Díli,
06 out (Lusa) - Confusões com tradutores oficiais do Tribunal de Díli marcaram
os primeiros dois dias do julgamento da ex-ministra das Finanças timorense,
Emília Pires, com Ministério Público e defesa a pedirem a substituição dos
intérpretes.
Durante
as duas primeiras sessões do julgamento, os intérpretes erraram várias vezes
nas traduções entre português e tétum, e vice-versa, levando os juízes, o
Ministério Público e até membros do público presente a sugerir correções.
Em
alguns casos os tradutores chegavam mesmo a interpretar o que era dito pelas
partes, em vez de se limitar a traduzir, atrasando todo o processo causando
confusões, por exemplo, na interpretação de requerimentos apresentados.
Apesar
da confusão o coletivo de juízes liderado por José Maria Araújo rejeitou os
pedidos tanto da acusação, liderada pela procuradora Angélica Saldanha, como da
defesa de Emília Pires - os advogados portugueses Frederico Bettencourt
Ferreira e Carolina Mouraz e o timorense José Camões - para nomear novos
intérpretes.
Emília
Pires começou a ser julgada na segunda-feira, em Díli, acusada da prática de
crimes de participação económica em negócio e administração danosa quando ainda
era ministra.
Pires
e a ex-vice-ministra da Saúde Madalena Hanjam são arguidas por alegadas
irregularidades na compra de centenas de camas hospitalares em contratos
adjudicados à empresa do marido da ex-ministra das Finanças, com um suposto
conluio entre os três para o negócio, no valor de 800 mil dólares.
O
julgamento tinha sido adiado a 23 de março depois da apresentação pela defesa
de Emília Pires de vários recursos por alegadas irregularidades, entretanto
indeferidos.
A
acusação tem previsto ouvir 24 testemunhas, sendo a mais destacada Nelson
Martins, ex-ministro da Saúde, que começou a ser ouvido hoje.
A
defesa tem cerca de duas dezenas entre as quais vários notáveis timorenses
incluindo os ex-presidentes da República Xanana Gusmão e José Ramos-Horta, o
ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri, o ex-ministro da Saúde Sérgio Lobo e a
deputada Fernanda Lay.
Recorde-se
que, em setembro a defesa de Emília Pires já tinha solicitado ao tribunal
nomear um intérprete seu, ideia que hoje foi apoiada pelo Ministério Público
que chegou a pedir para trocar de tradutor, mas que o juiz rejeitou, alegando
que os tradutores eram experientes.
A
confusão dos intérpretes foi ainda maior na sessão de hoje, quando começaram a
ser ouvidas as primeiras testemunhas da acusação, levando a defesa a pedir para
que os tradutores fizessem um juramento de honra, algo também apoiado pelo
Ministério Público.
O
tribunal inicialmente aceitou, pensando - por erro do tradutor - que se tratava
de jurar uma assessora da equipa de defesa, que estava a ajudar traduzir, mas
depois, quando a questão foi clarificada, rejeitou, alegando que os tradutores
já tinham jurado quando tomaram posse.
Perante
isto a defesa apresentou um novo requerimento, alegando que se o juramento não
fosse feito poderia estar-se perante um vício processual. Perante a recusa do
tribunal avançaram para um recurso, insistindo que não deveria ter carater
suspensivo.
Os
primeiros dias ficaram ainda marcados por requerimentos do Ministério Público e
da defesa de Madalena Hanjam para juntar novos documentos ao processo - que têm
ainda que ser solicitados a várias entidades timorense.
Foi
ainda ouvida a primeira testemunha da acusação, Manuel Silva Sousa, chefe de
logística do Hospital Nacional Guido Valadares, que confirmou que as camas
estavam todas a ser utilizadas, eram de grande qualidade e estavam em perfeito
funcionamento.
O
tribunal começou a ouvir Nelson Martins que confirmou a necessidade da compra
das camas e que explicou que todo o processo de compra foi aprovado pelo então
primeiro-ministro, Xanana Gusmão.
A
audição das testemunhas da acusação deverá prolongar-se em várias sessões até
pelo menos 13 de outubro devendo o julgamento ser retomado depois a 3 de
novembro, altura em que poderão começar a ser chamadas as testemunhas da
defesa.
ASP