Redação,
17 jul (Lusa) -- A maioria dos cidadãos lusófonos ouvidos pela Lusa conhece a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que cumpre hoje 20 anos, mas
idealiza mais e melhor, com a livre circulação de pessoas à cabeça.
Nos
depoimentos recolhidos pela agência Lusa em oito dos nove Estados-membros da
organização - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal,
São Tomé e Príncipe e Timor-Leste -, poucos mostraram saber da adesão da Guiné
Equatorial em 2014.
A
maioria dos entrevistados pela Lusa destacou a importância da CPLP na ligação
entre povos com história comum, mas admitiu desconhecer os Estados-membros que
a integram, omitindo frequentemente a Guiné Equatorial, incluindo, nalguns
casos, Macau e esquecendo-se, por vezes, de Timor-Leste, que aderiu em 2002.
Outra
das grandes dúvidas manifestadas está ligada aos objetivos da CPLP, sobretudo a
pouca visibilidade da organização e o pequeno ou nulo impacto prático nas
populações, destacando a necessidade de ser promovida a livre circulação de
pessoas e bens no espaço lusófono, independentemente da descontinuidade
geográfica.
Em
Luanda, António Cascais, 44 anos, técnico de telecomunicações, Francisco Neves,
relações públicas, 59 anos, Joaquim Capulende, estudante, 26 anos, e Ana Pascoal,
funcionária pública, 41 anos, todos angolanos, relevaram a pretensão da livre
circulação, lembrando as dificuldades em conhecer outro país que não o seu.
"É
tudo o que o povo deseja. Haveria mais facilidade de estarmos todos juntos e
trocarmos interesses", disse Francisco Neves, corroborado pelos restantes
angolanos ouvidos pela Lusa em Luanda, defendendo, paralelamente, que a
promoção do ensino da língua portuguesa terá de ser "mais apoiada".
Em
Moçambique, de onde é natural o atual secretário-executivo da organização,
Murade Murargy, as ideias são as mesmas, mas Paula Saranga, técnica de
informática, e Hilário Caldeira, funcionário público, pedem maior intervenção
da CPLP na resolução de problemas políticos e económicos dos Estados-membros.
"Os
países da lusofonia precisavam de uma organização que unisse as diferentes
realidades e a CPLP, felizmente, trouxe isso. Agora, é importante avaliar o
impacto da CPLP na resolução dos problemas dos países integrantes. A CPLP
precisa de ter uma posição mais ativa na resolução dos problemas",
sintetizou Hilário Caldeira.
A
CPLP também não é desconhecida em Cabo Verde e, embora seja difícil enumerar
corretamente quem pertence à organização, os cabo-verdianos ouvidos pela Lusa
insistem na questão da livre circulação, "urgente", assim como o fim
das sucessivas burocracias.
Salvador
dos Reis Borges, 72 anos, reformado, e Hilário Varela, 54 anos, comerciante,
afirmaram acreditar que a CPLP, com o tempo, trará melhorias, pois ainda há
muito caminho a percorrer.
"Não
sei muito mais sobre a CPLP, mas acho que é uma boa instituição. Pena que a
livre circulação ainda não funcionou. Não sei porque ainda não aconteceu. É
urgente. Eu não tenho problemas em circular nos países da CPLP, mas conheço
muita gente que tem problema, porque, para adquirir visto, são precisas muitas
condições", defendeu Hilário Varela.
Em
Bissau, a história repete-se, mas a importância da CPLP conferida pelos
guineenses ouvidos pela Lusa é esbatida pela ideia de que se esperava mais da
organização lusófona, que nem sequer consegue "uma integração
efetiva" entre os diferentes povos.
Com
a exceção do taxista Yaya Cassamá, que disse desconhecer o que era a CPLP, os
restantes guineenses exigem "mais esforços" de concertação política e
de "mais apoios" aos Estados-membros com problemas, como no caso da
Guiné-Bissau.
