Hong
Kong, China, 05 jan (Lusa) -- Um dos cinco livreiros de Hong Kong desaparecidos
tem cidadania britânica, confirmou hoje, em comunicado, o Ministério dos
Negócios Estrangeiros britânico, manifestando-se "profundamente
preocupado" com o seu paradeiro.
O
caso desencadeou uma onda de indignação na antiga colónia britânica, que
incluiu um protesto no domingo junto ao Gabinete da Ligação da China, em face
da suspeita de que os desaparecimentos dos livreiros que trabalham na Causeway
Books ou na casa editora associada, a Mighty Current, que publica obras banidas
na China, tiveram a 'mão' de Pequim.
No
comunicado da diplomacia britânica não se especifica qual dos cinco homens
desaparecidos é britânico, mas acredita-se que seja Lee Bo, de 65 anos, o
livreiro desaparecido mais recentemente.
"Estamos
profundamente preocupados com as informações acerca do desaparecimento e
detenção de indivíduos associados à livraria Causeway Bay Books em Hong
Kong", refere-se no comunicado.
"Podemos
confirmar que um dos indivíduos é um cidadão britânico e pedimos urgentemente a
assistência das autoridades de Hong Kong e do interior da China em averiguar o
bem-estar e paradeiro deste indivíduo", indicou a diplomacia britânica que
instou o governo de Hong Kong a "honrar o seu compromisso" para com a
liberdade de imprensa.
Acrescenta
ainda que espera que as autoridades da China "continuem a fazer todos os
esforços" para garantir o ambiente em que os 'media' e as casas editoras
operam em Hong Kong.
O
comunicado foi emitido pelo chefe da diplomacia britânica, Philip Hammond, em
Pequim, onde se encontra de visita oficial de dois dias.
O
caso de Lee Boo, de 65 anos, visto pela última vez na quarta-feira, não é o
único em Hong Kong, mas tem tido maior atenção mediática, em particular hoje
quando se ficou a saber que a sua mulher retirou a participação do
desaparecimento que tinha apresentado junto da polícia, o que veio levantar
ainda mais questões, na opinião de deputados da ala democrata.
A
mulher de Lee Bo veio garantir que o fez depois de o marido ter entrado em
contacto com um amigo, enviando uma carta por fax, escrita à mão, a um dos seus
colegas da Causeway Books.
Na
carta, datada de domingo, escreve que foi à China "pelo seu próprio método
" e que atualmente está a trabalhar numa investigação que "pode levar
tempo", e que teve de gerir o assunto de forma "urgente" para
evitar que desconhecidos tomassem conhecimento.
Além
disso, assegura que está bem e que "tudo decorre com normalidade",
pedindo aos funcionários da Causeway Books que continuem a operar a livraria
normalmente.
A
carta surgiu depois de a mulher ter declarado que o marido lhe telefonou no dia
em que desapareceu, a partir da cidade vizinha de Shenzhen, para lhe dizer que
estava a colaborar numa investigação relacionada com os outros
desaparecimentos, falando em mandarim, em vez de em cantonês, língua falada em
Hong Kong.
A
polícia confirmou hoje que a mulher de Lee Bo retirou a queixa, num gesto que a
Amnistia diz apontar para intimidação.
A
estes confusos factos, juntam-se as declarações do deputado democrata e advogado
dos direitos humanos Albert Ho, segundo o qual estava em preparação um livro
sobre a vida amorosa do Presidente chinês, Xi Jinping, em particular sobre uma
namorada antiga, o que relacionou com os desaparecimentos.
O
Presidente chinês tem levado a cabo uma intensa campanha anticorrupção para
punir o alegado hedonismo no seio do Partido Comunista, o que inclui o que são
considerados excessos na vida sentimental dos membros do partido, alguns
publicados nas obras que a livraria Causeway Books e que estão proibidas na
China, pelo que são populares entre muitos turistas que visitam Hong Kong.
Os
outros desaparecidos, além de Lee Bo, são o editor com passaporte sueco Gui
Minhai (desaparecido numa viagem à Tailândia), o gerente geral do
estabelecimento Lu Bo, o principal gestor do negócio, Lin Rongji, e um
funcionário, Zhang Zhiping.
Antiga
colónia britânica, Hong Kong foi devolvida à República Popular da China em
1997, sob a fórmula "um país, dois sistemas", que promete manter os
sistemas sociais e económicos da cidade durante 50 anos, detendo o estatuto de
Região Administrativa Especial.
DM
// APN