O
papa Francisco afirmou que prefere esperar para ver o que faz o recém-empossado
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, antes de formar uma opinião sobre
ele e de o julgar.
"Não
gosto de antecipar-me aos acontecimentos. Vamos ver o que [Donald Trump]
faz", sublinhou o líder da Igreja Católica, pedindo prudência, numa
entrevista ao El País.
"É
preciso ver o que faz. Não podemos ser profetas de calamidades", afirmou o
papa Francisco, que concedeu a entrevista ao jornal espanhol no Vaticano na
passada sexta-feira à mesma hora que Donald Trump prestava juramento em
Washington como Presidente dos Estados Unidos.
Questionado
sobre a ascensão ao poder de líderes populistas nos Estados Unidos e na Europa
e sobre a crise dos refugiados no velho continente, o papa Francisco advertiu
para o perigo de procurar salvadores em tempos de crise.
"O
discernimento não funciona em tempos de crise -- isso é uma referência
constante para mim. Procuramos um salvador que nos devolva a identidade e
defendemo-nos com muros, com arames farpados, com o que for, dos outros povos
que nos podem roubar a identidade e isso é muito grave. Por isso, procuro
sempre dizer: dialoguem entre vocês, dialoguem entre vocês", sustentou.
Neste
sentido, deu um exemplo, a seu ver, paradigmático: "O caso da Alemanha em
1933 é típico. Havia um povo que estava em crise, em busca da sua identidade e
apareceu este líder carismático [Adolf Hitler] que prometeu dar-lhes uma.
Deu-lhes uma identidade distorcida e depois já sabemos o que aconteceu".
"As
fronteiras podem ser controladas? Sim, cada país tem direito de controlar as
suas fronteiras, quem entra e quem sai. Os países que correm perigo -- de
terrorismo ou outras coisas do género -- têm ainda mais direito de as
controlar, mas nenhum país tem o direito de privar os seus cidadãos do diálogo
com os seus vizinhos", defendeu.
Jorge
Bergoglio, de 80 anos, afirmou ainda que "na Igreja há santos e pecadores,
decentes e corruptos", observando que o que mais o preocupa é "uma
Igreja anestesiada pela mundanidade", afastada dos problemas do povo.
O
papa Francisco reiterou ainda que gostaria de ir à China, uma visita a cumprir
"quando for convidado". "Eles é que sabem", disse na
entrevista ao El Pais.
O
pontífice garantiu existir "muito diálogo", havendo "uma
comissão que trabalha há anos com a China e se reúne de três em três meses --
ora no Vaticano ora em Pequim".
"A
China tem sempre essa aura de mistério que é fascinante. Há dois ou três meses,
com a exposição do museu vaticano em Pequim, eles estavam contentes. Eles
também vêm cá, ao Vaticano, com as suas coisas, os seus museus", disse o
papa Francisco.
"As
igrejas estão cheias. Pode-se praticar a religião [católica] na China",
afirmou.
DM
// DM – Lusa