terça-feira, 1 de dezembro de 2015

"Se a Fretilin pedir desculpas, quem pede desculpas à Fretilin?"


Díli, 30 nov (Lusa) - O presidente da Fretilin, Lu-Olo, defendeu hoje o papel histórico do seu partido em Timor-Leste afirmando que não tem que pedir desculpas e que se não fosse a proclamação da independência, em 1975, dificilmente o país seria independente.

"Acho que seria muito difícil. Se não fosse a independência proclamada pela Fretilin (Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) a 28 de novembro de 1975, ninguém estaria em condições de oferecer uma resistência durante 24 anos contra a ocupação militar indonésia e nem as Falintil existiam", disse em entrevista à Lusa.

A Fretilin, afirmou, foi "a força principal que lutou contra a invasão militar indonésia", e o seu braço armado lutava para defender essa independência pelo que, se não tivesse sido proclamada, não haveria um objetivo a defender, explicou.

Questionado sobre se a Fretilin tem ou não que pedir desculpas por eventuais exageros cometidos no passado, Lu-Olo, responde com uma pergunta, defendendo o partido a que preside desde 2001: "Pedir desculpa a quem? A quem é que a Fretilin vai pedir desculpas, quando a própria Fretilin é que lutou para termos a independência? E pergunto também: quem é que vai pedir desculpa à Fretilin?" questionou.

"Nós lutámos por um objetivo e conseguimos cumpri-lo, apesar da Fretilin passar por muitas, muitas vicissitudes. Mesmo assim aguentou com todos os rigores da luta e ganhou a luta", afirmou.

Sobre exageros cometidos no período da guerra civil ou posteriormente, Lu-Olo afirma que a liderança "não partiu desse pressuposto" ainda que "numa guerra possa ter havido sempre qualquer coisa", e considera que a Fretilin "tinha os melhores métodos de resolução dos problemas".

Ao mesmo tempo, relembra, Timor-Leste viveu uma situação diferente da de Angola e Moçambique, países onde se "prepararam todas as condições políticas para passarem a uma resistência armada".

"No caso de Timor-Leste não. Uma independência, uma política, uma independência seguida de uma invasão, tudo muito rápido. Mas tivemos, como disse, uma instituição político-partidária que estava a dirigir e a orientar a resistência no seu todo. Sem isso era difícil", defendeu.

Quanto ao processo de despartidarização da luta, Lu-Olo considera que foi "necessário na altura", acabando por dar "a imagem da unidade dos timorenses, na luta contra a ocupação militar indonésia" o que teve um impacto mais positivo na arena internacional.

Mas esse processo, disse, partiu da própria Fretilin que "era liderada por Xanana Gusmão, como comissário político e comandante das Falintil" pelo que foi o partido "quem propôs essa solução negocial do conflito".

Os que eventualmente considerem essa decisão de Xanana Gusmão uma traição à Fretilin, afirmou, "não compreendem, nem conhecem quem é Xanana Gusmão", homem que fez tudo para libertar Timor-Leste.

"Ele foi meu comandante e eu devo dizer como guerrilheiro, como quadro político que estive na resistência armada durante 24 anos eu devo muito a esse grande comandante que se chama Xanana Gusmão e o povo de Timor-Leste ainda deve muito a este grande homem", salientou.

"Ele fez tudo para libertar o país até ao último momento em que foi capturado. Muitos estavam desiludidos, muitos até lhe chamaram nomes. Mas nós lá no mato não nos assustámos com isso", afirmou.

Perante as reações de desilusão dos seus companheiros no mato, aquando da prisão de Xanana Gusmão em 1992, Lu-Olo recorda o que disse na altura: "a Indonésia levantou uma pedra, mas vai deixar essa pedra cair sobre a sua própria cabeça".

"Mais vale ele ser capturado para ganharmos a guerra do que ser morto como herói nas montanhas e foi o que Xanana fez durante o processo todo", disse.

"Quando o tribunal indonésio julgou Xanana Gusmão, ele virou-se para os indonésios e disse: Eu sou um cidadão português e o tribunal indonésio não tem legitimidade para me julgar", vincou.

ASP // EL

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