Porto,
10 out (Lusa) -- O bispo católico timorense Ximenes Belo reconheceu que, desde
que recebeu o Prémio Nobel da Paz, juntamente com José Ramos-Horta, faz 20 anos
na terça-feira, Timor-Leste viveu "altos e baixos".
Em
declarações à Lusa, via telefone, a partir do Porto, onde vive, Ximenes Belo
considerou que é preciso "aprofundar mais o conceito de
desenvolvimento" e avaliar "os resultados da independência e da
autêntica paz" em Timor-Leste.
Passadas
duas décadas da atribuição do Nobel da Paz aos dois porta-vozes da resistência
de Timor-Leste -- quando ainda faltavam seis anos para a efetiva independência
do país ocupado pela Indonésia --, "não foi" [tudo um mar de
rosas]", reconheceu o bispo.
"Ainda
há conflitos, [...] ideológicos e entre as pessoas, sobretudo a nível da
justiça" e é preciso melhorar o desenvolvimento, a "distribuição
equitativa" e o "respeito pelos bens do país", considerou.
"Se
há corrupção, se há desvios, naturalmente não podemos ter paz autêntica",
sustentou o bispo, que recebeu o Nobel da Paz a 11 de outubro de 1996, vincando
que Timor-Leste tem de "fazer o seu caminho, desenvolver-se" e
"trabalhar, arregaçar as mangas, para desenvolver o país".
Por
outro lado, a comunidade internacional "tem apoiado" Timor-Leste,
"mas apoia mais quando há problemas, conflitos", lamentou o bispo.
"Quando não há conflitos, parece que está tudo calado. É preciso ajudar
tanto nos conflitos, como nos momentos da paz", defendeu.
Nesse
contexto, Ximenes Belo congratulou-se com a provável eleição de António
Guterres para secretário-geral das Nações Unidas -- que deverá ser confirmada
pela Assembleia Geral na quinta-feira --, recordando-o como o governante
português que "deu um pontapé forte para resolver o problema de Timor-Leste".
O
bispo timorense acredita que Guterres fará "melhor serviço às
pessoas", até porque "conhece os problemas por dentro", dada a
experiência à frente do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Ximenes
Belo espera que Guterres se dedique a "resolver os problemas dos
refugiados e, ao mesmo tempo, trabalhar pela paz e pela concórdia
internacionais".
Sem
entrar em apreciações da atual imagem do Vaticano, Ximenes Belo reconheceu que
Francisco é "um papa próximo das pessoas", mas considerou que isso
não chega.
"Cada
papa tem a sua missão, tem a sua característica. A Igreja continua a andar para
a frente com o papa A ou com o papa B. A igreja adapta-se, agora, depende de
todos os cristãos do mundo inteiro, não é só do papa", sublinhou.
Timor-Leste
está a assinalar com vários eventos o 20.º aniversário da atribuição do Prémio
Nobel da Paz a José Ramos-Horta e Ximenes Belo, mas o bispo não viajou até ao
país, por questões de saúde.
Ximenes
Belo resignou à diocese de Díli, capital timorense, em 2002, instalando-se numa
casa da congregação dos Salesianos, no Porto, onde ainda vive. Aos 68 anos,
tem-se dedicado à investigação e à escrita. Dentro de dias, vai lançar um livro
sobre Carlos da Rocha Pereira, sacerdote açoriano que viveu em Timor-Leste durante
50 anos.
SBR
(ASP) // VM