Sentenciados
a oito anos de prisão, cada um, por "peculato", Tiago e Fong Fong
Guerra invocam motivos de saúde e necessidade de tratamentos médicos que não
obtêm em Díli. Com a fuga, por barco, para Darwin, forçam uma negociação
política do seu caso - pretendem regressar a Lisboa e que o recurso que
interpuseram seja apreciado por tribunais portugueses. Os contactos são
intensos e até já envolvem Marcelo Rebelo de Sousa
Tiago
e Fong Fong Guerra chegaram ao limite. A 6 de novembro ele ainda se apresentou
num posto da polícia de Díli, como estava obrigado a fazer todas as
segundas-feiras, em cumprimento da medida de coação que lhe fora imposta pela
juíza Jacinta Costa. Mas três dias depois, na quinta-feira, 9 de novembro, o
casal decidiu-se mesmo pela fuga de Timor-Leste: apanharam um barco que, após
mais de 30 horas de viagem, no meio de uma tempestade, os fez desembarcar em
Darwin, na Austrália. Tinham os passaportes e os cartões de cidadão
portugueses, mas não possuíam os necessários vistos de entrada. Foram
encaminhados pela polícia fronteiriça australiana para um campo de acolhimento
de estrangeiros, perto do aeroporto de Darwin.
Pouco
depois, iniciaram-se intensos contactos políticos entre Lisboa e Díli - soube a
VISÃO de fontes fidedignas. Do lado português, intervêm o Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, e, em grande proximidade com Belém, os
ministros dos Negócios Estrangeiros e da Justiça, Augusto Santos Silva e
Francisca Van Dunem, respetivamente. Da parte timorense, são interlocutores o
Presidente, Francisco Lú Olo, o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, e a ministra
da Justiça, Maria Ângela Carrascalão. Mas está sobretudo nas mãos de
Ramos-Horta a chave para uma solução justa, na perspetiva do que Tiago e
Fong Fong Guerra pretendem alcançar com esta fuga em desespero de causa. Em
resumo, explica à VISÃO um familiar do casal, desejam que uma "boa
negociação" entre Lisboa e Díli permita a transferência do seu processo
para o nosso país, ao abrigo da Lei de Cooperação Judiciária Internacional em
matéria penal, de maneira a ser apreciado por tribunais portugueses. E invocam
"razões humanitárias" - as doenças de que agora Tiago e Fong Fong
Guerra padecem, clinicamente comprovadas, e para as quais não tinham tratamento
médico em Timor. Já lá iremos.