Preâmbulo:
Em 8 de Julho de 2008 corria a notícia que dá título a este espaço. Na sequência
do conhecimento do facto imputado à governação de Xanana Gusmão os estudantes
universitários protestaram, já então, 9 anos volvidos, estava no pómio da discórdia
e do esbanjamento governamental os carros de luxo que eram comprados e cedidos
aos deputados, sob condições que posteriormente os favoreciam indubitavelmente
se os quisessem “comprar”. 21 estudantes foram presos nesse protesto.
Na época
os excessos policiais foram os do costume, imparáveis e ilegais. Nada aconteceu
aos selvagems da polícia nem aos que os comandavam e que certamente ainda os
comandam… contra o povo que contesta os excessos e abusos de poder de uma elite
que tem por principio ignorar e desrespeitar as opiniões e vontades daqueles
que os elegem.
O
ministro da Educação de então, João Câncio, criticou os estudantes pelo seu
protesto. Talvez em nome da “democracia”… Atualmente e desde há poucas semanas
João Câncio está numa prisão timorense, em Gleno, a cumprir uma pena de prisão
de 4 anos e 6 meses… por corrupção. Outros políticos adstritos aos poderes
governativos também já foram apanhados nas malhas da justiça… por corrupção. Outros
não. Xanana Gusmão também ainda não…
Tais
condenações só estão a provar o que há muitos anos, após a independência do país,
tem vindo a lume e é voz corrente: Alguns das elites timorenses usam práticas criminosas
e corruptas que justificadamente preocupam e indignam o povo timorense. E
depois não querem que existam protestos?
Em
2008 foram presos estudantes contestatários. Atualmente, em 21 de Agosto, ontem, aconteceu o mesmo,
foram presos estudantes. Como pode ser possível situações tão evidentes de má-governação
(pelo menos) e abusos de poder acontecerem ao longo de tantos anos repetidos sem que
a agitação social, a indignação, não venha à tona. Povo que cala consente, ou é
reprimido às ordens de uma elite putrefacta. Justificação para o que aconteceu ontem em Díli? Mais parece que saiu o tiro pela culatra e que os estudantes universitários não vão entregar de mão-beijada o ouro ao bandido - como soe dizer-se.
A
seguir, se continuar a ler, o referido assunto na época.
Mário
Motta | Timor Agora
Governo Xanana Gusmão esgota Fundo de Petróleo e prende estudantes (histórico)
Na
segunda-feira 7 de Julho, às 9 da manhã, aproximadamente 100 estudantes
efectuaram um protesto no seu campos, a Universidade Nacional de Timor Leste,
contra os membros do parlamento. Os estudantes não estão satisfeitos com os
deputados, que estão prestes a comprar carros de luxo para si mesmos. Os
estudantes protestaram pacificamente ostentando faixas, mas 21 deles foram
detidos pela Polícia Nacional.
A lei timorense declara que não pode haver manifestações num raio de 100 metros
de edifícios governamentais. Entretanto, os estudantes estavam a protestar no
seu próprio campus. A localização do mesmo na verdade está a menos de 100
metros do Parlamento. Contudo, trata-se de um campus de estudantes, um lugar
importante para a livre expressão e manifestações.
Não está claro quem emitiu a ordem de prisão dos estudantes, mas acredita-se
que a ordem tenha vindo do próprio primeiro-ministro Xanana Gusmão.
Em 23 de Maio de 2008 o Conselho de Ministros aprovou a minuta final do
Orçamento Intercalar de 2008. O montante total proposto é de US$773,3 milhões,
a ser gasto como se segue: 59,4 milhões para salários dos 12.600 funcionários
civis, incluindo polícia e forças de defesa; 240 milhões para a crise
alimentar; 207,4 milhões para bens e serviços; 1,4 milhão para comprar carros
de luxo para cada membro do Parlamento; 114,7 milhões para desenvolvimento de
infraestruturas e 112,2 milhões para pensões e segurança social.
O governo Gusmão cortou o imposto interno de rendimento para a taxa fixa de 10%
e gastou quase 30% do Fundo de Petróleo para cobrir seu défice orçamental. O
Fundo de Petróleo foi estabelecido pelo governo anterior da Fretilin. Mas agora
o fundo está ameaçado. A fim de ser sustentável, apenas US$396 milhões deveriam
ser retirados do fundo este ano. Contudo, o governo Gusmão retirou US$290,7
milhões extras para equilibrar os preços do material de construção e assistir à
crise alimentar, encarregando o seu amigo, o vice-secretário geral do CNRT, de
comprar arroz em países asiáticos sem concurso.
A contínua incapacidade do governo para executar o orçamento anterior não
impediu Gusmão de aumentar as dotações orçamentais. Apenas US$31,9 milhões dos
US$347,5 milhões das dotações foram realmente executadas neste primeiro
trimestre. A execução anterior do orçamento de transição do governo Gusmão não
foi certificada pela Delloitte Company, a qual habitualmente certifica o
relatório de execução do governo timorense.
As questões da compra de carros de luxo e do Fundo de Petróleo agora são
importantes no país. A sociedade civil, os media e o povo timorense criticaram
este orçamento, mas os académicos estão mudos porque o seu dinheiro vem do
governo. Por sua vez, o ministro da Educação, João Câncio, criticou os
estudantes e pediu-lhe para não usar o campus como lugar para manifestações.
Ironicamente este ministro era anteriormente o responsável pelo Instituto de
Tecnologia de Dili, uma das universidades do país.
As manifestações de estudantes continuam. A polícia continua a proteger a zona
do parlamento e prendeu mais de 17 estudantes nesta manhã. A carga sobre os
estudantes é irónica, considerando o papel chave que os estudantes desempenharam
na luta de Timor Leste pela independência, um papel que o próprio
primeiro-ministro Gusmão reconhecer anteriormente.
[*] Director de Luta Hamutuk, ONG progressista de
Timor.
O original encontra-se em
http://links.org.au/node/514
Esta notícia encontra-se em
http://resistir.info/