Díli, 29 nov (Lusa) - O método de
ensino de português e tétum no início da escolaridade em Timor-Leste até 2014
"não conduziu a bons resultados", deixando os alunos com "graves
lacunas de conhecimentos" noutras áreas, defendeu a ministra da Educação
timorense.
"Apesar dos muitos esforços
e da existência de um método coerente para o ensino das línguas, tal não
conduziu a bons resultados, ou seja, não se mostrou eficaz para o nosso
contexto, por várias razões", afirmou Dulce Soares, em entrevista, por
escrito, à Lusa.
Dulce Soares concedeu uma
entrevista à Lusa para analisar alguns dos aspetos relacionados com o trabalho
do seu Ministério, com destaque para questões curriculares, de língua e de
recursos educativos.
A governante considera que os
dados mostram que o método aplicado até 2014 - "que assentava no ensino da
língua portuguesa e da língua tétum logo desde o 1.º ano de escolaridade e que
assumia o português como língua de instrução" - sacrificou
"aprendizagens noutras áreas, por (...) valorizar mais a língua portuguesa
do que a língua tétum".
"O recenseamento nacional de
2015 mostra que 80% da população afirma ter a língua tétum como primeira,
segunda ou terceira língua, enquanto que apenas 5% afirmam o mesmo em relação à
língua portuguesa. Quando analisamos os dados relativos às crianças em idade
escolar, essa percentagem, em relação à língua portuguesa, cai para os
0,04%", adiantou.
Um exemplo do impacto sente-se
entre alguns das universidades que estão a receber alunos "fruto desse
método anterior a 2014" que manifestam "graves lacunas em termos de
conhecimentos (...) que são resultado desse método anterior".
A análise dos falhanços desse
método levou o Governo a avançar com a sua polémica reforma curricular de 2015,
com a aposta na progressão linguística do tétum ao português: "era altura
de mudar, de experimentar outra coisa", defendeu a governante.
Além da revisão curricular,
acrescentou, foram aprovados "instrumentos reguladores da progressão
linguística, determinando, em cada ano de escolaridade, como deverá ser
realizada essa progressão, e onde o tétum começa por servir como base e depois
o português é introduzido gradualmente".
Ainda é cedo, sustentou, dois
anos depois, para avaliar se o novo método "afetou negativamente a
aprendizagem da língua oficial", sendo necessário continuar a
"investir mais na formação dos professores e assegurar a distribuição dos
materiais didáticos".
"Quem sabe, daqui a 10 ou 15
anos, iremos analisar o contexto e, de acordo com a evolução da nossa
sociedade, avaliaremos o método novamente e podemos determinar um outro método,
podendo até voltar ao método inicial, caso as condições já forem as favoráveis
para ser implementado", explicou.
Dulce Soares insistiu que os
desafios no setor educativo em Timor-Leste não são resolvidos apenas com
alterações ou aprovações legislativas, sendo necessárias outras medidas mais
amplas.
"A legislação base para a
educação existe! Agora, há é uma tendência de alguns em, por vezes, 'culpar' a
legislação e achar que a legislação irá trazer impactos diretos no sucesso
escolar, mas políticas educativas e o alcance de sucesso escolar num país
democrático não se atingem com receitas tão simples", afirmou.
ASP // JMC