Díli, 04 fev (Lusa) -- Yohan
Goutt Gonçalves vai voltar a ser o único representante de Timor-Leste nos Jogos
Olímpicos de Inverno PyeongChang2018, ambicionando melhorar o registo alcançado
na estreia, em Sochi2014.
Certo é que na sexta-feira,
quando voltar a desfilar, sozinho, na cerimónia de abertura da competição, na
Coreia do Sul, a bandeira que vai transportar vai voltar a suscitar perguntas.
Primeiro, porque muitos não vão
reconhecer o símbolo de Timor-Leste e, depois, porque muitos outros vão
perguntar onde treina um esquiador de um país tropical.
"Sempre quis correr por
Timor, sempre quis fazer isso. Desde os oito anos que disse à minha mãe que
iria esquiar por Timor", contou à Lusa o esquiador, filho de pai francês e
mãe timorense, que vive atualmente em França.
"Foi um processo. O meu tio
lutou pela Fretilin no mato durante o período da ocupação indonésia. Esquiar
com a bandeira de Timor agora é mostrar que o país existe e que Timor não é só
a guerra e os problemas do passado. É também desporto, juventude e outras
coisas", explicou, numa conversa telefónica com a Lusa.
O jovem esquiador, que em
dezembro de 2017 completou 23 anos, vai participar na Coreia do Sul pela
segunda vez em Jogos Olímpicos de Inverno, quatro anos depois da estreia, na
Rússia, quando também entrou com a bandeira de Timor-Leste, sozinho, na
cerimónia de abertura.
"Nessa altura fui muito
procurado. As pessoas não conheciam a bandeira e foram pesquisar. Fui
contactado por muita gente que queria visitar Timor, até por empresários que
queriam saber mais sobre o país", recordou.
Entre os contactos com este
improvável embaixador do desporto timorense, o esquiador acabou por colaborar
com uma organização de voluntários que, no ano passou, esteve a trabalhar com a
Clínica do Bairro Pité em Díli.
Reconhecendo as complicações de
ter o apoio de uma federação, Yohan Goutt Gonçalves diz contar com familiares e
amigos, com o Comité Olímpico Internacional (COI) e com o "grande
entusiasmo de Timor e de muitos timorenses".
Em 2015, esteve dois meses em
Timor-Leste, onde quer voltar ao país este ano, quando a época terminar.
Goutt Gonçalves esteve parado
dois anos para juntar dinheiro e no final de 2016 voltou aos treinos e ao regime
intenso: esquia quase diariamente, participa em dezenas de competições
internacionais - esteve no ano passado no primeiro campeonato do mundo - e
preparou-se para PyeongChang2018.
"Na Rússia, o cenário era
difícil, mas, na estreia, consegui ficar no 'top 50'. Repetir isso seria
fantástico. Poder voltar a ver a bandeira de Timor-Leste a acabar a
corrida", frisou.
Em Sochi2014, o timorense
concluiu as duas mangas do slalom na 43.ª posição, a última entre os atletas
que concluíram a prova, dos 117 participantes, em 2.30,89 minutos, gastando
mais 49.05 segundos do que o vencedor, o austríaco Mario Matt. O 42.º
classificado, o libanês Alexandre Mohbat cumpriu as duas mangas em 2.21,79
minutos.
ASP // JP