Díli,
26 mai (Lusa) - A eurodeputada portuguesa Ana Gomes apelou hoje à justiça
timorense para que considere "questões humanitárias" e altere a
medida de coação aplicada a Tiago Guerra, em prisão preventiva desde outubro,
por suspeita de branqueamento de capitais.
"Espero
que possa ser revista a medida de coação, tendo em conta razões humanitárias.
Desde logo as condições de saúde que fizeram Tiago Guerra ir ao hospital duas
vezes em situação muito crítica e depois o próprio trauma de família, com
filhos pequenos separados dos pais, algo que pode ser minimizado se a prisão
preventiva for num regime menos gravoso, como prisão domiciliária", disse
Ana Gomes à agência Lusa em Díli.
Ana
Gomes falava à Lusa no final de uma visita de três dias que efetuou a Díli,
durante a qual, além de visitar o português Tiago Guerra na cadeia de Becora,
em Díli, se encontrou com vários responsáveis timorenses, incluindo o chefe de
Estado, Taur Matan Ruak, o primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, e o
antecessor deste, Xanana Gusmão.
A
eurodeputada, esteve ainda reunida com o ministro Coordenador da Justiça,
Dionisio Babo, com o ministro de Estado e da Presidência do Conselho de
Ministros, Agio Pereira, e com os advogados do cidadão timorense, não tendo
conseguido reunir-se com o procurador-geral.
"O
meu apelo às autoridades timorenses foi sobretudo centrado sobre a questão da
revisão da medida de coação que está a ser aplicada", disse.
"Senti
compreensão por parte das autoridades timorenses. Isto não é uma decisão das
autoridades executivas, mas sim do poder judicial", recordou.
Destacando
o trabalho da equipa de advogados de defesa, designada pelos timorenses, Ana
Gomes mostrou-se esperançada de que a justiça reaja relativamente à medida de
coação, "para que possa aguardar de forma menos traumatizante e
devastadora para os laços familiares o desfecho da investigação e eventual
julgamento".
Ana
Gomes referiu-se ainda aos eventuais laços entre este caso de Tiago Guerra e o
de Bobby Boye, um ex-conselheiro do setor petrolífero do Governo timorense que
em abril se declarou culpado, num tribunal federal norte-americano, de
conspiração para defraudar Timor-Leste em mais de 3,5 milhões de dólares.
Para
Ana Gomes, o facto de Boye se ter declarado culpado, "dando todos os
detalhes" sobre a sua burla, pode abrir "alguma esperança" no
caso de Tiago Guerra, clarificando exatamente que "não há necessariamente
relação" entre os dois casos.
Ana
Gomes disse esperar que a justiça timorense atue "com independência e o
mais rapidamente possível.
"Eu
não ponho em causa que a justiça timorense tem que fazer o seu trabalho com
independência. Ainda por cima, num caso em que há suspeitas de corrupção, de
branqueamento de capitais", declarou, sublinhando, contudo: "Não
posso ignorar que esta prisão ocorreu naquele contexto do braço de ferro que
levou à expulsão dos juízes portugueses, um episódio triste, em que a própria
justiça se dotou para afirmar a sua independência face ao poder
executivo".
Ana
Gomes disse que se deslocou a Díli porque é "amiga de Timor" e sempre
trabalhou "para o bom relacionamento entre Portugal e Timor" e que
todos os contactos que manteve, incluindo com Tiago Guerra, podem ser uteis.
Questionada
sobre a situação do detido, Ana Gomes disse que este está "muito magro,
mas bem" e "confiante" de que os elementos que já deu, e possa
vir a dar, permitam esclarecer o assunto "e que a sua inocência seja
demonstrada".
"Mas
está consciente de que está com a sua vida toda paralisada, que tem uma
situação dramática com a separação de pais e filhos e também que este é um
processo lento que tem a ver com as próprias capacidades da justiça
timorense", concluiu.
ASP
// ARA