Díli, 24 mai 2019 (Lusa) -- A
empresa aérea chinesa Air Travel e a timorense Air Timor assinaram um acordo
que permitirá voos diretos entre Díli e Hong Kong e, posteriormente, para
outros aeroportos na região, disse hoje à Lusa fonte ligada ao processo.
Tony Sum, representante da Air
Travel disse à Lusa que a empresa terá dentro de dois meses o certificado que
lhe permitirá realizar voos internacionais e que a estratégia é começar por
Timor-Leste, assumindo uma participação minoritária na Air Timor e fazendo de
Díli a sua primeira base internacional.
O representante da Air Travel
participou hoje num encontro com responsáveis da Air Timor, o
primeiro-ministro, Taur Matan Ruak, e o ex-Presidente José Ramos-Horta, que
está a acompanhar o projeto, cuja concretização depende agora de vários passos
a dar pelo Governo.
"Está feito um acordo entre
a Air Timor e a Air Travel quer permitirá um code-share entre as empresas para
que um avião fique estacionado em Díli permitindo ligações com Hong Kong e,
posteriormente, com outras cidades na região", disse Ramos-Horta.
"Acompanhei a Air Timor
porque tenho andado a tentar ajudar o país a encontrar uma solução para o atual
isolamento em que vivemos", disse o ex-chefe de Estado explicando que não
tem qualquer envolvimento no negócio.
Segundo Tony Sum, esta é
"uma parceria estratégica. Teremos um avião estacionado em Díli, com uma
equipa técnica, de serviço e de manutenção. Com o aumento do negócio passaremos
a ter um segundo avião aqui".
Trata-se de um Airbus A319 com
capacidade para "chegar a qualquer cidade num radio de 4.800 quilómetros",
explicou.
Criada em maio de 2016 como
Hongtu Airlines, renomeada Air Travel em 2018, a empresa tem como
base o Aeroporto Internacional de Kunming Changshui, na província de Yunnan.
A Air Timor, empresa de direito
timorense, tem vários anos de experiência na operação de voos entre Díli e as
cidades de Denpassar (Bali) e Singapura, com o modelo de 'wet lease' (aluguer
de aviões com tripulação, manutenção e seguros".
Tony Sum referiu que o critério
do negócio é tentar tornar as viagens áreas de e para Timor-Leste "mais
acessíveis", explicando que o preço indicativo para a ligação entre Díli e
Hong Kong, um dos principais hubs regionais, "rondará os 300
dólares".
Num recente encontro do setor do
turismo em Díli, o próprio Ramos-Horta disse que Timor-Leste vive a
"tragédia" de estar "completamente refém de companhias áreas da
Austrália e da Indonésia que atuam "com comportamento de
'gangsters'", mantendo preços desproporcionadamente elevados.
"Temos esta tragédia deste
país completamente refém deste 'gangsterismo' aéreo por parte da Garuda",
disse o ex-Presidente da República, referindo-se à empresa estatal indonésia,
proprietária das empresas Sriwijaya e Citilink, que voam para Timor-Leste.
"E continuamos reféns da
AirNorth que é um roubo às claras", afirmou, numa alusão à companhia da
Qantas que mantém um monopólio nos voos entre Timor-Leste e a Austrália, numa
das rotas mais caras do mundo.
A questão dos preços das viagens
aéreas é, atualmente, um dos maiores obstáculos ao turismo em Timor-Leste, já
de si débil, dado enfrentar outros desafios, especialmente a nível de
infraestruturas.
Desde 01 de abril o país ficou
ainda mais isolado, com o fim dos voos entre Díli e Singapura, uma de apenas
três ligações internacionais atuais, com as outras duas, para Bali na Indonésia
e para Darwin, na Austrália, a serem das mais caras do mundo, em preço por
quilómetro.
Ramos-Horta disse que "a
bola está agora totalmente do lado do Governo", afirmando que está na altura
de o executivo aceder a instrumentos internacionais necessários para poder
ampliar o setor aéreo no país.
"Se o Governo se mexer o
avião pode vir já. Um Airbus de 124 lugares, incluindo oito de business",
referiu, explicando que a empresa chinesa assumiria a maior parte do
investimento -- incluindo construir um hangar em Díli -- e que a Air Timor
"também tem fundos disponíveis".
O ex-Presidente recordou que a
Air Timor é a única empresa timorense do setor, tem funcionários formados,
incluindo para trabalho em terra e na venda de bilhetes, podendo
progressivamente, ser formados mais timorenses como pessoal de voo.
Os voos para Hong Kong poderiam
começar "muito rapidamente", sendo que para outras ligações, para a
Austrália, Indonésia e Singapura, seria necessário Timor-Leste "aceder a
vários instrumentos internacionais".
Para isso Timor-Leste poderá ter
que reforçar a sua capacidade técnica a nível do Governo, em áreas como
certificação de aviões e segurança operacional.
ASP // PJA