O
ministro timorense do Planeamento e Investimento Estratégico Xanana Gusmão
enalteceu hoje a cooperação com a China, admitindo um pedido de empréstimo a
Pequim, que prometeu, no domingo, milhares de milhões de euros para
infraestruturas a países em desenvolvimento.
"A
China foi, logo desde a nossa proclamação [da independência] um dos países
muito apoiantes", começou por dizer à Lusa Xanana Gusmão, na semana em que
os dois países celebram quinze anos desde o estabelecimento das relações
diplomáticas.
Sem
esquecer Portugal, "que desempenhou um papel importantíssimo como potência
administrante", Xanana Gusmão lembrou o apoio diplomático de Pequim
durante a guerra contra a ocupação indonésia.
"A
China teve um papel importante também na resolução da ONU, de 5 de maio de
1999, que decidiu pelo referendo" sobre a independência de Timor-Leste,
acrescentou.
A
República Democrática de Timor-Leste foi criada em 20 de maio de 2002 e, no
mesmo dia, estabeleceu relações diplomáticas com a China.
Em
Pequim, Xanana Gusmão participou do fórum "Uma Faixa, Uma Rota",
destinado a impulsionar um gigantesco projeto de infraestruturas, também
designado de Nova Rota da Seda, numa alusão ao corredor económico que outrora
uniu o Oriente e o Ocidente.
"O
contacto que temos vindo aqui a fazer com instituições financeiras é mais para
perceber quais são as regras, os critérios. Como é que nós podemos aplicar um
pedido" de empréstimo, disse Xanana Gusmão, atual ministro do Planeamento
e Investimento Estratégico.
O
antigo líder da guerrilha timorense diz que é um "processo que está em
curso" e o que os chineses pedem a Díli é "uma continuação dos
contactos para perceberem as nossas reais necessidades e, da nossa parte,
perceber também as reais condições que podem pedir".
Questionado
se Timor-Leste poderia adotar o que a China designa de "modelo
angolano" - empréstimos garantidos por matérias-primas - Gusmão foi
perentório: "Em relação a modelos, não gostamos de copiar. Estudamos e
ajustamos à nossa realidade".
O
Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou no domingo que o país vai contribuir
com 100.000 milhões de yuan (13.000 milhões de euros) adicionais para o Fundo
da Rota da Seda, que financia projetos de infraestruturas, e providenciar
ajuda, nos próximos três anos, no valor de 60.000 milhões de yuan (8.000
milhões de euros) a países em desenvolvimento e a organizações internacionais
que participem na iniciativa.
Dois
bancos chineses vão também oferecer empréstimos especiais de até 380.000
milhões de yuan (50.000 milhões de euros) para apoiar a Nova Rota da Seda, que
inclui a construção de uma malha ferroviária de alta velocidade, portos e
autoestradas, e vai abranger 65 países e 4,4 mil milhões de pessoas - cerca de
60% da população mundial, segundo Pequim.
A
ideia é "complementar a falta de conetividade entre países" e gerar
"novas formas" de olhar para o desenvolvimento, explicou à Lusa o
analista chinês Gao Zhikai, antigo intérprete de Deng Xiaoping e mestre em
Ciências Políticas pela Universidade de Yale.
O
projeto, que é comparado ao norte-americano 'Plano Marshall', lançado a seguir
à Segunda Guerra Mundial, é denunciado por críticos como uma tentativa de
colocar a China no centro da futura ordem mundial, estendendo a esfera de
influência de Pequim a toda a eurásia.
Além
daqueles montantes, a China disponibilizou ainda mil milhões de dólares (915
milhões de euros) para financiar projetos nos países lusófonos, através do
Fórum Macau, a plataforma que gere as relações entre a China e os países de
língua oficial portuguesa, e que Timor-Leste integra.
Lusa
| em Diário de Notícias (16.05.2017)
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