Hong
Kong, China, 18 jun (Lusa) -- Hong Kong chumbou hoje o plano de reforma
política para a eleição do chefe do executivo, com apenas oito deputados
pró-governo a votarem a favor e 28 contra, incluindo os 27 da ala
pró-democrata.
A
votação ocorreu no segundo dia de debate da proposta de lei, após dez horas de
discussão no Conselho Legislativo (LegCo).
Num
gesto de surpresa, cerca de 30 deputados pró-governo abandonaram o LegCo (parlamento)
menos de um minuto antes da votação, noticia o South China Morning Post, na sua
edição 'online'.
Entre
esses deputados estavam apoiantes da Democratic Alliance for the Betterment and
Progress of Hong Kong, da Federation of Trade Unions e da Business and
Professionals Alliance.
O
presidente do LegCo, Jasper Tsang, também não votou.
Sem
o apoio da ala democrata, a rejeição do plano de reforma era esperada, uma vez
que inviabilizava a necessária maioria de dois terços entre os 70 membros do
Conselho Legislativo.
"Este
documento não obteve uma maioria de dois terços dos votos", disse Jasper
Tsang.
"Eu
anuncio que o texto foi vetado", resumiu o presidente do LegCo.
A
votação foi acompanhada em direto por imagens de televisão, num ecrã gigante
instalado no exterior do LegCo, e o resultado recebido com aplausos e vaias
pelas centenas de manifestantes de grupos rivais, separados por barreiras de
metal e sob alto dispositivo de segurança.
A
proposta de lei previa a introdução do sufrágio universal nas eleições para o
chefe do Executivo em 2017, mas só depois de uma pré-seleção de dois a três
candidatos, que ficará a cabo de um comité composto por 1.200 membros, num
processo descrito pela ala democrata como uma "triagem".
O
texto surgiu após a decisão, no final de agosto de 2014, do Comité Permanente
da Assembleia Nacional Popular sobre a reforma política, e esteve na origem de
um forte movimento de contestação, que levou à ocupação de ruas em Hong Kong durante 79
dias.
Os
protestos tiveram o seu epicentro exatamente no complexo de Tamar, que alberga
o gabinete do chefe do Executivo, o Conselho Legislativo e as principais
secretarias do governo de Hong Kong.
O
plano de reforma política proposto foi apelidado de "falsa
democracia" por deputados da oposição e ativistas.
Durante
o debate no LegCo, os pró-democratas argumentaram contra o plano eleitoral do
governo, que segundo eles, nega às pessoas de Hong Kong uma "verdadeira
escolha", apesar de, com base nas regras propostas, ser dada à população a
possibilidade de eleição do chefe do Executivo sob o princípio de "uma
pessoa, um voto".
Já
os adversários pró-Pequim argumentaram que o plano de reforma constitui um
grande passo em direção à democracia.
"Nós
não fazemos ideia sobre o que aconteceu com o resto do grupo, que de repente
tomou a decisão de abandonar a câmara", disse James Tien, do pró-governo
Partido Liberal, citado pela agência AFP.
"Decidimos
ficar e votar a favor da proposta de lei", acrescentou.
Os
cerca de 30 deputados que não votaram abandonaram o LegCo depois de verem
rejeitado um pedido de 15 minutos de suspensão.
O
deputado pró-governo Jeffrey Lam disse que tinham feito o pedido para que outro
deputado, que estava doente e ia chegar atrasado, pudesse juntar-se à votação.
Já
a deputada do Partido Democrático, Emily Lau, descreveu a saída do parlamento
como uma "farsa".
"Aquelas
pessoas que não estavam presentes na câmara parlamentar deveriam estar a apoiar
a governação de Hong Kong, mas ao vermos o seu comportamento ridículo, não
podemos deixar de sentir pena de Hong Kong", disse Emily Lau visivelmente
irritada.
Por
sua vez, o líder do Partido Cívico, Alan Leong, afirmou que a votação da
proposta de reforma política iria ficar para a história pelo facto de apenas
oito pessoas terem votado a favor.
"A
mensagem que estamos a enviar para o governo central e para o governo de Hong
Kong é a de que a população de Hong Kong não quer este pacote de falsa
democracia", afirmou.
"Não
queremos que os nossos votos sejam usados para legitimar a designação de um
chefe do Executivo apoiado por interesses velados", salientou.
Ouvido
pelo South China Mporning Post, o professor de ciência política da City
University Cheung Chor-yung considerou que o "o chumbo da reforma talvez
possa fazer os pró-democratas sentirem-se bem, mas isso não aproxima Hong Kong
da democracia". "Pequim dificilmente vai suavizar a sua
posição", afirmou.
O
professor e diretor do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de
Educação de Hong Kong, Sonny Lo, também manifestou uma opinião similar:
"Pequim encara a aprovação do plano de reforma como a pedra de toque do
grau de lealdade política da população de Hong Kong", afirmou.
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(DM) // JPS