Pante
Macassar, Timor-Leste, 15 jul (Lusa) - O secretário-geral da Fretilin, Mari
Alkatiri, chegou hoje num cavalo castanho, rodeado de centenas de pessoas, ao
campo de futebol da capital do enclave timorense de Oecusse, onde uma multidão
o recebeu em apoteose, num comício do partido.
A
uma semana nas eleições legislativas, de 22 de julho, o antigo
primeiro-ministro timorense reconhece que a sua imagem, que antes transmitia
austeridade, é hoje uma surpresa para as multidões que o partido tem vindo a
reunir.
"As
pessoas não esperavam. Tinham em mim a pessoa de confrontação, quase de
conflito, antipático. Mas não. Agora, liberto de tudo, sou aquilo que sou e sei
que tenho aos ombros a responsabilidade de representar os que começaram tudo
isto comigo e agora já não estão vivos. Sinto que os represento assim",
disse hoje, em entrevista à Lusa.
No
palco, discursa, interage com velhos e novos que ali estão e dança, fazendo
vibrar os apoiantes que vieram de todo o enclave.
Desde
o inicio da manhã que, um pouco por toda a zona de Pante Macassar, se viam
passar camionetas amarelas, motas e carros, carregados de apoiantes do partido.
No
comício unem-se o moderno e o antigo, com jovens de telemóvel na mão a registar
o momento, enquanto katuas, velhos líderes tradicionais, vestidos com tais,
passeiam a cavalo entre os veículos.
Um
desses katuas entrega o bikase, cavalo em baikeno (a língua regional), a Mari
Alkatiri, que depois percorre o curto percurso entre a sua casa e o comício.
No
campo de futebol, um animador e um conjunto no palco põem todos a dançar. A
pouco e pouco, Alkatiri consegue chegar à tribuna de honra onde, depois do hino
timorense e da Fretilin, o candidato conduz um minuto de silêncio.
Na
esquina do segundo andar de um hotel próximo, em posição privilegiada,
observadores da União Europeia (UE), munidos até com um par de binóculos,
acompanham a movimentação no campo e os discursos no palco principal.
Em
redor, onde há sombra, muitos amontoam-se, ainda que a grande festa se faça, no
meio de muitas bandeiras, no terreno em frente ao palco e à tribuna de honra
onde Alkatiri está acompanhado de vários líderes nacionais e regionais do
partido.
A
Fretilin, considerada o partido com a melhor estrutura em Timor-Leste, tem um
'posto de campanha' em cada posto administrativo com representações ainda em
cada suco e em cada aldeia.
Hoje,
os primeiros a subir ao palco são os representantes dos postos administrativos
de Oecusse, antes de Cipriana Pereira, secretária adjunta da Fretilin, pedir o
voto no partido: "a 22 vota no 21", o número que o partido ocupa no
boletim de voto.
Alkatiri
sobe ao palco, onde dança com um grupo de mulheres e homens.
Mari
Alkatiri tem, em Oecusse, algo a provar: governa enquanto presidente a Região
Autónoma Especial (RAEOA) e o projeto tem sido um dos mais polémicos do Estado
timorense nos últimos anos.
Há
quem o apoie e muitos que o criticam, apesar de se notar no terreno o muito que
mudou, em termos de infraestruturas básicas, e de os habitantes dizerem, por
exemplo, que há trabalho como nunca.
No
entanto, o presidente do partido e hoje chefe de Estado, Francisco Guterres
Lu-Olo, perdeu em Oecusse nas presidenciais de 20 de março, apesar de apoiado
pela Fretilin e pelo CNRT.
Hoje,
no arranque do seu discurso, Alkatiri refere-se a uma "traição" a
Xanana e a Lu-Olo nas presidenciais e depois acrescenta: "enquanto for
vivo não tolerarei traições a Lu-Olo e Xanana".
Em
entrevista à Lusa, explica que o que aconteceu nas presidenciais em Ocusse foi
que "todos os partidos votaram contra a Fretilin" e, por isso, os
votos que Lu-Olo teve "foram os votos da Fretilin".
"E
visto assim nós ganhámos. Um partido sozinho teve quase o mesmo número de votos
que todos os outros juntos. Isso abre boas perspetivas para as
legislativas", afirmou.
"Temos
trabalhado bastante desde as presidenciais, temos o pulso bem controlado e
sabemos que, de uma forma ou outra, vamos ganhar em Oecusse", considerou
ainda.
O
teste decorre entre as 07:00 e as 15:00, hora local, do próximo sábado.
ASP
// FPA