Jacarta, 20 abr 2019 (Lusa) -- A
ex-conselheira presidencial indonésia Dewi Fortuna Anwar afirmou que o país
deveria ter engolido o seu "orgulho nacionalista" e permitir a
entrada de capacetes azuis em Timor-Leste mais cedo, em 1999, para travar a
violência antes e depois do referendo.
"O que mudaria hoje se
soubesse que isso ia acontecer? Teria argumentado de forma mais forte para
permitir a entrada de uma força internacional mais cedo", disse a antiga
conselheira do Presidente Habibie, em entrevista à Lusa.
"Deveríamos ter engolido
algum do nosso orgulho nacionalista e dizer que era melhor a nossa honra ficar
dorida, mas a nossa reputação ficar intacta", sublinhou.
Admitindo que o cenário de
violência era expectável, "mesmo se o resultado fosse o contrário",
Anwar diz que a Indonésia tem que assumir responsabilidade pelo que aconteceu,
já que assumiu para si a responsabilidade pela segurança.
"A Indonésia recusou ter
forças de paz internacionais por causa desta postura nacionalista forte de que
não aceita forças externas em território indonésio. Nós somos não alinhados,
não aceitamos forças estrangeiras no nosso território", disse.
Parte do problema, sustenta,
deveu-se à posição da ONU de que a segurança deveria, no essencial, ser
garantida pela polícia que era "o parceiro júnior das Forças de Defesa, as
ABRI, e que, por isso não era suficientemente forte para garantir a segurança
no terreno".
Assumir essa responsabilidade,
porém, ia muito mais além do que apenas a questão de Timor-Leste já que,
insiste, na mesma altura, se estava a "tentar salvar a própria indonésia,
a consolidar o tecido da sociedade indonésia".
"E isso dependia de
continuar a ter os militares a apoiar o processo de reforma. Não podíamos
antagonizar ou alienar completamente os militares nessa altura. O general
Wiranto apoiava a 'reformasi', mas todos sabiam que o governo civil era muito
frágil", recordou.
Dewi Fortuna Anwar, que este ano
completa 61 anos, é investigadora e professora no Instituto Indonésio de
Ciências (LIPI) e foi conselheira de Bacharuddin Jusuf Habibie, que assumiu a
Presidência indonésia depois da queda de Suharto em 1998.
Apesar do que diz ser a vontade
de resolver o assunto pacificamente, 1999 acabou por se tornar um ano
particularmente violento, com vários massacres e, depois, a destruição de
grande parte das infraestruturas do país, após o anúncio dos resultados do
referendo.
Habibie, disse Anwar, acompanhava
o assunto com "grande preocupação" em particular porque a vontade de
resolver o assunto rapidamente era, exatamente, "para evitar um banho de
sangue", já que o prolongamento do processo daria mais oportunidade aos
apoiantes da independência e da integração para "consolidar
posições".
"Os grupos anti-integração
poderiam ter apoio externo, aberto, à sua posição e os pró-integração ter o
apoio das forças de segurança indonésias. E isso poderia levar a uma guerra
civil", afirmou.
Hoje, referiu, é "importante
que Timor-Leste e a Indonésia olhem para o futuro".
A Indonésia, mesmo as vozes que
estavam contra o referendo, como a ex-Presidente Megawati Sukarnoputri,
aceitaram o resultado e os líderes timorenses "mostraram grande
maturidade" em olhar para o futuro.
"Mostra que indonésia é
adulta e matura suficiente e sabe reconhecer que o que está feito está feio e que
podemos não esquecer, mas predamos e temos que avançar. Aplaudo os líderes
timorenses, alguns que estiverem detidos em cadeias na Indonésia, como Xanana
Gusmão em particular, por terem feito isso", afirmou.
"Não podemos escolher o
nosso passado, mas podemos escolher o nosso futuro e o futuro da Indonésia e de
Timor será sempre próximo e esses laços são do interesse de Timor",
afirmou
ASP // PJA