Díli, 26 (Lusa) - Timor-Leste tem
condições e recursos próprios disponíveis para investir paralelamente nas
infraestruturas e na sua população, e deve fazê-lo porque é um "país rico
onde há demasiados pobres", disse à Lusa um responsável do Banco Mundial.
"O que estamos a tentar
convencer o Governo é de que o enfoque apenas no lado das infraestruturas não é
suficiente. De que o Governo poderia e deveria, na nossa opinião, investir mais
nas pessoas. Tanto o capital físico como o humano são importante se o país tem
condições para responder às duas necessidades com suficientes recursos",
disse à Lusa o diretor do Banco Mundial para a Indonésia e Timor-Leste, Rodrigo
Chaves.
Em entrevista à Lusa, durante uma
visita a Díli, Chaves disse que o Banco Mundial continuará a responder ao
interesse de Timor-Leste em ter apoio no setor das infraestruturas, explicando
que a instituição "triplicou a disponibilidade de financiamento
bonificado, de 30 para 90 milhões [de dólares, 79 milhões de euros]".
Considerando "um luxo" ter
num fundo próprio cerca de 10 vezes o seu PIB, o costa-riquenho disse que isso
é uma "oportunidade enorme" que não deve ser perdida, devendo o
estado procurar fazer "um bom uso da sua boa fortuna".
"Este país é rico. Não sei
muitos países no mundo que podem dizer que têm num fundo que é 10 vezes o seu
PIB. Nasceram ricos e se investirem esse fundo de forma eficiente e eficaz
decidirão o futuro", considerou.
Questionado sobre o facto da
economia depender muito do dinheiro do Estado, Chaves diz que se deve não deve
haver uma "obsessão religiosa sobre esta questão" e que importa olhar
para "o contexto deste país neste momento particular".
"A questão é como fazer o
máximo através das decisões de alocação de fundos. Quanto se investe em capital
e em desenvolvimento humano, procurar mais eficiência técnica", disse.
"Estão a conseguir-se os
quilómetros de estradas de qualidade, estão a ser construídos suficientemente
rápido? Está a gastar muito em educação, mas estão as crianças a aprender?
Foquem-se nos resultados do investimento. Estudem os investimentos, façam
estudos de viabilidade, tentem olhar para o futuro", disse.
Rodrigo Chaves recorda que o
mundo está a mudar em vários aspetos, desde o modelo laboral à energia, e que
Timor-Leste "tem o luxo de poder planear o seu próprio futuro porque tem
os recursos para o fazer".
Um dos setores onde é urgente
intervir é no combate ao nanismo que afeta mais de metade das crianças até aos
cinco anos, o que representa uma "hipoteca no futuro das crianças que são
vítimas de má nutrição no início das suas vidas".
"Os estudos mostram que em
crianças com nanismo até à idade de 5, os seus cérebros já estão
irreversivelmente danificados, de tal forma que não conseguirão aprender tão
bem como o resto das crianças. E aqui estamos a falar de metade da
população", afirmou.
"Isso, só por si, mostra que
metade da futura força laboral já enfrenta desafios. Este é um mundo cada vez
mais competitivo, a natureza da força de trabalho mudou, a força muscular é
menos necessária e que o temos na cabeça é o que torna as pessoas mais
produtivas. E sem isso não seremos mais produtivos. O rendimento das pessoas
depende diretamente disso", sublinhou.
Combater o problema obriga a
soluções de convergência - "fornecer os serviços sociais básicos e mudar
os comportamentos sociais, ao mesmo tempo, no mesmo local, para a mesma
comunidade", em áreas como saneamento, nutrição, cuidados de saúde.
Isso obriga a mais dinheiro, mas
também a uma aplicação mais eficaz do dinheiro disponível, explicou, dando como
exemplo a Indonésia onde foi feito um mapa nacional de zonas de alta
incidência.
O Governo indonésio tem destinado
ao combate do nanismo 14 mil milhões de dólares em quatro anos e a intervenção
procura colmatar lacunas que existem nos vários locais, tornando a aplicação
dos fundos mais eficaz.
"O Governo precisa de
garantir que serviços públicos básicos para uma sociedade saudável, estão
disponíveis onde a população vive. E se esses investimentos não existem isso
significa dinheiro", afirmou.
"Mas também pode ser a
solução usar o que temos de forma mais eficaz", disse.
Investir nas pessoas, afirmou, é
essencial para ir reduzindo as 'gaps' construídas ao longo de séculos com
planos desenhados e eficazmente implementados.
Considerando que o êxito da ação
do Banco Mundial em Timor-Leste depende da capacidade de encontrar o modelo
mais adequado à situação local, Chaves disse que a instituição une
"experiência internacional com conhecimento do país".
E sobre os desafios e obstáculos
burocráticos que ainda se sentem em Timor-Leste, Chaves diz que em todo o mundo
se quer tudo o mais rapidamente possível, mas também da forma mais eficiente em
termos de custos.
Dando como exemplo o facto do
Governo, apesar do impasse político do país, ter conseguido continuar a pagar
salários e a manter o funcionamento dos serviços básicos, Chaves reiterou a
disponibilidade do Banco Mundial para ajudar a lidar com questões de gestão e
administração.
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