Díli,
27 fev (Lusa) - O ex-primeiro-ministro timorense, Mari Alkatiri, disse hoje que
sempre atuou e continuará a atuar com ousadia e coragem, lamentando ter sido
comparado pelo chefe de Estado ao ditador indonésio Suharto.
"Fui
muito criticado, de abuso de poder, de um ditador que se compara com o Suharto.
É uma pena", afirmou o atual responsável da Zona Especial de Economia
Social de Mercado (ZEESM) de Oecusse e Ataúro.
"A
verdade é que a minha preocupação, a preocupação do Estado, é a estabilidade
social e económica da população nesta fase de desenvolvimento, quando queremos
sair de uma mentalidade de economia de autossubsistência para uma de
mercado", considerou.
Alkatiri
comentava assim, para uma plateia de empresários lusófonos reunidos em Díli, o
discurso que o Presidente da República, Taur Matan Ruak, proferiu na
quinta-feira no Parlamento Nacional, sem nunca o mencionar diretamente.
O
chefe de Estado comparou os benefícios que dirigentes do país têm dado a
"familiares e amigos" com práticas do ex-ditador indonésio Suharto.
"Desde
2013, Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Lu-olo [Francisco Guterres, presidente da
Fretilin] usam a unanimidade para quê? Não usam a unanimidade e o entendimento
para resolver todos os assuntos que há por resolver. Usam-na para poder e
privilégio", disse ainda o chefe de Estado.
Mari
Alkatiri falava numa conferência organizada no âmbito do 1.º Fórum Económico
Global da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que termina hoje,
com a aprovação de uma declaração final e a assinatura de vários protocolos.
O
também secretário-geral da Fretilin disse que Timor-Leste tem mostrado nos
últimos anos "ousadia, coragem e, acima de tudo, vontade de mudar
paradigmas", procurando ser "um interveniente na área política e,
agora, na área económica".
Com
uma intervenção marcada por referências à crise política em Timor-Leste, Mari
Alkatiri disse que tem trabalhado com os seus "cúmplices" para tentar
liderar uma mudança de paradigma no país.
"Coube-me
a mim neste país a ousadia de tentar fazer isso e por isso receber dos meus
cúmplices, daqueles que são meus cúmplices - fala-se muito de cúmplices em
Timor agora -, a responsabilidade de o fazer", disse.
"Cumplicidade
no que poderá ser bom para o país e para o nosso povo. Porque não?",
questionou, dando conta das dificuldades de concretizar esse objetivo num país
"onde a visão do desenvolvimento ainda é baseada em conceitos que se transformaram
em preconceitos" e onde alterar "os velhos paradigmas não é muito
fácil".
Numa
referência a Taur Matan Ruak - que desde que assumiu a Presidência tem visitado
praticamente todos os 'sucos' (freguesias) do país - Alkatiri diz que é difícil
"conseguir convencer outros", "especialmente num país em que o
desenvolvimento é medido à medida das visitas aos sucos", deixando ainda
recados sobre o que diz ser o "novo 'riquismo' do país".
"Somos
um país de novos-ricos mas pensamos como pobres, não sabemos usar os nossos
recursos para gerar mais riquezas, pensamos no dia-a-dia do consumismo, à
maneira do novo 'riquismo'. E é esse um dos obstáculos ao
desenvolvimento", afirmou.
Sobre
os planos para Oecusse, explicou que está a ser concluído, com uma equipa da
Universidade Nova de Lisboa, o plano de ordenamento do enclave, a que se
seguirá o plano de desenvolvimento do território, assente em três pilares:
turismo, agroindústria e o setor financeiro, "uma praça financeira
ética", explicou.
Alkatiri
explicou que os estudos preliminares apontam que daqui a dez anos Oecusse
poderá contribuir com 8% do PIB agrícola nacional (ou cerca de 35 milhões de
dólares), com o emprego a alcançar 40% da população e a pobreza a cair de 60
para 20 por cento.
O
turismo, antecipou, poderá ter um contributo anual de 25 milhões de dólares,
com cerca de 40 mil visitantes por ano.
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