Lisboa,
05 nov (Lusa) - A próxima secretária executiva da CPLP defendeu hoje que a
comunidade lusófona "tem uma enorme potencialidade", em recursos
naturais, humanos e estratégicos, que deve ser aproveitado para o
desenvolvimento social e económico dos Estados Membros.
"Somos
nove países, distribuídos em quatro continentes, com cerca de 300 milhões de
habitantes. Se a CPLP fosse um único país, seria a quinta maior economia do
mundo, portanto acredito que não se pode fechar os olhos a essa realidade e
temos de tirar partido", disse Maria do Carmo Silveira em entrevista à
Lusa.
De
passagem por Lisboa no regresso da Cimeira da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), que decorreu em Brasília entre segunda e terça-feira, a
ainda governadora do Banco Central de São Tomé e Príncipe disse que "a
comunidade é diversa naquilo que cada um pode oferecer, mas todos têm
potencialidades que podem ser aproveitadas".
Questionada
sobre a exequibilidade de uma maior cooperação económico-empresarial dos nove
países membros, um objetivo definido na Nova Visão Estratégica aprovada em
Brasília, a antiga primeira-ministra são-tomense lembrou que já há ações
concretas a avançar no terreno, como a Confederação Empresarial da CPLP ou a
União dos Exportadores da CPLP.
"Pela
própria natureza da CPLP é preciso ouvir os Estados-membros, é preciso avaliar
como é que podemos implementar essas recomendações, mas creio que é
possível", afirmou.
Maria
do Carmo Silveira assumiu como prioridade "tentar levar a CPLP aos
cidadãos", o que passa por fazer com que estes "conheçam mais e se
sintam mais envolvidos no projeto", definindo alguns grupos alvo que
pretende alcançar nesse desígnio, nomeadamente as mulheres, os estudantes ou o
empresariado.
"Gostaria
de no final dos próximos dois anos ter esses grupos alvo mais envolvidos na
CPLP".
Uma
das formas de aproximar a organização dos cidadãos, lembrou, é facilitando a
mobilidade de pessoas entre os vários Estados Membros, algo que foi alvo de uma
proposta concreta do Governo português na cimeira de Brasília, onde Lisboa
defendeu "formas específicas de autorização de residência mais célere para
cidadãos nacionais de países-membros", nomeadamente para facilitar a
mobilidade académica, estudantil e profissional.
"Há
toda uma expetativa à volta disso, há algumas dificuldades que são reais. O
primeiro-ministro de Portugal lançou uma proposta boa que deve ser estudada.
Vamos estudar ao nível do Secretariado executivo, vamos discutir com os países
e estou convencida que poderemos identificar a forma de implementar",
disse Maria do Carmo Silveira, que assume funções a 01 de janeiro.
Sobre
o objetivo de promover "a progressiva construção de uma cidadania da
CPLP", também inscrito na declaração final da Cimeira de Brasília, a
futura secretária-executiva admitiu tratar-se de uma questão "muito mais
complexa", mas afirmou haver propostas interessantes, como a do
reconhecimento dos direitos sociais de um cidadão noutro Estado-membro.
"Não
estou a ver um cidadão de São Tomé e Príncipe poder votar em Timor-Leste, mas
há aspetos que podem ser analisados".
Apenas
a segunda mulher secretária executiva da CPLP nos seus 20 anos de existência,
após a brasileira Dulce Pereira em 2000-2002, Maria do Carmo Silveira garantiu
que vai assumir funções "desprovida de qualquer complexo".
Admitiu
que ser mulher "é um fator de alguma limitação" nas sociedades dos
países de língua portuguesa, "apesar do grande avanço que já houve nesta
matéria".
"As
mulheres precisam mostrar muito mais do que os homens, há sempre mais dúvidas
relativamente à competência da mulher, por isso o trabalho é a dobrar",
afirmou a economista são-tomense, reconhecendo no entanto que a sua nomeação
"é um exemplo de que ao nível da CPLP e de são Tomé e Príncipe há
progressos (...) embora ainda haja muito a fazer".
"É
um passo importante, que eu reconheço e naturalmente vou tentar dar o meu
melhor para não defraudar as expetativas das mulheres, do meu país e da
comunidade que eu devo servir a partir deste momento".
FPA
// PJA
**Nota
TA, com Wikipédia, sobre Maria
do Carmo Trovoada Pires de Carvalho Silveira, da família Trovoada, que domina
São Tomé e Príncipe na Presidência da República, no Governo, no Parlamento, na
Justiça, no Banco Oficial do país, etc. E agora na CPLP com a sua Secretária-Geral recém eleita. Não será poder demais para uma só família?