Jacarta,
17 abr (Lusa) - Os novos ministros dos Negócios Estrangeiros da Timor-Leste,
Hernâni Coelho, e da Indonésia, Retno Marsudi, consideraram hoje prioritária a
questão das fronteiras terrestres e marítimas por delimitar e que têm sido foco
de problemas.
No
primeiro encontro do recentemente empossado ministro dos Negócios Estrangeiros
e da Cooperação de Timor-Leste com a sua homóloga indonésia, no cargo desde
outubro, em Jacarta, os dois governantes acordaram em fazer da definição das
fronteiras uma das prioridades na agenda de 2015 e 2016.
"Neste
momento, há uma grande vontade de ambas as partes no sentido de encontrar uma
resolução para os dois por cento [de fronteira terrestre] que ainda estão por
resolver", disse Hernâni Coelho, em declarações à agência Lusa.
O
ministro escusou-se, contudo, a avançar um prazo para a resolução da questão,
defendendo que é necessário "trabalhar muito mais cautelosamente"
para encontrar uma "solução sustentável" que não resulte em
"problemas no futuro".
O
chefe da diplomacia timorense explicou que há "algumas interpretações que
devem ser clarificadas a nível técnico, social e político" e preferiu
destacar que em "menos de dez anos" Timor-Leste e a Indonésia
concluíram "98 por cento da linha da delimitação das fronteiras".
Para
já, no próximo mês, haverá um encontro da comissão que trata dos assuntos
fronteiriços para resolver assuntos pendentes, adiantou.
Além
das fronteiras terrestres e dos seus problemas inerentes, como o controlo do
tráfico de droga, a imigração ilegal e o crime organizado, Timor-Leste espera
definir as suas fronteiras marítimas por completo num futuro próximo.
A
delimitação do mar timorense é uma questão central na defesa dos recursos
naturais do país e tem sido responsável por problemas diplomáticos com a
Austrália.
Na
Conferência Ásia-África, que terá lugar na próxima semana em Jacarta,
Timor-Leste espera partilhar a sua experiência na gestão das fronteiras
marítimas e dos recursos do mar e também aprender com a dos outros países
participantes.
Os
dois governantes acordaram ainda a realização de uma reunião da Comissão
Ministerial Conjunta, que trata da cooperação bilateral em várias áreas, desde
a economia à política e à cultura, "entre agosto e outubro" em
Timor-Leste.
A
última vez que a comissão reuniu foi em 2011, pelo que, para o governante, é
hora de avaliar o que foi feito e decidir "novas aproximações para o
futuro".
Na
reunião de hoje, Hernâni Coelho e Retno Marsudi falaram ainda sobre os
"trabalhos que devem ser feitos para complementar o processo" de
adesão de Timor-Leste à Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
Timor-Leste
apresentou a candidatura oficial à ASEAN em 2011, durante a presidência
indonésia da organização, mas Singapura tem mostrado reservas, estando o país
atualmente a ser analisado à luz de três pilares: económico, político e de
segurança e sociocultural.
Os
dois ministros falaram igualmente sobre o envolvimento de Timor-Leste em outras
plataformas regionais, como a Reunião Euro-Asiática, e das oportunidades para a
Indonésia e para a toda a região do Sudeste Asiático na Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP).
"Por
exemplo, em 2014 foi determinada a criação de um grupo de trabalho para sondar
a possibilidade da criação de um consórcio na área da energia. Esse consórcio
estará imediatamente relacionado com os interesses da Indonésia e mesmo da
própria região onde estamos inseridos", exemplificou.
O
anterior ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, Marty Natalegawa,
disse em agosto, em declarações à Lusa, que o país vai formalizar o pedido de
estatuto de observador associado da CPLP durante a presidência de Timor-Leste,
que teve início a 23 de julho e que durará dois anos.
Timor-Leste
tem cooperado com o país vizinho em várias áreas, como educação, segurança,
desenvolvimento regional e pescas, sendo que boa parte dos produtos disponíveis
na antiga colónia portuguesa partem do mercado indonésio.
AYN
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