Moacir
Go e Macário Sampa, ambos estudantes, Ivone Barreto, administrativa, e João
Mendes, docente da Faculdade de Direito de Bissau, são, porém, unânimes na
necessidade de maior apoio político à Guiné-Bissau e a uma "maior
abertura" à livre circulação, afirmando compreender, no entanto, que tal
não tenha ainda acontecido.
"Entendo
as críticas que são feitas à CPLP. Não é fácil fazê-la funcionar a 100%, são
vários países em diferentes continentes. Dentro das limitações próprias de uma
organização desta natureza, a CPLP tem funcionado bem", argumentou Ivone
Barreto que, tal como Macário Sampa, defendeu mais trocas comerciais dentro dos
"nove".
Em
São Tomé e Príncipe, de uma forma geral, os são-tomenses conhecem a CPLP e
refletem idênticas preocupações e críticas, havendo, porém, quem, alegando
"não perceber muito de política", diga que a organização lusófona
"é aquilo de Portugal" e "aquela coisa da língua
portuguesa", tal como referiu António Fernandes, 56 anos, nascido em São
Tomé, uma ilha de onde nunca saiu.
Curiosa
é a impressão deixada por Diego, 11 anos: "não sei o que é. Mas sei que
falamos todos português, que foram os portugueses que ensinaram toda a
gente", disse à Lusa, apontando cinco países onde se fala a mesma língua:
"Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola. Ah! e São Tomé".
No
Brasil, a CPLP será menos conhecida. A começar pelo que significa a sigla da
organização lusófona: "algo relacionado com a cooperação de línguas
portuguesas", disse o cirurgião dentista Leomar Diniz, 50 anos.
"Tem
havido muitas reuniões entre Portugal e os países que já foram colónias
portuguesas para tentar, de alguma forma, equilibrar a língua e a gramática,
padronizar e fortalecer o conhecimento da língua portuguesa", disse Leomar
Diniz, admitindo desconhecer outras valências da CPLP.
A
contabilista Kelly Neves respondeu à Lusa que nunca ouviu falar na sigla CPLP,
tal como o estudante estagiário Andrei Júnior e a publicitária Marina Padrão, a
quem nem a designação Comunidade dos Países de Língua Portuguesa soou familiar.
O
analista de segurança Cláudio Nogueira também não identificou a sigla CPLP, mas
admitiu saber tratar-se de uma organização que congrega "todos os países
que falam a língua portuguesa", sem conseguir identificar os nove países.
Idênticas
dificuldades foram manifestadas em Díli, onde Salomão Maia, funcionário
público, 30 anos, sabe muito pouco da CPLP além do que a sigla significa e que
Timor-Leste faz parte por causa da língua portuguesa. No entanto, não sabe o
que a organização faz e muito menos conhece qualquer projeto.
Guilhermina
Soares, 29 anos, contabilista, Manuel Correia, secretário, 23 anos, e Maria
Silva, empregada de balcão, 24 anos, também sabem pouco sobre a CPLP,
afirmando, porém, ser bom que Timor-Leste pertença ao grupo.
"Ajuda
na ligação entre os países, nas áreas da política, da economia e outras. Mas
deviam explicar mais o que fazem, porque não sabemos", disse Maria Silva.
Em
Lisboa, Pedro Borges, reformado, 66 anos, Ricardo Santos, empregado bancário,
43 anos, Rita Mendes, empregada de balcão, 21 anos, Pedro Soares, desempregado,
25 anos, e Júlia Palhinhas, estudante, 18 anos, afirmaram conhecer a CPLP, mas
criticaram a "pouca visibilidade" da organização.
"Cooperação
com Países de Língua Portuguesa" foi a forma como Júlia Palhinhas
identificou a sigla da CPLP, enquanto os nomes dos Estados-membros foram
avançados corretamente por Pedro Soares, amante de futebol e da leitura de
jornais desportivos, que disse ter-se baseado nos "rankings" mensais
da FIFA, cuja tabela destaca a prestação de Portugal e de todos os restantes
países de língua portuguesa.
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