Natal
no Trópico de Capricórnio é um Natal sem neve, é o Natal de Timor-Leste,
naquele trópico em que está situado. Sem neve e para muitos timorenses sem
quase o que comer. Completamente dependentes da alegria do nascimento do menino
Jesus, porque a alegria pelas suas vivências é desativada pela luta das suas
sobrevivências. A dictomia de “muito para uns poucos e nada ou quase nada para
outros (a maioria)" também prevalece em Timor-Leste. A injustiça social e outras
ofuscam qualquer Natal a muitos povos por todo o mundo. Uns mais que
outros, é certo, mas são muitos milhões (a maioria) aqueles a quem no Natal os
que os roubam, os que os enganam lhes enviam por escrito ou se lhes dirigem de
viva voz nos órgãos de comunicação social com mensagens repletas de hipocrisia,
indiferentes aos males que causam aos povos na defesa de elites predominantes que
enriquecem meteoricamente, sem que lhes pese a consciência pelas injustiças e
desumanidades que cometem nas suas ganâncias efémeras – porque um dia, mais ou
menos breve, a morte também os visitará e os levará.
Há
quem diga que “natal é todos os dias” ou que “natal é quando um homem quiser”. Assim
é de facto, principalmente para os que são vítimas das injustiças de uns
quantos gananciosos e ladrões que se acoitam nas fileiras da corrupção, de
crimes económicos cometidos com toda a impunidade e a cumplicidade de mentores
das mais altas personalidades mundiais das políticas e do grande capital,
sempre de mãos dadas, em dança de rodopio frenético que baralha e divide as
suas vítimas, os povos.
Pois
que seja Natal "Quando um Homem Quiser". Que a prenda do menino Jesus seja
composta pela Democracia, Justiças, Humanidade e Liberdade. Porém, tal prenda de
Jesus só será realidade quando a luta de classes vigorar sem divisões e vencer em prol dos povos explorados e oprimidos, sem o rodopio
dos canalhas atrás referidos, que nos baralha e divide. A uns mais que a outros. E então
que venha a Paz e tudo de Bom para que seja realmente Natal. Um Natal de todos
nós, de toda a humanidade, de todos os povos. E que assim aconteça também em
Timor-Leste.
Diga-se
então: Feliz Natal Timor-Leste! Boas Festas, na Justiça de Jesus e da sua
Palavra!
António Veríssimo – vídeo no Youtube de Tattoras Fuik
– Poema de José Carlos Ary dos Santos (um grande poeta e amigo que honrosamente aqui recordo)
Quando
um Homem Quiser
Tu
que dormes à noite na calçada do relento
numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que dormes só o pesadelo do ciúme
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
e sofres o Natal da solidão sem um queixume
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Natal é em Dezembro
mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é em Setembro
é quando um homem quiser
Natal é quando nasce
uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto
que há no ventre da mulher
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
tu que inventas bonecas e comboios de luar
e mentes ao teu filho por não os poderes comprar
és meu irmão, amigo, és meu irmão
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão
pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
és meu irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'