Malaca,
Malásia, 27 dez (Lusa) - Luso-asiáticos de dez países estão a organizar-se em
bloco em resposta ao que consideram ser o esquecimento da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP), voltada para as "nações ricas", segundo
o lusodescendente Joseph Sta Maria.
Em
declarações à agência Lusa, o também representante das minorias junto da
administração de Malaca e autor do livro "Pessoas Proeminentes na
Comunidade Portuguesa em Malaca", disse que os lusodescendentes de dez
países asiáticos estão a organizar a primeira Cimeira da Comunidade dos
Portugueses Asiáticos.
O
encontro, adiantou, terá lugar em Malaca, onde reside uma das maiores
comunidades de descendentes de portugueses, por altura da festa do São Pedro,
entre "23 e 29 de junho" do próximo ano.
O
bloco terá representantes da Malásia (Malaca), Índia (Goa, Damão e Diu), Sri
Lanka, Singapura, China (Macau), Tailândia (Banguecoque), Austrália (Perth),
Indonésia (Jacarta, Ambon e Flores), Timor-Leste e Myanmar.
O
lusodescendente afirmou que o bloco poderá vir a ter "muito mais"
membros, por acreditar que ainda existem grupos de descendentes de portugueses
por identificar.
Joseph
Sta Maria, que está a liderar a iniciativa, adiantou que vai convidar para a
cimeira o primeiro-ministro português, o "mestiço" António Costa,
porque também ele é um luso-asiático com antepassados goeses.
O
mesmo responsável justificou esta decisão "rebelde" com o facto de a
CPLP "estar interessada nas nações ricas", como a Guiné Equatorial,
onde a língua oficial é o espanhol.
"Eu
não sei se eles [CPLP] sabem que nós existimos", questionou.
O
lusodescendente reconheceu que os euro-asiáticos em causa são minorias sem
força política, ou seja, não administram países e, como tal, não podem ser
incluídas como membros na CPLP.
O
representante das minorias em Malaca frisou que o facto de haver comunidades
como a sua, que "mantém a cultura portuguesa há cinco séculos e vive num
ambiente de comunidade, comunicando em português [crioulo
malaio-português]", é algo que "não tem preço".
Deu
ainda o exemplo dos portugueses negros de Tugu, que "foram levados como
escravos para a Batávia [antiga Jacarta], forçados a converterem-se ao
protestantismo e a mudarem os seus nomes para nomes holandeses" e que,
mesmo assim, "ainda se sentem orgulhosos por serem chamados de
portugueses".
"Portugal
não se sente orgulhoso disto?", questionou, considerando que o país
"tem uma responsabilidade moral" para com os seus "filhos"
espalhados pelo mundo.
Após
reconhecer que Portugal enfrenta dificuldades, o autor destacou que a
"CPLP tem nações ricas", como o Brasil.
Questionado
sobre ajudas concretas, Joseph Sta Maria deu a ideia de "montar uma aldeia
cultural dos portugueses asiáticos" na Ásia, caso "Portugal e os seus
parceiros da CPLP" estejam interessados.
Essa
aldeia de "80 a 100 hectares" totalmente portuguesa seria "um
negócio muito lucrativo para a CPLP e para organizações ricas no mundo, com as
fundações [Calouste] Gulbenkian e Oriente", prosseguiu.
O
projeto, reforçou, seria útil para disseminar a cultura e a língua portuguesas
e o catolicismo, ao atrair turistas de todo o mundo.
Os
portugueses foram responsáveis por muitos dos primeiros contactos dos europeus
com o Oriente e chegaram a administrar várias zonas na região, desde Malaca e
Timor-Leste a Macau.
ANYN
// PJA