quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Empresários timorenses queixam-se de repetidos atrasos em pagamentos do Estado


Díli, 05 ago (Lusa) - O setor empresarial timorense lamentou hoje os constantes atrasos nos pagamentos do Estado, considerando que muitas empresas estão a viver situações "muito complicadas" e que a economia nacional está a ressentir-se da fala de liquidez.

Vários empresários ouvidos pela Lusa queixam-se de atrasos de até um ano nos pagamentos de projetos, referindo que isso tem "um efeito em cadeia" porque os subcontratados também não recebem.

Jorge Serrano, presidente de honra da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e presidente do Conselho de Administração do grupo GMN-H, disse à Lusa que o problema é geral e que mesmo os atrasos do passado foram agora amplamente ultrapassados.

"Há atrasos grandes, não como no passado. Estamos com o peso dos salários, dos custos operacionais que temos que cumprir e com estes atrasos de apagamentos, a este ritmo, não ajuda os empresários", disse à Lusa.

"O desenvolvimento do país está a sofrer, as lojas estão vazias, os comércios vazios e os hotéis e restaurantes também. Isto normalmente acontece no primeiro trimestre. Mas já estamos no segundo semestre do ano e os problemas continuam assim", afirmou.

Sem querer avançar números, disse que os empresários têm a haver "grandes montantes" o que, para muitos, representa custos elevados com juros bancários e outras despesas.

"Isto prejudica tanto o negócio como a economia nacional de Timor-Leste. O Governo diz que está tudo em processo, que faltam pareceres jurídicos. São muitos pareceres. Mas nesta dimensão é a primeira vez que isto acontece. Antigamente não havia tantos atrasos", afirmou.

Opinião partilhada por Óscar Lima, presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Timor-Leste (que tem atualmente mais de mil associados em todo o país) e proprietário da empresa Monte Veado Lda, dedicada ao ramo da construção e obras públicos.

"Estamos há mais de seis meses sem receber. Por isso estamos atrapalhados. A empresa não pode viver sem pagamentos. Temos muitos pagamentos em atraso. Praticamente ainda não recebemos dinheiro do Estado este ano", explicou à Lusa, referindo que só em salários tem uma despesa mensal de mais de 40 mil dólares.

Várias reuniões e contactos com o Governo, inclusive com o primeiro-ministro e com vários ministros, não permitiram desbloquear a situação, disse, acrescentando que tem mais de dois milhões de dólares de pagamentos em atraso.

Julio Alfaro, um dos maiores empresários timorenses, disse que, este ano, ainda não apresentou faturas ao Estado, apesar de ter projetos a decorrer, pelo que, atualmente não sente "tantos problemas como os outros".

Também Lino Lopes, diretor da EDS (Express Distribution Services), confirma à Lusa que também tem sofrido atrasos significativos, com destaque para um projeto de uma nova estrada em que participou e que ficou terminado em 2013 e pelo qual ainda não foi pago.

"Ninguém paga a ninguém e o balde está a secar. O preço do petróleo está a cair, há menos dinheiro a entrar e tudo isso está a afetar as contas. E que tem grande parte da origem do seu dinheiro no Estado está ainda pior", afirmou Lopes.

Considerando que a culpa "é dividida parte a parte" entre os ministérios responsáveis pelos projetos e as Finanças, Lino Lopes referiu que manter gastos mensais de 150 empregados com estes atrasos "atrofia" as empresas.

Uma situação agravada pela situação do setor bancário em Timor-Leste, em que a falta de garantias torna mais complicado o acesso a empréstimos para dar liquidez às empresas.

De referir que o atraso nos pagamentos se evidencia não apenas para projetos ou fornecedores de bens e serviços do Estado, mas também, em alguns setores para salários e complementos salariais.

É comum haver atrasos de três ou mais meses, o que torna a situação de muitos dos funcionários bastante complicada.

Na UNTL, a universidade pública timorense, por exemplo, há trabalhadores que ainda não receberam nada este ano, situação que o reitor prometeu que será resolvida este mês.

ASP // VM

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