Numa
reação à entrevista de J.T.
Matebian, em Timor-Leste a Azancot de Meneses, publicada no jornal Tornado e
que também publicámos no Timor Agora, surgiu um comentário assinado por uma
autodenominada Senhora Justa no
título “Educação
terá que ser uma aposta forte do VII Governo de Timor-Leste!” - entrevista
que passamos a divulgar, assim como a postagem seguinte em que M. Azancot de Menezes responde e esclarece sob o seu ponto de vista o que considera relevante
acerca da educação em Timor-Leste em contraponto com a opinião de Senhora
Justa. A seguir, o referido comentário.
Senhora Justa disse...
Acabei
de ler esta entrevista. Grande preocupação!
O Dr. M. Azancot Menezes, que, supostamente, é “um dos mais respeitados especialistas em educação do país” está a aproveitar esta entrevista para fazer propaganda negativa em relação ao novo currículo do Ensino Básico em Timor-Leste. Porquê? Não sei. Talvez por questões políticas. Talvez por questões económicas privadas. Mas o que sei, com certeza, é que as suas opiniões não são fundamentadas.
O Senhor Menezes, consultor na Unidade do Currículo Nacional, e outro, são contra o novo currículo, alegando apenas que que este currículo reduz as horas de ensino da língua Portuguesa nos primeiros anos de escolaridade. Segundo ele, esta opção provoca “resultados destroçados”. Mas o mais incrível é que baseiam esta opinião nos resultados do psicólogo Jean Piaget.
Mas analisemos a realidade. Primeiro, justificar escolhas para um sistema educativo, em 2017, numa teoria de 1936, não será absurdo? E além do mais, os resultados de um programa curricular ou de outro não são bons ou maus, apenas porque uma teoria o afirma. Principalmente, uma teoria tão antiga e, francamente, desatualizada. Utilizar um psicólogo como Jean Piaget para justificar uma opinião, em 2017, especialmente num país como Timor-Leste, é ridículo. Principalmente se conhecer um pouco mais o trabalho de Jean Piaget. A sua pesquisa é, realmente, base de muitas das teorias mais modernas, precisamente pelas suas ideias sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças e pela sua teoria de que as crianças não pensam da mesma maneira que os adultos. Mas, atualmente, a maior crítica a Jean Piaget acenta no facto de ele ter utilizado um grupo socioeconómico muito pequeno nas suas investigações, nas quais incluiu os seus próprios filhos. Muitos pontos das suas teorias são, neste momento, desprovidos de sentido, pela simples razão de que não são válidos para outras culturas. Talvez as elites portuguesas queiram seguir as ideias de Jean Piaget, mas, de facto, muitos dos aspetos não são relevantes numa cultura tão diferente como a de Timor-Leste. E as suas ideias de que o meio ambiente e os adultos/professores não têm muita influência no desenvolvimento da criança são completamente contra os modos mais modernos de pensamento.
Outro grande erro na declaração do Sr. Menezes é utilizar as ideologias de Piaget para falar sobre aquisição de língua. A aquisição de uma língua ou, no caso de Timor-Leste, uma ou mais línguas é um processo complicado. Principalmente, se essas línguas forem ambas novas para a crianças, uma vez que muitas vezes não são as línguas faladas em casa. Todos os anos surgem mais e mais informações sobre a aprendizagem de uma língua. Por isso, para analisar esta questão, seria melhor ouvir aquilo que os verdadeiros especialistas em aquisição de língua, os linguistas aplicados, têm vindo a dizer mais recentemente. Em vez de, tentar manipular teorias gerais e antigas sobre o desenvolvimento cognitivo, de forma a tentar provar um ponto de vista.
15
de setembro de 2017 às 17:24