Díli,
04 jul (Lusa) - A educação, a formação e as melhorias das condições
socioecónomicas das famílias são essenciais para o êxito de qualquer campanha
de combate à violência contra as mulheres em Timor-Leste, disse hoje à Lusa o
primeiro-ministro timorense.
Rui
Araújo comentava assim, em declarações à Lusa, resultados que considerou serem
"alarmantes" de um estudo recente da Asia Foundation, que indica que
quase 60% das mulheres timorenses foram alvo de violência física ou sexual.
"Se
a família, em termos económicos, não tem condições para providenciar uma vida
melhor aos seus membros, é muito fértil a violência e, até certo ponto, as
pessoas pensam que essa violência tem razão de ser, baseando-se nas
circunstâncias difíceis que a família enfrenta", explicou, vincando:
"As pessoas sentem-se quase resignadas às circunstâncias difíceis em que
vivem. E isto não se muda de um dia par ao outro. Tem a ver com a educação o
desenvolvimento socioeconómico de toda a sociedade e das famílias em si".
Apesar
de manifestar preocupado com os dados, e de afirmar que o Governo tem vindo a
trabalhar para tentar responder ao problema, Rui Araújo, considerou que se deve
perceber o contexto em que os dados foram recolhidos e a linguagem usada.
"Não
estou a questionar a validade da metodologia, mas é preciso ver melhor o
contexto em que os dados foram recolhidos. Há uma questão muito importante, a
questão da linguagem utilizada neste tipo de pesquisas, que também faz
diferença na interpretação", disse.
Recorde-se
que, para a definição da metodologia deste estudo, a Asia Foundation trabalhou
com as autoridades e outros parceiros locais, através de uma equipa de trabalho
que incluía representantes de dois ministérios e do Departamento de
Estatísticas.
Entre
os indicadores preocupantes do estudo contam-se os dados sobre a perceção que
os timorenses têm dessa violência, já que dois terços das mulheres timorenses
consideram que devem aguentar violência dos maridos para manter a família junta
e 81% vê justificado que o companheiro lhes bata se não lhe obedecerem ou
cumprirem bem as tarefas domésticas.
A
maioria das mulheres (81%) e dos homens (79%) considera que um marido pode
bater à mulher em determinadas circunstâncias, "como quando ela lhe
desobedece, quando ela não completa satisfatoriamente o trabalho
doméstico".
"Mudar
isso é algo que só se conseguirá a médio e longo prazo. Não é uma forma de
pensar que se muda do dia para a noite. Tem a ver com a educação, com a criação
de condições para que as pessoas vivam realmente longe das circunstâncias em
que se possam tornar violentos", afirmou.
Rui
Araújo reconheceu ainda os relatos que dão conta de um número elevado de casos
de assédio sexual nas ruas, especialmente relativamente a mulheres
estrangeiras, considerando que também aqui não se conseguirá soluções
imediatas.
"A
campanha contra a violência domestica, contra a violência em geral tem vindo a
ser feita nos últimos anos. Temos que ver a forma de intensificar isso outra
vez. Mas não é de um dia para o outro que se consegue eliminar isto, esta
tendência de violência num país pós-conflito", reconheceu.
Recentemente
têm sido divulgados nas redes sociais relatos, incluindo em vídeo, de várias
mulheres estrangeiras que têm sido alvo de violência e assédio sexual nas ruas.
ASP
// ARA