Díli, 25 abr (Lusa) - O líder da
Fretilin, no Governo em Timor-Leste, afirmou hoje que os ataques de que tem
sido alvo durante a campanha para as eleições antecipadas de 12 de maio são uma
tentativa de "passar uma esponja pela história", a que não vai
responder à letra.
"É uma tentativa de passar
uma esponja pela história, para se afirmar o culto da personalidade. Isso não é
de agora, a tentativa de matar a Fretilin e as Falintil que são os capitais
simbólicos da resistência, para aparecer o culto da personalidade",
afirmou Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste
Independente (Fretilin).
Alkatiri referia-se assim a várias
críticas que têm marcado a primeira metade da campanha, insistindo que não está
a responder a "insultos" e que prefere explicar ao eleitorado e o
programa do partido.
"Não há troca de insultos
porque não insultei ninguém. O insulto é num sentido só. Não faço campanha
contra ninguém, faço campanha para tirar o povo da pobreza e da pobreza extrema
que existe aqui. Essa é a única campanha", afirmou.
Os líderes e militantes da
Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), incluindo Xanana Gusmão e Taur Matan
Ruak, têm marcado parte do seu discurso por duras críticas à Fretilin, ao
ex-Presidente e atual ministro, José Ramos-Horta e a Mari Alkatiri.
Muitos dos comentários referem-se
ao passado da luta contra a ocupação indonésia e pela independência de
Timor-Leste, com tentativas de alguns dirigentes de politizarem os diferentes
braços da resistência: armada, clandestina e diplomática.
"As pessoas querem
afirmar-se matando outros pela segunda ou pela primeira vez porque sabem que
não conseguem afirmar-se sem matar outros, no sentido figurado, claro. Mas têm
que se convencer que não vão conseguir isso", afirmou.
Questionado sobre o regresso de
José Ramos-Horta ao partido - tem feito ativamente campanha pela Fretilin -
Alkatiri diz que traduz uma "consciência nacional, da nação toda, de que é
tempo de se fazer justiça, de não se deixar que uma pessoa só se afirme como
dono deste país".
E recua ao passado, reiterando o
reconhecimento pelos que lutaram no mato, mas insistindo que se deveu à
Fretilin a formação da rede clandestina nacional que apoio os guerrilheiros e
os laços com a rede externa.
"Se as populações nas zonas
ocupadas, depois de 1981, 82, 83 se organizaram e se criou a frente
clandestina, para servir de base de apoio às Falintil e de trampolim de
informação para o exterior, foi porque esta gente teve três anos a ter uma
edução patriótica intensiva nas zonas controladas pela Fretilin. Não nasceu pela
cara bonita de A, B ou C", disse.
"Os guerrilheiros quando
estavam a ser perseguidos nas montanhas refugiavam-se nas populações. Já nos
anos 90 Xanana escreveu uma carta para nós em que disse: "os indonésios
perguntam à Fretilin se viu a Fretilin e a Fretilin responde que não viu a
Fretilin", explicou.
Ainda que seja necessário par ao
país escrever a sua história, Alkatiri discorda que isso se tente fazer em
campanha, quando há posições extremadas em que cada um quer vencer "e
falseia a história".
"Eu não tenho interesse
nenhum nisso. Fiz o meu trabalho. Dentro das limitações que todos tínhamos. E
acho que cumprir a minha missão. Mas não me declaro herói. Cada um fez o seu
trabalho e tudo juntos é que conseguimos levar o pais a restaurar a independência",
afirmou.
"Tudo o que eu já fiz podem
levar, dizer que é vosso. Mas o que eu ainda vou fazer só me pertence a mim,
porque sai da minha cabeça, do meu coração e do meu pensamento", disse.
Sobre as eleições, insiste que a
Fretilin está "muito mais forte que em 2017", com muitas organizações
divididas a regressar ao partido e que a vantagem matemática com que a AMP
parte - os três partidos tiveram, juntos, 85 mil votos mais que a Fretilin -
não se manterá.
"Esta coligação é para
subtrair não para adicionar, porque é contranatura. Não existe vantagem. Por
isso sempre lhes disse que eles dançam com os 35 [deputados] no salão [do
Parlamento Nacional] que nós vamos cantar e dançar com o povo", disse.
A AMP é formada pelos três
partidos da oposição - CNRT, PLP e KHUNTO - que em conjunto controlam 35 dos 60
lugares do parlamento e que bloquearam o programa e orçamento do Governo.
"Eles estão a descer cada
dia, porque têm reagido de forma emocional, pouco racional. Espero que parem
por aí, porque se não isso é prejudicial para eles. Especialmente para figuras
como Xanana e Taur Matan Ruak que são figuras incontornáveis da luta, são
património da luta. E eu não nego o papel de ninguém na história da luta",
afirmou.
E mostra-se convicto de que a
aliança entre Fretilin e PD, no atual Governo, continuará depois das eleições,
rejeitando o que dizem que o partido liderado por Mariano Sabino facilmente
voltará a apoiar um executivo liderado por Xanana Gusmão.
O PD, disse, é um "partido
de futuro", não quer repetir o "fracasso" da Governação com o
CNRT e tem com a Fretilin "uma aliança sólida" que vai permitir que
"os dois partidos com raízes no povo se mantenham".
"O CNRT sem Xanana não
existe. O PD perdeu o seu líder e manteve-se, mostrou isso. A Fretilin, é parte
da historia, da cultura da Fretilin que cai um e outro aparece", disse.
As eleições realizam-se a 12 de
maio.
ASP // JPS | Foto: em FRETILIN Facebook