Nova
Iorque, 21 set (Lusa) - O mundo registou progressos na saúde desde 2000,
nomeadamente na mortalidade infantil e neonatal ou no acesso aos cuidados de
saúde, mas alguns indicadores até pioraram, como a obesidade infantil, a
violência doméstica ou o alcoolismo, indica um estudo.
Hoje
publicado na revista científica The Lancet e apresentado num evento nas Nações
Unidas, em Nova Iorque, o estudo é o primeiro a avaliar o desempenho dos países
nas metas relativas à Saúde inscritas nos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS).
Definidos
em 2015 para suceder aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, que expiraram
nesse ano, os ODS são 17 objetivos universais, 169 metas, e 230 indicadores que
visam abordar problemas globais como a segurança alimentar, a pobreza, o acesso
à água ou as alterações climáticas e que têm como prazo o ano 2030.
A
saúde é um setor central nos ODS: o terceiro objetivo é "garantir vidas
saudáveis e promover o bem-estar para todos, em todas as idades" e há
indicadores relacionados com a saúde em 11 dos outros 16 objetivos.
Na
sua investigação, os cientistas liderados por Stephen Lim, do Instituto para a
Métrica e a Avaliação da Saúde na Universidade de Washington, em Seattle, EUA,
usaram dados do estudo sobre o Peso Global da Doença para avaliarem o
desempenho de 188 países em 33 dos 47 indicadores relativos à saúde nos ODS,
classificando-os num índice que vai de zero (o pior) a 100 (o melhor).
Nas
suas conclusões, os autores escrevem que se verificam progressos nos
indicadores que já estavam abrangidos pelos ODM, mas não tanto nos indicadores
que vão além dos ODM, alguns dos quais até pioraram - como o excesso de peso na
infância, a violência doméstica ou o consumo excessivo de álcool.
Com
efeito, os progressos a nível mundial variam muito consoante os indicadores,
acrescentam os cientistas.
Embora
60% dos países já tenham alcançado algumas metas para 2030 - redução da
mortalidade materna (menos de 70 mortes em cada 100 mil nados vivos) e infantil
(25 mortes em cada mil nados vivos), - nenhum país alcançou qualquer das nove
metas para a eliminação total de doenças como a tuberculose e o VIH.
O
frágil progresso no combate a estas duas doenças nos últimos 25 anos leva mesmo
os autores a considerar irrealista o objetivo de eliminá-las nos próximos 25
anos.
O
estudo permite ainda concluir que menos de um quinto dos países conseguiu
eliminar o baixo peso e baixa estatura nas crianças com menos de cinco anos ou
alcançar o acesso universal a fontes seguras e económicas de água e saneamento.
Os
investigadores compararam os desempenhos em saúde com um índice
socio-demográfico (ISD) que criaram para medir o nível de desenvolvimento dos
países, baseado no rendimento 'per capita', sucesso escolar e taxa de
fertilidade.
Esta
comparação permitiu-lhes concluir que alguns países, como Timor-Leste, o
Tadjiquistão, Taiwan ou a Islândia registaram melhorias maiores do que o
esperado para o seu desenvolvimento, enquanto outros, incluindo a Líbia e a
Síria, tiveram desempenhos piores na saúde do que o seu nível de
desenvolvimento faria supor.
Embora
o ISD fosse fortemente condicionante do desempenho na maioria dos indicadores
de saúde, não tinha o mesmo impacto em fatores também contabilizados, como a
violência interpessoal, a automutilação, a poluição, a poluição atmosférica ou
a obesidade infantil.
Os
autores concluíram por isso que investir no aumento do rendimento 'per capita',
na educação e no planeamento familiar não será suficiente para alcançar as
metas dos ODS em 2030.
"O
nosso estudo é um ponto de partida para mais investigação sobre como e por que
motivo os países estão a ter desempenhos melhores ou piores do que a média.
Será um esforço anual para garantir que o progresso se mantém e que as lições
dos casos de sucesso são rapidamente apreendidas e transferidas para outros
países onde o progresso é menos impressionante", disse Stephen Lim, citado
pela Lancet.
Neste
índice, a Islândia, Singapura e a Suécia são os mais bem classificados (todos
têm 85 pontos), enquanto no extremo oposto surgem a República Centro-Africana
(20 pontos), a Somália e o Sudão do Sul (ambos com 22 pontos).
Com
78 pontos, Portugal surge na 22.ª posição, pressionada pelos maus resultados em
indicadores como o VIH ou o excesso de peso.
Portugal
surge acima de países como França (24.º), Grécia (26.º) ou os EUA (28.º), mas
abaixo de Espanha (7.º), Irlanda (13.º) ou Itália (20.º).
Entre
os outros países lusófonos, o Brasil reúne 60 pontos e fica na 90.ª posição,
com a violência como o pior indicador; Timor-Leste e Cabo Verde, no 122.º e
123.º lugares, respetivamente, têm ambos 53 pontos.
Timor-Leste
tem a malária como o pior indicador, enquanto em Cabo Verde são a água e a
higiene os indicadores com piores resultados.
A
Guiné Equatorial tem 36 pontos e está na 157.ª posição, enquanto Angola está na
170.ª, com 32 valores, sendo ambos os países prejudicados pelos indicadores
malária, água e higiene.
A
Guiné-Bissau e Moçambique (176.º e 177.º lugares, respetivamente, têm ambos 29
pontos, sendo os indicadores mais preocupantes o acesso à água, higiene e a
poluição do ar interior).
FPA
// VM
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