Díli,
30 nov (Lusa) - O presidente da Fretilin, Lu-Olo, defendeu hoje o papel
histórico do seu partido em Timor-Leste afirmando que não tem que pedir
desculpas e que se não fosse a proclamação da independência, em 1975,
dificilmente o país seria independente.
"Acho
que seria muito difícil. Se não fosse a independência proclamada pela Fretilin
(Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) a 28 de novembro de 1975,
ninguém estaria em condições de oferecer uma resistência durante 24 anos contra
a ocupação militar indonésia e nem as Falintil existiam", disse em
entrevista à Lusa.
A
Fretilin, afirmou, foi "a força principal que lutou contra a invasão
militar indonésia", e o seu braço armado lutava para defender essa
independência pelo que, se não tivesse sido proclamada, não haveria um objetivo
a defender, explicou.
Questionado
sobre se a Fretilin tem ou não que pedir desculpas por eventuais exageros
cometidos no passado, Lu-Olo, responde com uma pergunta, defendendo o partido a
que preside desde 2001: "Pedir desculpa a quem? A quem é que a Fretilin
vai pedir desculpas, quando a própria Fretilin é que lutou para termos a
independência? E pergunto também: quem é que vai pedir desculpa à
Fretilin?" questionou.
"Nós
lutámos por um objetivo e conseguimos cumpri-lo, apesar da Fretilin passar por
muitas, muitas vicissitudes. Mesmo assim aguentou com todos os rigores da luta
e ganhou a luta", afirmou.
Sobre
exageros cometidos no período da guerra civil ou posteriormente, Lu-Olo afirma
que a liderança "não partiu desse pressuposto" ainda que "numa
guerra possa ter havido sempre qualquer coisa", e considera que a Fretilin
"tinha os melhores métodos de resolução dos problemas".
Ao
mesmo tempo, relembra, Timor-Leste viveu uma situação diferente da de Angola e
Moçambique, países onde se "prepararam todas as condições políticas para
passarem a uma resistência armada".
"No
caso de Timor-Leste não. Uma independência, uma política, uma independência
seguida de uma invasão, tudo muito rápido. Mas tivemos, como disse, uma
instituição político-partidária que estava a dirigir e a orientar a resistência
no seu todo. Sem isso era difícil", defendeu.
Quanto
ao processo de despartidarização da luta, Lu-Olo considera que foi
"necessário na altura", acabando por dar "a imagem da unidade
dos timorenses, na luta contra a ocupação militar indonésia" o que teve um
impacto mais positivo na arena internacional.
Mas
esse processo, disse, partiu da própria Fretilin que "era liderada por
Xanana Gusmão, como comissário político e comandante das Falintil" pelo
que foi o partido "quem propôs essa solução negocial do conflito".
Os
que eventualmente considerem essa decisão de Xanana Gusmão uma traição à
Fretilin, afirmou, "não compreendem, nem conhecem quem é Xanana
Gusmão", homem que fez tudo para libertar Timor-Leste.
"Ele
foi meu comandante e eu devo dizer como guerrilheiro, como quadro político que
estive na resistência armada durante 24 anos eu devo muito a esse grande
comandante que se chama Xanana Gusmão e o povo de Timor-Leste ainda deve muito
a este grande homem", salientou.
"Ele
fez tudo para libertar o país até ao último momento em que foi capturado.
Muitos estavam desiludidos, muitos até lhe chamaram nomes. Mas nós lá no mato
não nos assustámos com isso", afirmou.
Perante
as reações de desilusão dos seus companheiros no mato, aquando da prisão de
Xanana Gusmão em 1992, Lu-Olo recorda o que disse na altura: "a Indonésia
levantou uma pedra, mas vai deixar essa pedra cair sobre a sua própria
cabeça".
"Mais
vale ele ser capturado para ganharmos a guerra do que ser morto como herói nas
montanhas e foi o que Xanana fez durante o processo todo", disse.
"Quando
o tribunal indonésio julgou Xanana Gusmão, ele virou-se para os indonésios e
disse: Eu sou um cidadão português e o tribunal indonésio não tem legitimidade
para me julgar", vincou.
ASP
// EL
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