Macau,
China, 24 abr (Lusa) - O Ministério Público de Macau admitiu hoje, durante as
alegações finais sobre o caso do jovem português encontrado morto em 2007, que
não foram feitas todas as diligências sugeridas, mas negou quaisquer ilicitudes
por parte das autoridades.
Em
causa está o processo interposto pelos pais contra o Governo de Macau por
negligência na investigação da morte do seu filho. Luís Amorim tinha 17 anos
quando foi encontrado sem vida junto à ponte Nobre de Carvalho, a 30 de
setembro de 2007.
A
polícia concluiu que se tratou de um suicídio, uma tese que a família rejeitou
desde o início, acusando as autoridades de nunca terem realmente investigado a
hipótese de homicídio.
Hoje,
o magistrado do Ministério Público (MP) Joaquim Sousa admitiu alguns factos
apontados como falhas pelos pais, como a lavagem imediata do local onde o jovem
foi encontrado, não permitindo recolha de indícios.
Reconheceu
também que algumas diligências sugeridas pelos pais - que se constituíram
assistentes da investigação - não foram realizadas, mas que tal se justificou,
até porque "o assistente colabora com o MP, não é o MP que colabora com o
assistente, senão era a balbúrdia total".
Uma
das diligências requisitadas foi a realização de uma segunda autopsia, que o
advogado da família garante ter sido pedida "sucessivamente, oito a dez
vezes", e que o MP diz "não ter sido necessária".
Joaquim
Sousa admitiu também que não foi feita "uma reconstituição dos
acontecimentos no Bex", bar onde o jovem foi visto pela última vez e onde
se suspeita que algo relevante possa ter acontecido, porque "nenhuma ideia
havia sobre o que se passou no Bex". "Há um manto de silêncio sobre o
assunto. Como é que a polícia pode reconstituir?", disse.
O
bar, que fechou pouco tempo depois do incidente, também não foi imediatamente
investigado nem pedidas as gravações de videovigilância. "Como podiam ir
imediatamente ao bar se não sabiam onde o Luís tinha estado", justificou o
magistrado.
A
família alertou ainda as autoridades para relatos vindos de funcionários do Bex
que traçavam cenários sobre a morte - um segurança terá mesmo dito que o jovem
morreu na passagem superior do Centro Cultural de Macau, em frente ao bar - mas
queixa-se de estes nunca terem sido interrogados.
"A
polícia não ouviu os funcionários, mas isso não quer dizer que não tenha feito
diligências para os encontrar. Mas ia sempre parar a becos sem saída",
afirmou o MP.
Por
fim, os pais criticaram que a roupa do jovem nunca tenha sido analisada, apesar
de se encontrar rasgada nalgumas zonas, ao que Joaquim Sousa respondeu que tal
aconteceu porque o pai pediu que lhe fossem entregues.
O
magistrado pôs ainda em causa o relatório pericial encomendado ao Instituto
Nacional de Medicina Legal - que indica taxativamente que as lesões de Luís
Amorim não eram compatíveis com uma queda, mas com agressões - defendendo que
"os peritos de Coimbra basearam-se em fotografias, num relatório com problemas
de tradução e numa exumação que não permite análise dos tecidos moles".
"Os
médicos de Macau fizeram a autópsia, tiveram imediação com o cadáver, acredito
que tenhaM uma ideia mais rigorosa", concluiu.
Nas
alegações finais, o advogado da família, Pedro Redinha, voltou a defender que
as autoridades rotularam o caso como suicídio desde o início, que não foi
provado que Luís Amorim esteve sequer na ponte e que não houve daí qualquer
queda - teses que sustentou com uma longa lista de prova documental, pericial e
de testemunhas.
ISG
// VM