sexta-feira, 2 de junho de 2017

ENTREVISTA: Xanana admite contactos com China para pedido de empréstimo

O ministro timorense do Planeamento e Investimento Estratégico Xanana Gusmão enalteceu hoje a cooperação com a China, admitindo um pedido de empréstimo a Pequim, que prometeu, no domingo, milhares de milhões de euros para infraestruturas a países em desenvolvimento.

"A China foi, logo desde a nossa proclamação [da independência] um dos países muito apoiantes", começou por dizer à Lusa Xanana Gusmão, na semana em que os dois países celebram quinze anos desde o estabelecimento das relações diplomáticas.

Sem esquecer Portugal, "que desempenhou um papel importantíssimo como potência administrante", Xanana Gusmão lembrou o apoio diplomático de Pequim durante a guerra contra a ocupação indonésia.

"A China teve um papel importante também na resolução da ONU, de 5 de maio de 1999, que decidiu pelo referendo" sobre a independência de Timor-Leste, acrescentou.

A República Democrática de Timor-Leste foi criada em 20 de maio de 2002 e, no mesmo dia, estabeleceu relações diplomáticas com a China.


Em Pequim, Xanana Gusmão participou do fórum "Uma Faixa, Uma Rota", destinado a impulsionar um gigantesco projeto de infraestruturas, também designado de Nova Rota da Seda, numa alusão ao corredor económico que outrora uniu o Oriente e o Ocidente.

"O contacto que temos vindo aqui a fazer com instituições financeiras é mais para perceber quais são as regras, os critérios. Como é que nós podemos aplicar um pedido" de empréstimo, disse Xanana Gusmão, atual ministro do Planeamento e Investimento Estratégico.

O antigo líder da guerrilha timorense diz que é um "processo que está em curso" e o que os chineses pedem a Díli é "uma continuação dos contactos para perceberem as nossas reais necessidades e, da nossa parte, perceber também as reais condições que podem pedir".

Questionado se Timor-Leste poderia adotar o que a China designa de "modelo angolano" - empréstimos garantidos por matérias-primas - Gusmão foi perentório: "Em relação a modelos, não gostamos de copiar. Estudamos e ajustamos à nossa realidade".

O Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou no domingo que o país vai contribuir com 100.000 milhões de yuan (13.000 milhões de euros) adicionais para o Fundo da Rota da Seda, que financia projetos de infraestruturas, e providenciar ajuda, nos próximos três anos, no valor de 60.000 milhões de yuan (8.000 milhões de euros) a países em desenvolvimento e a organizações internacionais que participem na iniciativa.

Dois bancos chineses vão também oferecer empréstimos especiais de até 380.000 milhões de yuan (50.000 milhões de euros) para apoiar a Nova Rota da Seda, que inclui a construção de uma malha ferroviária de alta velocidade, portos e autoestradas, e vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas - cerca de 60% da população mundial, segundo Pequim.

A ideia é "complementar a falta de conetividade entre países" e gerar "novas formas" de olhar para o desenvolvimento, explicou à Lusa o analista chinês Gao Zhikai, antigo intérprete de Deng Xiaoping e mestre em Ciências Políticas pela Universidade de Yale.

O projeto, que é comparado ao norte-americano 'Plano Marshall', lançado a seguir à Segunda Guerra Mundial, é denunciado por críticos como uma tentativa de colocar a China no centro da futura ordem mundial, estendendo a esfera de influência de Pequim a toda a eurásia.

Além daqueles montantes, a China disponibilizou ainda mil milhões de dólares (915 milhões de euros) para financiar projetos nos países lusófonos, através do Fórum Macau, a plataforma que gere as relações entre a China e os países de língua oficial portuguesa, e que Timor-Leste integra.

Lusa | em Diário de Notícias (16.05.2017)

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