Madabeno, Timor-Leste, 21 abr
(Lusa) - O ex-Presidente timorense José Ramos-Horta é um dos fundadores da
Fretilin, mas há décadas que não vestia, nem literal nem politicamente, a
camisola do partido, mantendo-se apartidário ou dando apoio, nos bastidores, a
outras forças políticas.
O regresso à Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), evidente na campanha em
curso para as eleições antecipadas de 12 de maio em Timor-Leste, é tão 'fresco'
que Ramos-Horta tem uma única camisola.
"Tenho que a estar sempre a
lavar", confessou à Lusa, já vestido com a camisola vermelha, do lado
esquerdo do peito a bandeira do partido, do direito, a branco, o seu nome e o
título "Fundador".
A conversa decorre no pequeno
suco de Madabeno, nas montanhas do município de Aileu, a sul de Díli. A poucos
quilómetros, no Remexio, também num mini-comício, está o maior rival da
Fretilin, a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP).
Formada pelos três partidos da
oposição maioritária, a AMP é liderada por Xanana Gusmão - que saiu hoje em
viagem para Nova Iorque - e por Taur Matan Ruak, ambos, como Ramos-Horta,
ex-Presidentes da República.
A Fretilin, que bateu por uma
margem mínima o CNRT de Xanana Gusmão nas eleições de julho de 2017, está no
Governo apenas desde outubro, momento a partir do qual a tensão política em
Timor-Leste aumentou, com a oposição a travar o programa e o orçamento e o país
a entrar num impasse que foi resolvido com a decisão do atual chefe de Estado
de dissolver o parlamento e convocar eleições antecipadas.
Em entrevista à Lusa, o atual
ministro de Estado - Ramos-Horta foi convidado, como independente, para se
juntar ao Governo liderado por Mari Alkatiri (secretário-geral da Fretilin) -
explica o porquê do regresso ao partido.
Continuar o que foi feito bem nos
últimos 10 anos, corrigir as "muitas coisas que têm sido mal feitas"
e dar um "novo rumo à política económica e de desenvolvimento",
explica.
Por outro lado, garante, "há
apenas dois partidos que se enraizaram em Timor-Leste: um é a Fretilin, o outro
o PD [Partido Democrático", já que, afirma, "o CNRT é Xanana Gusmão,
é a sua personalidade e o PLP é um partido novo, que ainda não provou
rigorosamente nada e está também ele centrado na figura de Taur Matan
Ruak".
Convicto de que se Xanana se
afastar do CNRT, o partido desaparece, com "muitas divisões e
desconfianças internas", Horta diz-se preocupado com "o futuro do
sistema político partidário de Timor porque daí vem a democracia".
"Quero que a Fretilin ganhe,
que o PD ganhe, sem claro menosprezar Xanana Gusmão. Acredito numa vitória da
Fretilin, juntamente com o PD [parceiro no atual Governo] e que vão convidar
Xanana para ver em que papel quer contribuir nos próximos anos", afirmou.
A 'caravana' partidária é o mais
pequena possível: Ramos-Horta, um condutor e a sua assistente, num único carro,
seguido pelo da reportagem da Lusa.
"A minha contribuição à
campanha da Fretilin tem sido ir encontrar-me com pequenos grupos em aldeias
remotas, por estradas infernais e perigosas", conta, explicando que nos
últimos dias tem conduzido o seu próprio jipe, mas que hoje preferiu vir 'à
boleia'.
Praticamente a chegar a Madabeno,
juntou-se ao grupo um outro carro, para mostrar o caminho, e mais adiante três
motas com jovens com bandeiras da Fretilin, que sobem e baixam e ziguezagueiam
na estrada ao ritmo dos muitos buracos que fazem demorar o curto percurso.
De Díli a Madabeno são cerca de
25 quilómetros, para sul, quase todos montanha acima, até tocar as nuvens. Mais
de metade do percurso é feito em estradas cheias de buracos, enlameadas, com
zonas onde há pedaços caídos para o penhasco.
Como todos os atos de campanha em
Timor-Leste, também este tem a presença de observadores da Comissão Nacional de
Eleições (CNE) que de imediato apontam um problema: há cartazes colados nas
paredes do edifício escolar que rodeia o recinto.
Isso não é permitido pela lei
eleitoral e por isso muda-se a mesa de honra e o equipamento para outro lado:
um retângulo de cimento onde ainda se notam as marcas quase apagadas do que
seria um campo de jogos.
Este é um encontro pequeno.
Habitantes da zona, duas ou três camionetas que transportam os que vivem mais
longe. Uma oportunidade, explica o apresentador, para "falar do programa
da Fretilin".
E que começa com Horta de punho
erguido e o hino do partido.
ASP // FPA