Díli,
20 set (Lusa) - O Presidente timorense manifestou hoje "grande
tristeza" por constatar que 14 anos depois da restauração da independência
continua a haver no país insuficiente apoio aos mais vulneráveis, com a pobreza
a "afligir muitos filhos e filhas de Timor-Leste".
Taur
Matan Ruak falava no Parlamento Nacional, na sessão solene do arranque da 5.ª
sessão legislativa da atual legislatura, a sua primeira intervenção no plenário
desde um polémico discurso no início do ano em que fez duras críticas ao
Governo e a vários líderes históricos do país.
Num
longo discurso, o chefe de Estado retomou algumas dessas críticas à ação
governativa, com vários alertas sobre a situação do país, referindo-se aos
perigos de insustentabilidade dos gastos públicos e à falta de investimentos em
setores chave da economia.
Apesar
dos progressos alcançados, disse, Timor-Leste poderia ter feito "mais e
melhor" e agora tem de "encarar com seriedade os desafios
enormes" do país, nomeadamente "a baixa produtividade laboral, o
desemprego e a volatilidade económica".
Alterando
políticas que, considerou, "investiram mais em cimento do que em
conhecimento" e deixaram a economia pouco produtiva, pouco competitiva e a
importar 90% dos bens e serviços que consome.
"As
obras de construção são, muitas vezes, de má qualidade, obrigando a gastar mais
em obras de reparação ou reconstrução. A depreciação acelerada de muitas
infraestruturas prova que o Orçamento do Estado desperdiça demasiado dinheiro
em obras de má qualidade", disse.
A
sessão solene decorreu com as galerias cheias de público, incluindo alguns
formandos em português do Centro de Formação Jurídica, vários membros do Governo
e representantes do corpo diplomático acreditado em Díli.
Esta
será, previsivelmente, a última ocasião em que Taur Matan Ruak abrirá, enquanto
chefe de Estado, uma sessão solene no Parlamento Nacional já que o próprio
declarou no ano passado que não se vai recandidatar ao cargo nas eleições de
2017.
Ao
longo do mandato visitou mais de 90% dos sucos (freguesias) de Timor-Leste e
disse ter constatado "desigualdade das condições de vida entre a cidade e
as zonas rurais" cujas "opções de crescimento económico do país nos
últimos anos não ajudaram a reduzir".
Os
apoios sociais "não foram suficientes para corrigir e compensar os novos
fatores de desigualdade" e a economia foi "incapaz de criar empregos
suficientes", com poucas oportunidades nas zonas rurais onde vive 70% da
população.
"O
desequilíbrio do emprego obriga muitos jovens a emigrarem à procura de
trabalho. Nos últimos dez anos, o país formou mais de 30 mil jovens
licenciados. Mas não consegue assegurar a inclusão económica de muitos
deles", disse.
Taur
Matan Ruak voltou a questionar os grandes projetos de investimento em Oecússi e
na costa sul do país, afirmando que contínua sem se saber "em que medida
os vultuosos investimentos feitos nesses projetos beneficiarão realmente as
condições de vida e o desenvolvimento social das populações de Oecússi,
Covalima e Manufahi". Destacou ainda que Administração Pública continua,
"após cinco anos de políticas de desenvolvimento", a ser o
"setor com a maior importância económica (...), com uma participação de
24%".
"Com
resultados assim, como vamos diversificar a economia e tornar o país menos
dependente do petróleo?", questionou.
Apesar
de saudar os progressos na aproximação do Estado aos cidadãos e os programas de
desenvolvimento local, questionou as "prioridades de alguns departamentos
do Governo", como a substituição de sistemas administrativos já montados e
a funcionar, "desperdiçando o trabalho de técnicos, tempo e dinheiro, em
vez dos departamentos se concentrarem na solução de problemas sérios que
requerem atenção e decisões estratégicas".
Entre
esses, destacou os significativos atrasos do Estado em pagar a fornecedores e
empresas, o que deixa o setor privado com empresas descapitalizadas e sem
vontade de investir mais no país.
"É
inaceitável que obras concluídas, ou serviços fornecidos por empresas,
verificados de acordo com os regulamentos em vigor, fiquem depois à espera de
serem pagos, durante meses e meses", disse.
"Uma
administração pública deficiente contamina todo o setor produtivo e afasta o
investimento", afirmou.
ASP
// MP
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