domingo, 13 de agosto de 2023

"O QUE FOI FEITO DE TIMOR-LESTE?" – Tudo na mesma como a lesma?

Tudo quase sempre na mesma apesar de as "moscas habituais" da elite se irem revezando

 A Grande Reportagem da SIC foi saber que sucessos e fracassos regista o país na era da liberdade 

A independência de Timor-Leste foi a maior causa do povo português depois do 25 de abril. Quem o disse pela primeira vez foi Jorge Sampaio quando era Presidente da República. Este ano, por ocasião dos 20 anos de independência de Timor-Leste, o atual Presidente português lembrou essas palavras no Parlamento timorense.

Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se a Díli para a tomada de posse de José-Ramos Horta como Presidente da República de Timor-Leste, a 20 de maio, o dia que assinala o nascimento do primeiro Estado-nação do século.

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Onze anos antes, o mundo tinha despertado para a luta dos timorenses contra a ocupação e a repressão da Indonésia, a partir da divulgação das imagens do massacre do cemitério de Santa Cruz.

Na sequência de uma manifestação durante as cerimónias fúnebres de um jovem pró-independência, os militares indonésios não hesitaram em disparar, mesmo dentro do cemitério, onde centenas de pessoas, na maioria jovens, tentavam proteger-se das balas. O momento foi registado pela câmara do jornalista inglês Max Stahl, que conseguiu que as imagens fossem divulgadas e o mundo não tivesse dúvidas sobre o que estava acontecer.

Em Portugal, ouvir a aflição de um povo tão distante rezar a Avé Maria em português fez despertar consciências. Políticos da esquerda à direita, figuras públicas, cidadãos anónimos defendiam os que em Timor queriam um país livre e independente.

O que acabou por acontecer só em 2002. A partir daí, foi preciso garantir a paz e reconstruir o país, um percurso que tem podido contar com ajudas de vários países e organizações internacionais. Portugal tem tido projetos de cooperação com o Estado timorense, desde a justiça, ao ensino da língua portuguesa ou à produção do café, o produto que Timor mais exporta.

Para o português Hugo Trindade, que chegou a Timor há 15 anos, é preciso mais investimento no setor agrícola, sobretudo num contexto de crise alimentar.

A agricultura é a principal atividade no país e os que dependem dela são também os mais pobres. Timor tem podido contar com receitas do petróleo e com ajudas da comunidade internacional mas que diferença tem tido esse apoio no desenvolvimento do país e quais têm sido os maiores investimentos?

O turismo é um dos setores em que o país ainda tem caminho para fazer. Há poucas estruturas turísticas num país rodeado por água e onde muitas praias estão interditas devido à presença de crocodilos, animal considerado sagrado pela maior parte da população. Mas o território esconde lugares de rara beleza em terra e no mar. Entre Díli, a capital, e a ilha de Ataúro, a riqueza da fauna e da flora marítimas conta com mais de 250 espécies diferentes.

A língua oficial do país é o tetum, mas o português foi a segunda língua oficial escolhida por Timor-Leste quando alcançou a independência. O português tinha sido proibido pela ditadura indonésia durante a ocupação. Os que se atreviam a falar a língua e ou a ensiná-la eram perseguidos e houve quem tivesse perdido a vida por causa disso.

Hoje há mais gente a falar português do que em 2002. Para isso, têm contribuído os CAFE-Centro de Aprendizagem e Formação Escolar, onde todas as matérias se aprendem em português. Nestes centros, há 117 professores portugueses que também dão formação a professores timorenses. Mas o ensino do português só chega a uma parcela da população. Em cada um dos 13 distritos, há apenas uma destas escolas e em todas há mais procura do que vagas para novos alunos.

Em duas décadas, a população cresceu para um 1,3 milhões de pessoas, a maioria com menos de 25 anos. A mais-valia de uma população jovem coloca também imensos desafios a quem governa.

Simoa da Silva Tilman viveu de perto a história recente do país. A família defendia um Timor livre e independente e pagou por isso um preço elevado. Um dos irmãos foi levado pelas tropas indonésias e nunca mais foi visto. Casos como o dela não faltam em Timor. Durante a ocupação indonésia foram mortas centenas de milhares de pessoas.

O país vive hoje em paz mas ainda a tentar sarar as feridas e as divisões entre os timorenses que queriam a independência e os que defendiam o regime indonésio.

Até que ponto valeu a pena a luta pela liberdade e pela autodeterminação, que custou a vida a centenas de milhares de timorenses?

Em 20 anos de independência, o que conseguiu alcançar Timor-Leste e o que está ainda por fazer?

A Grande Reportagem foi saber como está e para onde quer caminhar esta democracia do sudeste asiático.

Conceição Lino – SIC NOTÍCIAS

Com diversos vídeos SIC sobre Timor-Leste na página da Agência Lusa – Vá Ver.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

A flagrante e vil desumanidade de Portugal para com imigrantes de Timor-Leste

Foi-lhes dado um ultimato: ou aceitavam ir para um qualquer canto desconhecido do país, onde não lhes era assegurado acompanhamento, ou lhes era retirado o único apoio até aqui prestado: um teto. Desumanidade, descoordenação e manifesta insuficiência: assim se regem as políticas de acolhimento de imigrantes.

Lisboa “ganhou” na segunda-feira mais nove sem-abrigo, o mais novo com dezanove anos. Estão a dormir em tendas cedidas pela sociedade civil. À chuva. A história de cada um deles tem contornos distintos, mas uma matriz comum: um sistema e instituições desumanos que não se compadecem com os direitos de quem procura uma vida digna.

Não são os primeiros sem-abrigo timorenses a morar nas ruas de Lisboa. Depois de um grupo alargado de mais de 40 pessoas a viver no largo do Martim Moniz, também o Terreiro do Paço, junto ao cais fluvial, chegou a acolher perto de 70 pessoas. O longo período em que estes imigrantes estiveram sem respostas adequadas daria para escrever várias linhas, ou talvez vários artigos, mas agora urge falar sobre o presente, e sobre os desafios com que nos defrontamos... 

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