Díli, 09 mar (Lusa) - O Governo
timorense está preocupado com a forma como é coordenado o projeto das escolas
CAFE, o maior da cooperação luso-timorense, e pelos atrasos que anualmente se
repetem na chegada dos professores, disseram à Lusa fontes do executivo.
Em causa, explicaram as fontes,
estão problemas com o projeto dos Centros de Aprendizagem e Formação Escolar
(CAFE) que "por várias vezes" foram já levantados pelas autoridades
timorenses junto do Ministério da Educação português, "sem que nada tenha sido
corrigido".
"Já por várias vezes se
falou do assunto tanto diretamente com o Ministério como com a Embaixada. Os
problemas continuam e, surpreendentemente e apesar das repetidas queixas e
problemas, nada foi feito a nível da coordenação que continua a mesma",
disse à Lusa um dirigente do Ministério da Educação timorense.
Critérios pouco claros na
avaliação dos docentes e na decisão sobre a sua renovação, bem como pouca
clareza sobre a forma como são mudados de centros de ensino - com "claro
impacto na continuidade pedagógica" - são "alguns dos problemas"
detetados.
Há ainda questões sobre
diferenças de tratamento no critério financeiro, de centro para centro e
repetidas queixas de dezenas de docentes que relataram ser vítimas de ameaças e
intimidação quando tentam denunciar os problemas que afetam o projeto, refere a
mesma fonte.
Um dos problemas que ocorre,
anualmente, tem a ver com o atraso na chegada dos docentes, devido à demora na
preparação e assinatura dos contratos e aos problemas na gestão de docentes que
trabalham com um calendário escolar que em Timor-Leste é diferente do português
- o ano escolar começa normalmente em meados de janeiro.
Como exemplo, responsáveis
ministeriais timorenses citam a situação deste ano em que os professores
voltaram a chegar a Timor-Leste com "bastante atraso", com o primeiro
grupo de cerca de 80 a chegar apenas no inicio de março, mais de um mês e meio
depois do inicio das aulas. O segundo grupo, de cerca de 40, só sai de Portugal
a 10 de março.
Ministros timorenses visitaram
esta semana dois dos CAFE, em Same e Ermera onde, dois meses após o arranque do
ano escolar, "continua a não haver professores portugueses".
A situação deste ano tornou-se
"ainda mais caricata", disse fonte timorense, porque as coordenadoras
do projeto decidiram colocar os docentes nos distritos onde estavam o ano
passado, mas explicando-lhes que em menos de um mês, na Páscoa, os iriam mudar
de distrito.
"Ou seja, os professores
chegam atrasadíssimos e depois vão para um centro um mês e são mudados. Que
tipo de continuidade pedagógica é que isso garante? Que impacto é que estas
mudanças têm nos alunos", questionou um responsável educativo timorense.
Não é a primeira vez que o
projeto, cofinanciado pelos dois países, tem sido apontado por vários problemas,
que incluem longos atrasos no pagamento de componentes salariais por parte de
Timor-Leste.
A burocracia timorense exige, por
exemplo, os contratos dos docentes para lhes pagar o seu componente de ajudas
de custo em Timor-Leste, mas os documentos chegam a demorar vários meses para
chegar de Lisboa, explica fonte do Ministério da Educação timorense.
Responsáveis educativos
timorenses queixam-se que as avaliações que são feitas ao projeto são
"parciais", com os avaliadores "direcionados para escolas e
docentes específicos" de forma a "esconder os problemas".
Referem, por exemplo, que a
coordenação central do projeto em Díli, marcou a avaliação do ano passado na
semana mais complicada para o sistema educativo timorense, quando decorriam os
exames nacionais e muitos dos responsáveis estavam ocupados com esse processo.
Instada a comentar as questões,
Lurdes Bessa, vice-ministra da Educação, escusou-se a comentar problemas
específicos, reiterando apenas o "empenho e vontade" no
"fortalecimento e expansão" deste projeto.
Bessa confirmou que o Governo tem
intenções de aumentar o número de centros CAFE e que continua "empenhado
em garantir que o projeto funciona da melhor forma possível".
Presente nas capitais dos 13
municípios timorenses, envolvendo cerca de 80 docentes estagiários de
Timor-Leste, 130 professores portugueses e mais de sete mil alunos, o projeto
das escolas de referência (CAFE) é o elemento mais importante do programa de
apoio ao ensino do português em Timor-Leste.
ASP // PJA