centenário".
A
igreja visitou ainda colégios, gerando a expectativa de conseguir atrair um
"bom grupinho de alunos" para a procissão.
"Creio
que entre 2.500 e 3.500 [participantes] é bastante habitual (...) Com este
esforço de comunicação, penso que mais gente virá", diz.
Apesar
de a procissão de Fátima ser "uma coisa muito ligada à comunidade
portuguesa", o objetivo de "trazer uma participação mais vasta da
comunidade" está a ser alcançado.
"O
grupo central coordenador, que era tipicamente português, macaense, já está a
abrir para meninas e senhoras chinesas (...) Há uma evolução e penso que é de
manter", indica.
"Dá-me
felicidade perceber que já não é o meu país, a minha cultura, que assume a
dimensão espiritual através de uma devoção que é Nossa Senhora, mas é a própria
comunidade chinesa local, que é maioritária", comenta o português, que já
completou 40 anos em Macau.
Essa
abertura, sublinha, deve também ser feita às comunidades falantes de inglês,
nomeadamente a filipina, composta maioritariamente por trabalhadores não-residentes,
que em março eram cerca de 27 mil. Em 2014, quando os filipinos eram 21 mil, a
Diocese reconhecia cerca de 10 mil como católicos.
É
preciso "mais atenção à comunidade filipina, tem de ter os seus lugares de
culto, a parte pastoral talvez pudesse melhorar, mas já têm padres com eles.
Mesmo que a maioria sejam empregados, estejam em serviços, mas é a comunidade
cristã (...) Há um crescimento da multiculturalidade ou internacionalidade da
própria expressão cristã aqui em Macau", alerta.
O
centenário de Fátima será também assinalado em Macau pela Universidade de São
José (que pertence à Fundação Católica, instituída pela Universidade Católica
de Portugal e pela Diocese de Macau), através de uma mesa redonda, no dia 11 de
maio.
Um
dos oradores será o reitor da Universidade, o padre Peter Stilwell, que destaca
que o culto a Fátima, cuja expressão máxima é a procissão de 13 de maio,
"extravasou a comunidade de língua portuguesa".
"Tenho
feito a procissão todos os anos, e se olharmos à volta vemos gente claramente
de origem portuguesa, depois há gente dos países lusófonos e depois, porque o
terço é rezado em três línguas -- português, inglês e chinês --, percebemos que
há pessoas que só rezam em inglês, outras que só rezam em chinês. Isto
significa que extravasou a comunidade de língua portuguesa", diz Stilwell,
em Macau desde 2012.
O
reitor considera que as atividades realizadas ao longo do último ano ajudaram a
"mobilizar a consciência das comunidades".
"Creio
que a procissão sairá reforçada por causa disso, há um acordar da consciência
das pessoas para o centenário, se não podia passar despercebido", comenta.
ISG
// PJA
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