Remexio, Timor-Leste, 21 abr
(Lusa) - A união dos três partidos da oposição em Timor-Leste "não foi
fácil", mas agora há "um único objetivo", o de vencer as
eleições antecipadas de 12 de maio, disse à agência Lusa o número dois da coligação,
Taur Matan Ruak.
"Não foi fácil este
percurso, mas estamos muito determinados e temos um único objetivo: ganhar as
eleições, formar o VIII Governo", disse em entrevista à Lusa o número dois
da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP).
Presidente do Partido Libertação
Popular (PLP), Matan Ruak juntou-se ao Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, e ao Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor
Oan (KHUNTO), de José Naimori.
Os três - Xanana e Matan Ruak, em
camuflado da resistência, Naimori, em vestes tradicionais - dão cor à imagem de
uma coligação que nasce maioritária, na oposição, no parlamento, mas com
partidos que, há menos de um ano, tinham posturas muito diferentes sobre o
futuro do país.
Evidenciadas em choques intensos
entre Taur Matan Ruak - que chegou a comparar Xanana Gusmão a Suharto - e
Xanana Gusmão que respondeu devolvendo uma medalha com que tinha sido agraciado
pela Presidência.
Depois de vários anos de grande
aproximação entre Xanana Gusmão e Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin -
o partido que viabilizou o Governo minoritário do CNRT nos últimos anos, e que
agora lidera um executivo minoritário com o PD - a situação inverteu-se. Xanana
Gusmão está com Taur.
"Nós temos uma relação
emocional, apesar das diferenças. E não é só de agora. Mas o respeito, o amor,
o carinho entre nós é inseparável. Isso foi uma das grandes razões para ganhar
a guerra [contra a ocupação indonésia], porque de outra forma teríamos partido
o país", explica.
"Estamos determinados em
ganhar. 80% dos que estão agora neste campo são jovens, mas cada vez que
falamos da luta - muitos deles nem sequer participaram -, eles identificam-se.
Isto é incrível", explica.
Desde o início da campanha,
Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak aparecem juntos em palco, visando diretamente a
Fretilin e Mari Alkatiri nas suas críticas.
Taur Matan Ruak diz que as coisas
"têm as suas nuances" e explica que é a primeira vez que houve esta
"troca" de críticas, insistindo que é da parte da AMP uma resposta a
posturas da Fretilin.
"Pelo facto da Fretilin ter
negado pura e simplesmente o nosso esforço. Quando eu era Presidente, a
Fretilin dizia que nós não éramos raízes, quem era raiz eram eles. Coisa que
não aceitamos. Na verdade, estava a deturpar um bocadinho a historia, sobretudo
minimizar a contribuição das pessoas", disse.
"O que nós fizemos na
primeira fase foi sacudir um bocadinho a sociedade, dizer de onde viemos, onde
estamos e para onde queremos ir. Segundo focar no que queremos fazer nos
próximos cinco anos", explica.
E conciliar as diferenças
programáticas profundas entre CNRT e PLP, diz, "não foi difícil".
"Porque eu não era contra os
grandes projetos. Nunca disse que não queria os megaprojetos. A minha pergunta
é porque é que temos dinheiro para os megaprojetos, e não temos dinheiro para a
água, para as escolas, para as estradas rurais", afirmou.
"Aliás, vetei o orçamento,
insistindo para que o Governo aumentasse o orçamento da educação, agricultura,
saúde, desenvolvimento rural, essas áreas primárias. Precisamos combinar o imediato,
o médio e o longo prazo" explicou.
É esse, disse, o objetivo da AMP
- avançar no que tem sido feito de bom, mas responder às necessidades básicas
da população.
O escrever da História, diz, deve
ser deixado para os historiadores: "Nós vamos tentar reajustar algumas coisas,
mas o resto fica para os historiadores".
A campanha decorre até 09 de
maio.
ASP // MAG